Esopo dizia claramente
Na fábula de Zeus e da raposa
Que qualquer vilão,
Ainda que mude de condição,
Não muda facilmente
O seu comportamento
Segundo o primeiro talento
Obtido no nascimento.
Serviu-se, julgo eu,
Para a sua demonstração,
Das leis da física -
Embora essa disciplina não existisse ainda
Nas escolas da Grécia Antiga -
Mas que ele devia conhecer
Por experiência
E pelo saber da sua inteligência:
Usou, assim,
O exemplo da água
Que, seja pura ou impura,
Muda de estado, sem qualquer desmazelo,
Conforme a temperatura:
Em ebulição, torna-se vapor
Em solidificação ficando gelo,
Podendo, entretanto, regressar,
Sem nenhuma espécie de tacanhez,
Ao primitivo estado de liquidez.
Basta, para tal, o arrefecimento
Do calor,
Ou o aquecimento
Do gelo,
E tudo desaba em água,
O que pode causar uma certa mágoa
Por conta das secas ou das friagens
Das nossas terrestres derrapagens.
Eis o que Esopo afirmou
Na sua fábula
“Zeus e a raposa”:
«Por tanto admirar
Da raposa a inteligência
E a ondeante subtileza
Da sua esperteza
Zeus dela fez, uma certa vez,
Rei dos animais.
Todavia,
Sem benevolência,
Desejou verificar
Se, ao abandonar
A sua vida primeira,
A raposa matreira
Se despojaria
Da sua sórdida avidez,
Um dos pecados capitais.
Como a raposa passasse em liteira
Zeus um zângão enviou
Sob os olhos dela e viu
Que a raposa não se reprimiu,
Pois enquanto o zângão pulava
E esvoaçava
Em torno da liteira,
À volta dele ela saltava,
Todo o decoro desprezando
Saltando, pulando, regougando
Bem à sua primitiva maneira,
Esquecida a liteira
E o sentido dela
De distinção fagueira.
Indignado contra ela,
Zeus repô-la
Na sua posição primeira
De simples raposa matreira
Sem eira nem beira.
A fábula mostra bem
Que os medíocres
Mesmo que se expandam em riqueza,
Não mudam de natureza.»
Todavia,
Eu o mesmo não diria:
Discordo deste conceito
De Esopo fabulista
Porque sigo outra pista
Sobre as mudanças de estado,
Não as físicas da matéria,
Mas as sociais
Comportamentais.
Muito pelo contrário,
Tais mudanças de estado
Trazem tantas vantagens
Ao seu usufrutuário,
Que forçosamente
Quem mudou de estado e de ambiente
Melhorou
Com extrema magnitude
- De cara, de feição, de atitude,
Por vezes até de virtude
Para sempre.
Basta, para tal,
Uma forte sorte
E muito norte,
Sem que tal seja por mal.
A mudança traz constante evolução.
E uma nova posição
Social
Provoca necessariamente
Maior concentração
Por via da obtenção
Não só da geral admiração
Mas da particular autopromoção.
E por isso não há que recear
Uma realeza, escolhida na surpresa
Da repentina afeição
Parcial,
A descambar
Para o primitivo estado de vilão.
Não.
A mudança, em Portugal,
Não corre qualquer risco de baixar,
Tenho a certeza.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
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