Ouvi-a numa entrevista de Mário Crespo. Já tinha visto um livro dela –“O Ensino do Português” nos escaparates do Pingo Doce, mas, levianamente, imaginei que fosse de proveniência ministerial e repeli imediatamente o desejo de o comprar, atida ao conceito de que do Ministério da Educação só poderão chover propostas deseducativas, feitas por indivíduos tolos e mal formados, talvez daqueles que obtiveram cursos mais ou menos fraudulentos que as liberdades revolucionárias possibilitaram.
O programa de Mário Crespo revelou-me uma mulher crítica das idiotices que o novo regime tem frutuosamente imposto, para formação da tal sociedade acéfala que tantas vezes tenho referenciado, sem Pingo Doce que me acompanhe na venda desse peixe sobre um Portugal rebotalho.
Comprei o livro. Fui dando saltos de horror à medida que fui lendo a transmissão das suas experiências pessoais, para a criação de um novo modelo de professor – o tal, de camarada – que, por proposta de um desses colegas do Ministério da Educação destacados para vender a sua banha de cobra, em reunião por convocatória, referiu que, se um aluno, em vez da aula pretender que vão todos jogar futebol, o novo modelo de professor, ou seja, o professor modelo no conceito ministerial, larga a aula e vai jogar com os moços, dentro das novas funções da escola, ou das funções da nova escola, de dar abrigo aos estudantes, retendo-os nos seus espaços privilegiados de escola modelar, onde o lúdico se impõe aparatosamente.
Por outro lado, banindo o “velho”, ou seja, os conceitos que privilegiam os conhecimentos básicos que aclaram o sentido lógico da realidade cultural – os da gramática normativa, no caso do português, onde foi banalizada a leitura dos clássicos, ou de outras disciplinas nos diversos ensinos – básico e secundário – para facilitar a vida ao aluno vítima de um sistema que impunha reflexão e esforço e persistência, e agora se pretende “distrair” com abundância de sublinhados a cores e apelos directos e afectuosos aos “meninos” em títulos apelativos de uma indignidade perversa e bacoca, própria para atrasados mentais, que lentamente se vão infiltrando numa sociedade cada vez mais incapaz de raciocinar por si.
Transcrevo (pág. 64, referente ao 3º ciclo, na disciplina de português:
“- Numa dissecação minuciosa do que deve ser avaliado, segundo as directivas programáticas (“oralidade, escrita, leitura, compreensão da leitura, funcionamento da língua, área projecto, escrita recreativa”), antecedem-se as propostas de trabalho com títulos que se vão repetindo exaustiva e continuamente, numa estratégia de domesticação mental dos alunos: “Ler com cabeça e coração”; “Para saber mais...”; “Ouve lá!”; “A língua funciona!”; “A escrever é que a gente se entende”; “Arrumar a casa”; “Fixa!”; “Sabias que...”; “És tu a jogar”; “Fala a sério!”. Um outro manual opta por: “Motivar é preciso...”; “Ouvir/ falar, é preciso...”; “Alargar o vocabulário é preciso...” “Compreender é preciso”, e assim sucessivamente. Os mais discretos limitam-se ao enunciado nos exames: “Ler/Compreender”; “Escrever”; “Ouvir/Falar”; “Ler mais” “Funcionamento da língua” “Investigar”.
- Do ponto anterior decorre o aspecto gráfico do manual, demasiado preenchido com diferentes grafias e cores, numa histeria de pontuação, sem sentido, e esquemas de análise confrangedores, pela sua evidência, quando não ilustrações em demasia e impróprias pela sua falta de qualidade....”
O livro de Maria do Carmo Vieira, contém muito mais pontos de vista e análises do panorama educativo, com narrativa de casos por ela vividos, que merecem abordagem. Penso continuar a abordá-lo, como achega a uma tentativa corajosa e lúcida de desmistificação de um “Ensino” farfalhudo e grotesco que julgo que em mais parte nenhuma do mundo é passível de ser seguido.
Se alguma vez, ao longo da nossa História se cometeram crimes, este crime de rebaixamento perpetrado contra toda uma juventude e com sacrifício dos professores que apaticamente se vão deixando enredar nas suas malhas, é, quanto a mim, o maior de todos.
Assisto diariamente, religiosamente, ao “Questions pour un Champion” de Julien Lepers. Não, não há comparação possível entre a vitalidade intelectual daqueles jovens que estudam para saber e a apatia da nossa juventude estigmatizada com a banalidade cada vez mais acentuada de programas e estratégias de ensino, só aguerrida na indisciplina que lhe foi permitiva, dentro do mesmo objectivo destruidor do carácter e dos valores da cultura.
Para que um dia não saibam pedir contas da economia do seu país, igualmente destruída pelos mesmos responsáveis pela sua idiotia.
