É o senhor Géronte que, instado pelo criado Scapin, de “Les Fourberies de Scapin” de Molière, a entregar ao criado Scapin quinhentos escudos e com eles resgatar o filho de Géronte – Léandre – sob o falso pretexto de que este se achava prisioneiro numa galera turca, o que se verificaria ser redonda impostura do patife do criado, para extorquir, por meio de uma das suas hábeis velhacarias, essa soma, não para si, é certo, mas para o seu amo Léandre, (que nesse tempo os criados franceses eram coniventes com os amos jovens) e, ao que parece, e isso, sim, era verdadeiro, necessários para comprar a amada de Léandre – Zerbinette - a uma família de ciganos com quem esta vivia, dando-se o caso, mais tarde, de se vir a saber que Zerbinette de cigana nada tinha e até viria a ser, graças a uma pulseira reveladora, que crescera com a menina furtada aos quatro anos pelos ladrões dos ciganões, viria a ser descoberta como filha de Argante, o amigo de Géronte, (que até viajavam juntos), e pai de Octave, amigo de Léandre e apaixonado pela irmã deste, Hyacinthe, boa menina, com quem casara recentemente, sem conhecimento do pai Argante, também esburgado por Scapin, para poderem pisgar-se das iras daquele, e que se descobrira finalmente ser filha de Géronte e mana de Léandre… Ora, pois, Géronte, avarento como é, repudia, com todas as veras da sua alma indignada, a imposição de Scapin de lhe subtrair os quinhentos escudos, a cada passo juntando aos seus argumentos de repúdio a frase, em leitmotiv nervoso: “Mas que diabo ia ele fazer naquela galera?”, se bem que eu julgue que se fosse para safar o filho da forca ele não teria hesitado tanto.
Vem esta história da galera turca a servir de modelo alegórico ao nosso caso específico: Nós somos o Géronte avaro, agarrados aos trocos (puro pó), que, instado por um velhaco Scapin, a cada passo nos apontando o caminho do sequestro na galera do Turco fraudulento, respondemos com igual repúdio às imposições do nosso Scapin, tentando impedir o esbanjar do nosso dinheirinho, não, é certo, para salvar um qualquer Leandro apaixonado, mas todo um país embarcado na galera turca – europeia, mais actualizadamente – segundo o parecer do tal velhaco.
Não, não queremos ir na conversa. Mas, tal como o Géronte, seremos sovados pelo Scapin, num outro dos seus múltipos truques enganadores, e perderemos os dinheiritos - à força também, claro.
Sem conseguir nunca compreender o que diabo anda o país a fazer na tal galera.
Vem esta história da galera turca a servir de modelo alegórico ao nosso caso específico: Nós somos o Géronte avaro, agarrados aos trocos (puro pó), que, instado por um velhaco Scapin, a cada passo nos apontando o caminho do sequestro na galera do Turco fraudulento, respondemos com igual repúdio às imposições do nosso Scapin, tentando impedir o esbanjar do nosso dinheirinho, não, é certo, para salvar um qualquer Leandro apaixonado, mas todo um país embarcado na galera turca – europeia, mais actualizadamente – segundo o parecer do tal velhaco.
Não, não queremos ir na conversa. Mas, tal como o Géronte, seremos sovados pelo Scapin, num outro dos seus múltipos truques enganadores, e perderemos os dinheiritos - à força também, claro.
Sem conseguir nunca compreender o que diabo anda o país a fazer na tal galera.
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