- Aquilo
é tudo perfeito. Custa a crer a precisão daquilo tudo! Ena pá! Esta é que é a
notícia do século! Uma notícia fabulosa!
Adivinhei
logo que se tratava da colocação em Marte do robô-sonda Curiosity, que andou
aos pulos antes de parar, protegido por airbags, e que provocou uma explosão de
alegria nos cientistas e controladores americanos, assim que ela começou a
enviar as imagens de Marte.
A
minha amiga não se calava com a notícia, pois é ferrenha nestas coisas de
descobertas que sirvam o nosso conforto, embora eu por enquanto não consiga
descortinar tais efeitos de progresso, a não ser a confirmação da inexistência
de marcianos, que poderiam actuar como focos alienígenos de crise e guerra, para
horror nosso, já massacrados com os focos próprios terráqueos. A menos que se
descobrissem pedras preciosas ou outras coisas compensadoras, perspectiva que nos tornou
ainda mais animadas.
Também pusemos
a hipótese de construir em Marte, futuramente, o sítio de escoamento das
escórias terrestres, mas a minha amiga mostrou-se reservada no capítulo das
escórias, porque sabe quanto a reciclagem pode servir para limpar o nosso
planeta e já andamos a fazê-la, sobretudo através dos incêndios purificadores.
Para ela, as viagens a Marte dentro de vinte anos – não estaremos cá para ver –
serão provavelmente os bem fornidos de matéria pagante a praticá-las, embora
sem certezas quanto a esse dado, por causa da dívida reinante que os não isenta da responsabilidade nela.
A minha
amiga, que admira sem rebuço o povo americano, que tanto tem contribuído para os
prazeres espirituais e materiais do nosso mundo, não se cansava de falar na sonda, ainda
que eu estranhasse que ela não referisse os custos estrondosos de
empreendimentos destes, numa Terra em crise, mesmo nos potentes Estados Unidos.
Mas o nosso
feito nacional conta, sobretudo para mim, mais do que a sonda em Marte e
satélites, porque sou francamente mais patriota do que a minha amiga, que tem
um génio forte, admirador dos fortes e desprezador dos fracos. Nos meus
complexos de inferioridade patriótica, por não fazermos parte dos medalhados
olímpicos, quando o fomos, finalmente, não em nau ou caravela mas em sofisticada
canoa, por intermédio dos canoístas Emanuel Silva e Fernando Pimenta com a sua
prata que nos projectou finalmente para a lista dos medalhados, dei o mesmo
suspiro de alívio dos demais portugueses que já fazem, segundo leio, projectos
para nos tornarmos em potência canoeira.
Fernando
Pessa diria «E esta, heim?!», lembrando provavelmente o Dâmasozinho avesso a desconsiderações.
La Fontaine e os outros mitógrafos ancestrais lembrariam a questão da rã e do
boi.
Os inchaços
fazem parte do nosso caminho de perfeição. Daí que a fé nos não abandone de
também a atingirmos, de olhão sempre.
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