Mostrei à minha amiga um excerto de um livro antigo – “Os Grandes Processos da História” de Henri Robert (1º volume) – sobre o “Processo de Nicolau Foucquet”, superintendente das finanças do jovem Luís XIV, condenado por peculato numa administração que o tornaria um ricaço feito mecenas numa vida de ostentação, por abuso dos seus poderes de superintendente, durante a menoridade daquele rei.
Num discurso claro e de amplo conceito sobre as molas que regem os comportamentos humanos, Henri Robert vai analisando, com o rigor da investigação histórica e a sensibilidade do intérprete humanista, os labirintos em que se movem as ambições que fizeram despenhar esplendores na perversidade cruel de castigos nem sempre regidos por uma justiça de impecabilidade.
Entretanto, nesse descritivo biográfico sobre Nicolau Foucquet, uns excertos existem que me pareceram do nosso conhecimento, tanto antigo como recente, e por isso os mostrei à minha amiga, com o prazer de uma descoberta, não só de parelelismo de actuação abonatória do nosso tão geralmente acusado antigo Presidente do Conselho de Ministros, como ilibatória dos nossos desmandos governativos de trinta e pico anos a esta parte.
Eis o excerto abonatório, que a minha amiga imediatamente equiparou a quem de direito:
“Estava-se longe dos tempos felizes em que o bom rei Henrique IV e o seu ministro Sully administravam as Finanças da França com tanta sabedoria e economia que, com um orçamento anual de menos de oitenta milhões, achavam ainda meios de fazer anualmente, em média, setecentos mil francos de economia, e de constituir assim um fundo de reserva de mais de cinco milhões.”
Eis o excerto ilibatório da governação dos últimos anos de “gaspillage”, em denominação erudita, e ilibatório porque nos revela antecedentes ilustres das nossas sensaborias esbanjadoras, a que falta o esplendor das gaulesas:
“Havia muito tempo, infelizmente, que esse fundo de reserva fora dissipado.
Já não se vivia senão de expedientes, da mão para a boca, e a desorganização das finanças facilitava todos os abusos.
Mazarino, hábil político, não era, rigorosamente, um ministro económico.
Não se preocupava com questões de dinheiro, mas precisava dele constantemente.
Era um sorvedouro, cujas imperiosas exigências nem toda a actividade do superintendente Foucquet bastava para satisfazer, conquanto este já tivesse tido que lançar mão adiantadamente dos anos vindouros.
Os impostos, naquela época, eram geralmente arrendados, isto é, cobrados por arrendatários que obtinham esse direito em concorrência pública, mediante uma prestação anual que se comprometiam a pagar ao Estado.
Quanto aos empréstimos, não se faziam, como hoje, sob a forma de subscrições públicas; eram, embora às vezes consideráveis, concedidos ao rei ou ao superintendente pelos financistas opulentos da época, por prazo mais ou menos longo, e a taxas de juros em geral bastante elevadas.
O superintendente encarregado das receitas estava, pois, em constante contacto com os capitalistas ….”
Concordámos nas analogias, informei que o processo em que Foucquet esteve implicado, devido à sanha de Luís XIV manobrada subtil e sinistramente pela de Richelieu, durara três anos e acabara com condenação, ao contrário dos nossos processos que são prolongados sine die, sem condenação nos casos mais poderosos, embora, muitas vezes, com meios igualmente ilícitos de os solucionar.
Mas a minha amiga passou aos nossos tempos de agora, no que concerne uma juventude que frequenta cursos superiores e sai com diploma e se emprega no que aparecer, numa escalada de procura de emprego facilitada pelos meios informáticos, é certo, mas perfeitamente anedótica no que estabelece como desvalorização humana e dos próprios cursos superiores ou mesmo intermédios.
- Realmente – concordei – no nosso tempo os cursos superiores eram em menor número mas convincentes, e agora ninguém sabe muito bem com o que contar, traduzindo-se tudo isso numa baralhação de propostas de cursos que pouco terão de verdadeiramente científicos, com estágios pelo meio, talvez úteis, mas proporcionando aos estudantes poucas horas de um estudo autêntico, que um curso superior forçosamente deve implicar. Mas sabia-se, ao concluir um curso superior, que mais cedo ou mais tarde, ele nos catapultaria aos empregos adequados a cada formação e hoje em dia tal não sucede.
E a minha amiga concluiu:
- Mas os próprios jovens já dizem que antes isto, de conseguirem um empregozito reles mais ou menos explorado pelos patrões capitalistas, do que andarem por aí à deriva. Não sei como estes jovens podem encarar isto. Saem das universidades quantidades enormes de jovens formados. Mas mercado de trabalho não existe, não há emprego para ninguém.
E a minha amiga concluiu, na tristeza do dia chuvoso:
- Agora o formado tem o diploma na mão e continua ao balcão.
- Sim, é o resultado das más políticas. Os franceses sempre se ergueram dos descalabros, assim como todos esses povos que apostaram na formação. Mas a nossa formação com as novas oportunidades e quejandos soa muitas vezes, actualmente, a fraude. Não, não podemos “crer em nós”. “Seremos sempre os que tínhamos qualidades, os que esperámos que nos abrissem a porta junto de uma parede sem porta”… “Seremos para sempre os da mansarda...”
