Mais um texto de Isaías Afonso que, pela análise
circunstanciada do nosso estar no mundo hoje e ontem, com a seriedade de quem
se regula por normas de correcção educada segundo valores que, antes da
Revolução libertadora, defendiam o “savoir être” nacional – é certo que com os
valores contestatários rosnando em surdina, lamiré propício às cantorias pós-revolucionárias
geradoras da actual destruição pátria - aponta o estado de sítio de uma
sociedade toda ela votada à deposição do governo, único ao longo destes anos do
pós-abril que pretendeu zelar pelo bom nome da nação.
Alguns desses que bramam críticas, até fizeram parte de
governos anteriores, todos eles apostados num engrandecimento ilusório e sem
tréguas, distribuindo benesses que lhes permitiam a eles singrar melhor, embora
soubessem que as regalias eram fiasco empenhador da nação futura.
Da esquerda à direita todos se esmeram agora em pôr a
ridículo ou em desfazer nas aparentes conquistas de um governo que as obteve
querendo ser honrado, embora de forma drástica, pela redução dos bolos e outras
medidas brutais definhadoras de um povo que se habituou a considerar como
direitos as suas conquistas anteriores, que as greves favoreceram segundo
absurda manipulação sindical, mas conquistas não obtidas por produção própria, nacional,
e sim provenientes de empréstimos sucessivos de um país desnorteado, comendo e
gozando à tripa-forra e sem vergonha das regalias que não conquistara com o seu
trabalho.
O texto de Isaías Afonso é suficientemente explícito, para
que seja preciso insistir. Mas todas essas greves que continuam a fazer-se e a
anunciar-se num despenhadeiro de arrasar, mostram bem a massa infame em que
somos moldados, no nosso soez contributo generalizado para a destruição pátria,
dando voz aos instintos da nossa animalidade camuflada de intenção generosa e
não querendo escutar as vozes do optimismo conquistador de benesses que o
governo, secundado por alguns investigadores europeus, se permite fazer.
«O QUE PRETENDEMOS NÓS?»
«Ao
analisar-se um acontecimento histórico temos de ter em conta as causas remotas
e as causas próximas para podermos compreender as consequências, nomeadamente
aquelas a que assistimos hoje e ligadas à nossa situação económico-financeira.
Desde a
direita à esquerda passando pelo centro, toda a gente se colocou na praça
pública a desancar o actual governo pelo empobrecimento a que se vê obrigado.
A
comunicação social, em nome da liberdade de expressão, também veio engrossar na
ágora esse fenómeno, fazendo coro com o descontentamento porque os seus
jornalistas também fazem parte dos contestatários pois sofrem as consequências
de tal desiderato.
Os
povos apenas querem ser figurantes do tempo presente e pouco querem saber do
passado, embora perspectivem o futuro apenas em função do seu presente.
O 25 de
Abril, movimento aplaudido por grande parte da população de Portugal, gerou uma
desmedida esperança no futuro uma vez que o presente foi de riqueza virtual que
esteve ao alcance duma grande parte da sua população.
Os
portugueses não quiseram saber se o país em 24 de Abril crescia ao ritmo de 7%
ao ano, se possuía mais de 700 toneladas de ouro no Banco de Portugal como
reserva de suporte do Escudo, se havia quase o pleno emprego e se tinha um
império que ia do Minho a Timor, etc. etc.
O que
esteve defronte dos seus olhos?
Que não
tinha liberdade, que era vigiado por uma policia politica, que ganhava pouco e
que os jovens morriam numa guerra que consideravam inútil.
O 25 de
Abril forneceu-lhe a liberdade, deixou de ser vigiado, passou a ganhar mais e
que a guerra acabara.
Veio
depois a felicidade da facilidade de acesso ao crédito.
Gastar,
gastar, consumir, consumir.
A
produtividade não acompanhou esta febre despesista e os espertos enriqueceram
no âmbito da corrupção quase generalizada, sobretudo em obras de derrapagens
orçamentais ou em engenharias financeiras pouco ou nada transparentes.
Os
partidos do regime para ganhar eleições prometiam ainda mais riqueza e os
portugueses habituaram-se ao bem-estar com pouco esforço para a manutenção
desse bem-estar.
O
ambiente virtual acabou e o dinheiro desapareceu como havia aparecido. O abismo
da irresponsabilidade politica surgiu e os portugueses não queriam crer. O
presente é de pobreza acelerada e o futuro surge sombrio.
A
irresponsabilidade do passado deixou de existir e quem governa no presente é o
culpado de todas as agruras vividas e sentidas.Alguém está preocupado com as
causas remotas? Ninguém!
Alguém
está preocupado com as causas próximas? Ninguém!
A
preocupação reside nas consequências que estão no tempo presente.
A direita que hoje
governa é apontada como o conjunto dos criminosos que fazem sofrer o bom Povo
Português.
A
sinistra, padecendo de amnésia, aponta o dedo acusatório aos últimos
responsáveis, porque, tendo ingerido as águas do Letes, apresenta-se como
inocente e pura, sem quaisquer máculas, prometendo o conforto do passado para o
futuro.
A
sinistra mais sinistra (esta deliciosa palavra muito usada pelos italianos) faz
crescer o punho erguido e fechado, como se tal símbolo fosse o da salvação dos
indigentes, canção que difundia aos ignorantes, antes de 9 de Novembro de 1989.
O gato escondido com rabo de fora ainda acena com as "grandoladas", quais sereias que tentaram o conhecido Ulisses mas o qual não se deixou seduzir porque a sua Penélope e o seu Telémaco eram verdadeiramente o seu futuro.
O gato escondido com rabo de fora ainda acena com as "grandoladas", quais sereias que tentaram o conhecido Ulisses mas o qual não se deixou seduzir porque a sua Penélope e o seu Telémaco eram verdadeiramente o seu futuro.
Quem
não aceita os sacrifícios que se pedem no presente?
Ninguém
quer aceitar e o desânimo invade as consciências.
Quereremos
nós olhar para as causas remotas e para as causas próximas dos acontecimentos
para compreendermos as consequências do presente e projectarmos um novo futuro
ou pretendemos apenas a guerra civil e o terrorismo para nos vingarmos uns dos
outros?
EIS O
DILEMA DA NOSSA ACTUALIDADE»
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