Não posso deixar de guardar no meu blog este último texto de
Salles da Fonseca sobre uma temática de “Bichos”, não Torguianos, mas exprimindo,
nos espécimes escolhidos – Lobos, Faunos, Melros e Rebanhos – os espécimes
que pululam actualmente na sociedade portuguesa.
Estou a escutar de um desses - José Sócrates - no Primeiro
Canal, o resto da sua discursata de finório, Melro papagueante, que já fora
Lobo voraz e Fauno diligente, e se projecta, por agora, em artimanhas vulpinas para
uma continuidade na destruição futura, iniciada tempos antes e interrompida
temporariamente, no jeito nacional já antigo de rotativismo governativo em torno
da gamela pátria.
Escutara, primeiro, Marcelo Rebelo de Sousa, na TV4, que não
se enquadra em nenhum dos Bichos citados por Salles da Fonseca, porque melhor
lhe fica o apodo de herói nacional, herói pelo bom senso, a sinceridade, pelo
critério de análise pela positiva, pelo esforço inaudito do seu trabalho
quotidiano, pelo desassombro apartidário da sua crítica, pelo sentido de
responsabilidade e de responsabilização da sua mensagem.
Assim é, também, este texto de Salles da Fonseca. É a
mensagem de um homem de coragem, como já muitas vez o tenho definido,
semelhante ao Mem Moniz da lenda, que, com o corpo entalado, defende uma das
portas do castelo de Lisboa, permitindo a entrada dos cristãos no castelo
tomado.
Salles da Fonseca não é tão optimista como Rebelo de Sousa.
É um homem, neste momento, que espelha a sociedade portuguesa, irada e com
pouca fé, zurzindo num povo responsável pela situação a que chegámos.
Lembrei hoje a uma prima, telefonicamente, uma breve
história passada em Moçambique, pelos anos quarenta. O homem que seria seu
marido, foi para Lourenço Marques mediante uma carta de recomendação que meu
pai assinara. Empregou-se numa firma de carros – a “Pendray e Sousa” – e ali
ganharia mais do que os funcionários como meu pai e os meus tios. Porque era uma
firma inglesa, e os ingleses sabiam reconhecer o valor das pessoas, coisa que
não acontecia connosco, mais vocacionados para a pelintrice e a extorsão em
proveito próprio.
É um simples exemplo, que bem nos integra na bicharada que
Salles da Fonseca resolveu, no seu 12º artigo de “OS LOBOS E OS FAUNOS”,
eliminar a favor da sua descodificação.
Um texto exaltado, um texto triste, que não quadra com a
ironia contida nos artigos anteriores. Mas esperamos que o seu “Continuemos”
não se extinga ainda. Ele dá força à nossa própria ousadia, quando o medo da
destruição nos acorrenta.
“Continuemos”, diz Salles da Fonseca, entalado
nas portas do cerco, para nos deixar entrar no Castelo dos Mouros.
Entraremos?
OS LOBOS E OS FAUNOS – 12 (II Série)
BASTA!
De quê? De figurações mitológicas. A partir de agora passarei a chamar
demagogos aos mentirosos que já topamos à distância, gatunos aos ladrões,
gulosos aos glutões, manipuladores aos informadores e parvos aos que acreditam
em qualquer deles.
E de
que serviram estes exercícios mitológicos que agora dou por findos? De pouco se
é que de algo. Mas tenho a esperança de que o meu esforço de síntese tenha
conseguido pôr em meia dúzia de linhas o que noutros escrevinhadores daria pano
para mangas e, assim, ter conseguido leitores dentre quem não tem tempo a
perder com leituras mais longas do que as que cabem num A4. Só o texto do
sapateiro remendão é que excedeu esse tamanho. As minhas desculpas mas a peça
original tinha sido produzida em 2005 e na época eu era algo prolixo enquanto
hoje sou bem mais lacónico.
Uma vez
que estou aqui a dar a série por finda, exige-se uma conclusão e essa é a de
que os males de que padecemos dependem sobretudo de nós próprios e não de
conspiradores estrangeiros que às escondidas desenhem a nossa desgraça. Nós
somos esses conspiradores e somos nós que desenhamos a nossa própria desgraça:
padecendo de um nível médio cultural muito baixo, tendemos para a mesquinhez;
padecendo de um nível médio de formação profissional muito baixo, não
produzimos o que queremos consumir; padecendo duma precipitação informativa,
queremos tudo o que vemos nos outros povos com níveis médios culturais e de formação
muito mais elevados; politicamente instigados ao hedonismo, queremos tudo isso
JÁ!
Creio,
no entanto, que o futuro é risonho porque, depois de uns quantos Faunos nos
terem atirado para o fundo do precipício em 2011, já os credores encolheram as
garras e mostram os dentes brancos em rasgados sorrisos; depois de muitos nos
considerarmos desgraçados, chega o momento em que deixamos de acreditar em
quimeras e criamos o novo modelo de desenvolvimento não esperando mais pela
iniciativa pública a quem não mais compete ser nosso patrão.
Sim, a Fénix
tem todas as condições para ressurgir das cinzas se os Faunos não se
travestirem de bandidos, se os Lobos forem açaimados, se os Melros não se
venderem a pautas espúrias e se os rebanhos, zelando por si próprios, deixarem
de carpir.
FIM
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