Num discurso claro e de amplo conceito sobre as molas que regem os comportamentos humanos, Henri Robert vai analisando, com o rigor da investigação histórica e a sensibilidade do intérprete humanista, os labirintos em que se movem as ambições que fizeram despenhar esplendores na perversidade cruel de castigos nem sempre regidos por uma justiça de impecabilidade.
Entretanto, nesse descritivo biográfico sobre Nicolau Foucquet, uns excertos existem que me pareceram do nosso conhecimento, tanto antigo como recente, e por isso os mostrei à minha amiga, com o prazer de uma descoberta, não só de parelelismo de actuação abonatória do nosso tão geralmente acusado antigo Presidente do Conselho de Ministros, como ilibatória dos nossos desmandos governativos de trinta e pico anos a esta parte.
Eis o excerto abonatório, que a minha amiga imediatamente equiparou a quem de direito:
“Estava-se longe dos tempos felizes em que o bom rei Henrique IV e o seu ministro Sully administravam as Finanças da França com tanta sabedoria e economia que, com um orçamento anual de menos de oitenta milhões, achavam ainda meios de fazer anualmente, em média, setecentos mil francos de economia, e de constituir assim um fundo de reserva de mais de cinco milhões.”
Eis o excerto ilibatório da governação dos últimos anos de “gaspillage”, em denominação erudita, e ilibatório porque nos revela antecedentes ilustres das nossas sensaborias esbanjadoras, a que falta o esplendor das gaulesas:
“Havia muito tempo, infelizmente, que esse fundo de reserva fora dissipado.
Já não se vivia senão de expedientes, da mão para a boca, e a desorganização das finanças facilitava todos os abusos.
Mazarino, hábil político, não era, rigorosamente, um ministro económico.
Não se preocupava com questões de dinheiro, mas precisava dele constantemente.
Era um sorvedouro, cujas imperiosas exigências nem toda a actividade do superintendente Foucquet bastava para satisfazer, conquanto este já tivesse tido que lançar mão adiantadamente dos anos vindouros.
Os impostos, naquela época, eram geralmente arrendados, isto é, cobrados por arrendatários que obtinham esse direito em concorrência pública, mediante uma prestação anual que se comprometiam a pagar ao Estado.
Quanto aos empréstimos, não se faziam, como hoje, sob a forma de subscrições públicas; eram, embora às vezes consideráveis, concedidos ao rei ou ao superintendente pelos financistas opulentos da época, por prazo mais ou menos longo, e a taxas de juros em geral bastante elevadas.
O superintendente encarregado das receitas estava, pois, em constante contacto com os capitalistas ….”
Concordámos nas analogias, informei que o processo em que Foucquet esteve implicado, devido à sanha de Luís XIV manobrada subtil e sinistramente pela de Richelieu, durara três anos e acabara com condenação, ao contrário dos nossos processos que são prolongados sine die, sem condenação nos casos mais poderosos, embora, muitas vezes, com meios igualmente ilícitos de os solucionar.
Mas a minha amiga passou aos nossos tempos de agora, no que concerne uma juventude que frequenta cursos superiores e sai com diploma e se emprega no que aparecer, numa escalada de procura de emprego facilitada pelos meios informáticos, é certo, mas perfeitamente anedótica no que estabelece como desvalorização humana e dos próprios cursos superiores ou mesmo intermédios.
- Realmente – concordei – no nosso tempo os cursos superiores eram em menor número mas convincentes, e agora ninguém sabe muito bem com o que contar, traduzindo-se tudo isso numa baralhação de propostas de cursos que pouco terão de verdadeiramente científicos, com estágios pelo meio, talvez úteis, mas proporcionando aos estudantes poucas horas de um estudo autêntico, que um curso superior forçosamente deve implicar. Mas sabia-se, ao concluir um curso superior, que mais cedo ou mais tarde, ele nos catapultaria aos empregos adequados a cada formação e hoje em dia tal não sucede.
E a minha amiga concluiu:
- Mas os próprios jovens já dizem que antes isto, de conseguirem um empregozito reles mais ou menos explorado pelos patrões capitalistas, do que andarem por aí à deriva. Não sei como estes jovens podem encarar isto. Saem das universidades quantidades enormes de jovens formados. Mas mercado de trabalho não existe, não há emprego para ninguém.
E a minha amiga concluiu, na tristeza do dia chuvoso:
- Agora o formado tem o diploma na mão e continua ao balcão.
- Sim, é o resultado das más políticas. Os franceses sempre se ergueram dos descalabros, assim como todos esses povos que apostaram na formação. Mas a nossa formação com as novas oportunidades e quejandos soa muitas vezes, actualmente, a fraude. Não, não podemos “crer em nós”. “Seremos sempre os que tínhamos qualidades, os que esperámos que nos abrissem a porta junto de uma parede sem porta”… “Seremos para sempre os da mansarda...”
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