A minha amiga tem umas amigas com quem toma café às vezes, por vezes em reuniões ruidosas, pois são senhoras que gostam de traduzir o que lhes vai na alma, de forma ora jocosa, ora piedosa, são senhoras de autoridade, e dum modo geral disponíveis para ajudar na paróquia, recolhendo e distribuindo donativos para os pobrezinhos, perpetrando a nossa tradição das Misericórdias, que não morrerá jamais. Preferível, de resto - dada a relevância da nossa virtude da generosidade, que ela favorece - a uma regulamentação de direitos sociais, que isso é mais trabalhoso, obscuro e exigente de um respeito humano pouco compatível com o nosso modo de ser de amantes de classes, que nos possibilita a expansão da nossa virtude relevante.
E assim, a minha amiga lançou, sem me ter previamente industriado no calibre extraordinário da sua notícia, que eu desconhecia em absoluto, o que, aliás, só lhe deu regozijo, pois todos nós gostamos de ser pioneiros nas novidades, a própria imprensa se atropela bastante, para o pioneirismo das notícias:
- E as católicas estavam todas a comentar esse milagre: o sol, quando a procissão estava a passar, começou a fazer uma roda…
- Uma roda?! – pasmei.
- Então não leu? Um halo à volta dele. Aconteceu o mesmo em 1917. Eram sete católicas à roda da mesa a comentar o milagre. Então, mas o que é isto? Taradinho é aos molhos? Mas chegou uma à mesa e disse: “Eh pá! Eu não acredito em nada dessas coisas.” Mas aqui há uma coisa extraordinária: a coincidência de o sol ter tido um halo em 1917 e ter outro em 2011. Há explicação científica para o halo, fenómeno de refracção da luz solar, li eu, mas isso fica no esquecimento, é apenas a explicação dos cientistas. Os milhares de pessoas é que vão dizer: é um milagre de João Paulo II. Já foi assim, um milagre da Senhora de Fátima, e é assim que vai ficar: o milagre do Santo Papa. O Jardim esteve a dizer: “povo analfabeto e muito religioso”. Mas o que é que lhe deram, ao povo?
- Pois! Deram a religião para imporem melhor as regras que vêm na doutrina, com a promessa do prémio ou a ameaça do castigo, e deram a falta de instrução para o povo não pensar tanto nas regras e nos direitos que distinguem o homem de bem.
- A gente esteve a ver e a lista dos milagres do Papa era tão pequenina… Era preciso mais um. Só podia partir de nós, que andamos sempre à cata do milagre.
O que é certo é que a minha amiga estava impressionada com a coincidência dos halos.
- E as católicas estavam todas a comentar esse milagre: o sol, quando a procissão estava a passar, começou a fazer uma roda…
- Uma roda?! – pasmei.
- Então não leu? Um halo à volta dele. Aconteceu o mesmo em 1917. Eram sete católicas à roda da mesa a comentar o milagre. Então, mas o que é isto? Taradinho é aos molhos? Mas chegou uma à mesa e disse: “Eh pá! Eu não acredito em nada dessas coisas.” Mas aqui há uma coisa extraordinária: a coincidência de o sol ter tido um halo em 1917 e ter outro em 2011. Há explicação científica para o halo, fenómeno de refracção da luz solar, li eu, mas isso fica no esquecimento, é apenas a explicação dos cientistas. Os milhares de pessoas é que vão dizer: é um milagre de João Paulo II. Já foi assim, um milagre da Senhora de Fátima, e é assim que vai ficar: o milagre do Santo Papa. O Jardim esteve a dizer: “povo analfabeto e muito religioso”. Mas o que é que lhe deram, ao povo?
- Pois! Deram a religião para imporem melhor as regras que vêm na doutrina, com a promessa do prémio ou a ameaça do castigo, e deram a falta de instrução para o povo não pensar tanto nas regras e nos direitos que distinguem o homem de bem.
- A gente esteve a ver e a lista dos milagres do Papa era tão pequenina… Era preciso mais um. Só podia partir de nós, que andamos sempre à cata do milagre.
O que é certo é que a minha amiga estava impressionada com a coincidência dos halos.
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