A mulher foi
desde o seu bíblico início
Uma
personagem condenada
Pelo seu
espírito de teimosia,
Pois não só comeu
o fruto
Que Jeová
proibia,
Como levou
Adão, homem singelo,
A comê-lo,
E isso não
se fazia.
Ficou-lhe
assim o estigma
De que La
Fontaine se aproveitou no seu enigma
Que parece
de cortesia
Mas que é
cheio de ironia
Feroz,
Numa
sociedade em que a força e a valentia
Do ser macho
sempre se impôs,
Sem harmonia,
nem fantasia
Até mesmo hoje
Como se
comprova na doméstica violência diária
Vária
Seja na
Europa, na América, na Ásia,
Na África, ou
na Oceânia,
Pois a
Antártida ainda não conta
A não ser
para os pinguins dos confins.
«A mulher afogada»
«Eu não
sou daqueles que dizem: “Não é nada:
Trata-se
de uma mulher afogada.”
Digo que
é excessivo; e esse sexo vale, sem fantasia,
Que nós o
lamentemos, pois faz a nossa alegria.
O que
avanço aqui não é um desaguisado,
Visto que
se trata nesta fábula lamentável
De uma
mulher que os seus dias tinha acabado
Nas ondas,
em destino deplorável.
O seu
esposo do corpo andava à procura
Para lhe
prestar, nesta triste aventura,
As honras
da sepultura.
Aconteceu
que pelas margens do rio,
Autor da desgraça
inclemente,
Passeavam
pessoas que ignoravam o acidente.
O pobre
do marido perguntou por desfastio
Se não
tinham avistado o rasto da sua mulher:
“Nenhum, respondeu
um; mas procurai-a mais abaixo:
Segui o
fio do rio.”
Outro
redarguiu: “ Não, não o sigais para baixo
Ide antes
para cima, para trás.
Seja qual
for a inclinação
Com que a
água a poderia levar,
O
espírito de contradição
Doutra forma
a fará flutuar.”
Este
homem troçava sem qualquer justificação.
Quanto ao
humor contraditório
Não sei
se tinha razão,
Mas que
esse humor seja ou não
O defeito
do sexo ou a sua inclinação,
Quem quer
que com ele nascer
Sem falta
com ele vai morrer:
Até ao
fim ela irá contradizer
E, se
possível, até bem para além
Do que é
possível conceber.»
Eu poderia
informar
Sobre outros
defeitos do nosso ser
Com que a
minha amiga e eu,
Sem jamais
usarmos o teu e o meu,
E sem mais
aquela,
Às vezes debatemos
sobre os defeitos dela,
Embora mais
vezes sobre os defeitos dele.
Mas o tempo
é de cautela:
Falemos antes
na beleza dela,
Critiquemos
a debilidade dele,
Que só fala,
fala, fala,
Menos na nossa
esparrela.
Ai dele e ai dela!
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