O programa de Mário Crespo revelou-me uma mulher crítica das idiotices que o novo regime tem frutuosamente imposto, para formação da tal sociedade acéfala que tantas vezes tenho referenciado, sem Pingo Doce que me acompanhe na venda desse peixe sobre um Portugal rebotalho.
Comprei o livro. Fui dando saltos de horror à medida que fui lendo a transmissão das suas experiências pessoais, para a criação de um novo modelo de professor – o tal, de camarada – que, por proposta de um desses colegas do Ministério da Educação destacados para vender a sua banha de cobra, em reunião por convocatória, referiu que, se um aluno, em vez da aula pretender que vão todos jogar futebol, o novo modelo de professor, ou seja, o professor modelo no conceito ministerial, larga a aula e vai jogar com os moços, dentro das novas funções da escola, ou das funções da nova escola, de dar abrigo aos estudantes, retendo-os nos seus espaços privilegiados de escola modelar, onde o lúdico se impõe aparatosamente.
Por outro lado, banindo o “velho”, ou seja, os conceitos que privilegiam os conhecimentos básicos que aclaram o sentido lógico da realidade cultural – os da gramática normativa, no caso do português, onde foi banalizada a leitura dos clássicos, ou de outras disciplinas nos diversos ensinos – básico e secundário – para facilitar a vida ao aluno vítima de um sistema que impunha reflexão e esforço e persistência, e agora se pretende “distrair” com abundância de sublinhados a cores e apelos directos e afectuosos aos “meninos” em títulos apelativos de uma indignidade perversa e bacoca, própria para atrasados mentais, que lentamente se vão infiltrando numa sociedade cada vez mais incapaz de raciocinar por si.
Transcrevo (pág. 64, referente ao 3º ciclo, na disciplina de português:
“- Numa dissecação minuciosa do que deve ser avaliado, segundo as directivas programáticas (“oralidade, escrita, leitura, compreensão da leitura, funcionamento da língua, área projecto, escrita recreativa”), antecedem-se as propostas de trabalho com títulos que se vão repetindo exaustiva e continuamente, numa estratégia de domesticação mental dos alunos: “Ler com cabeça e coração”; “Para saber mais...”; “Ouve lá!”; “A língua funciona!”; “A escrever é que a gente se entende”; “Arrumar a casa”; “Fixa!”; “Sabias que...”; “És tu a jogar”; “Fala a sério!”. Um outro manual opta por: “Motivar é preciso...”; “Ouvir/ falar, é preciso...”; “Alargar o vocabulário é preciso...” “Compreender é preciso”, e assim sucessivamente. Os mais discretos limitam-se ao enunciado nos exames: “Ler/Compreender”; “Escrever”; “Ouvir/Falar”; “Ler mais” “Funcionamento da língua” “Investigar”.
- Do ponto anterior decorre o aspecto gráfico do manual, demasiado preenchido com diferentes grafias e cores, numa histeria de pontuação, sem sentido, e esquemas de análise confrangedores, pela sua evidência, quando não ilustrações em demasia e impróprias pela sua falta de qualidade....”
O livro de Maria do Carmo Vieira, contém muito mais pontos de vista e análises do panorama educativo, com narrativa de casos por ela vividos, que merecem abordagem. Penso continuar a abordá-lo, como achega a uma tentativa corajosa e lúcida de desmistificação de um “Ensino” farfalhudo e grotesco que julgo que em mais parte nenhuma do mundo é passível de ser seguido.
Se alguma vez, ao longo da nossa História se cometeram crimes, este crime de rebaixamento perpetrado contra toda uma juventude e com sacrifício dos professores que apaticamente se vão deixando enredar nas suas malhas, é, quanto a mim, o maior de todos.
Assisto diariamente, religiosamente, ao “Questions pour un Champion” de Julien Lepers. Não, não há comparação possível entre a vitalidade intelectual daqueles jovens que estudam para saber e a apatia da nossa juventude estigmatizada com a banalidade cada vez mais acentuada de programas e estratégias de ensino, só aguerrida na indisciplina que lhe foi permitiva, dentro do mesmo objectivo destruidor do carácter e dos valores da cultura.
Para que um dia não saibam pedir contas da economia do seu país, igualmente destruída pelos mesmos responsáveis pela sua idiotia.
E nós, que comodamente o permitimos, embarcamos todos, passivamente, nessa monstruosidade, cegos, surdos, mudos. Indiferentes. Sem que volte a cair o Carmo e a Trindade. Porque este terramoto governativo é subreptício e traiçoeiro. Como o cancro.
2 comentários:
quando ouvi maria do carmo vieira pensei que boa ministra da educação ela dava, bem haja.Helena Soares.
Tive ideia semelhante, quando a ouvi também. Obrigada por ter tido a coragem de o afirmar. Berta Brás
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