- Tudo
é espetado nas revistas, na televisão, nos jornais, na Internet… – começou a minha amiga, a propósito
das fotos que topou de um neto da rainha Isabel II, o príncipe Harry, filho
mais novo de Carlos e Diana. Todo nu, a fazer sexo com uma rapariga, isto
para a família deve ser vergonhoso. Hoje não se pode fazer nada. É uma coisa
que toda a gente sabe. A Internet é a autoestrada do conhecimento. Até o rabo
do príncipe lá mostra. Mas a coisa mais engraçada é levar a coroa da avó. Se as
pessoas tivessem vergonha já nem conseguiam viver. Vergonha é uma palavra que
vai desaparecer. Daqui a uns anos os miúdos perguntarão: “Vergonha o que é que
quer dizer?”
- Ai,
mas os miúdos perguntam sempre tudo, pelo menos quando são curiosos. Há os que
se fecham na ignorância. E também os que já sabem tudo e não admitem explicações.
Mas a minha
amiga, quando está embalada nos seus actos locutórios - para aplicar uma
expressão de cariz científico, mais consentâneo com a natureza solene do
assunto versado, em torno de uma família real – nem se debruça para ouvir
melhor, numa impassibilidade sintomática do desprezo pelo meu desconhecimento
dos factos assinalados. Prosseguiu:
- Antigamente
era mais discreto, as difamações faziam-se honradamente, quer por carta
anónima, quer por ingénuo telefonema também aparentemente anónimo, embora facilmente
identificável, depois veio a chusma dos paparazzi, que até causaram a morte da
mãe do Harry, de tão empenhados… Eles agora fazem para a Internet. Está em
todas as televisões. “Olha, o que é que vocês são mais que os outros?” É o que
pensam os pesquisadores dos escândalos sociais. Aquele rapaz vai dar cabo da
cabeça à família. Tem tudo à disposição, é simpático… Muita gente dirá que ele
tem direito, é novo. Mas não sei se ele tem culpa ou não. Aquela gente sofre,
realmente. Família sofre!
Eu
considerei que aquela família inglesa já estava habituada há muito tempo e
tinha dinheiro para apagar os efeitos dos seus escândalos e a minha amiga
concordou, sem qualquer resquício de caridade:
- Eles
têm tantas regalias, podem ter estas preocupações.
Também se
falou nos escândalos do Vaticano e a minha amiga não deixou de exclamar:
- O que
aquele Vaticano deve ter de histórias macabras! Foi preso o secretário do Papa.
Cada vez as histórias são mais edificantes. Mas antigamente não saíam cá para
fora.
Nesse ponto eu discordei, com os meus conhecimentos obtidos na
adolescência, através de um livro do meu pai, escondido por trás dos livros
lisíveis da sua estante, que era sempre eu quem arrumava para descobrir as preciosidades
desse mundo encantado da nossa casa. Chamava-se “O Convento Desmascarado”
e revelava muitas dessas coisas não propriamente edificantes, embora não
pertencessem ao Vaticano.
Mas eu vinha impressionada de casa com uma notícia que escutara nessa manhã, e
ainda não tivera oportunidade de expor o meu desagrado. Era sobre um
congressista norte-americano – Todd Akin – candidato a senador a quem ouvira um
abjecto pedido de desculpas pela sua tese sobre o não necessário engravidamento
das mulheres violadas, o que o fizera descer no favoritismo eleitoral.
- O candidato perdeu votos muito justamente, considerou a minha
amiga. A menos que ele veja a situação desta maneira: No momento do acto, a
rapariga que vai ser violada diz: “Pára aí!” E põe o preservativo
de segurança.
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