quarta-feira, 29 de maio de 2013

O pretensiosismo da nossa vacuidade


Mais um texto de Isaías Afonso que, pela análise circunstanciada do nosso estar no mundo hoje e ontem, com a seriedade de quem se regula por normas de correcção educada segundo valores que, antes da Revolução libertadora, defendiam o “savoir être” nacional – é certo que com os valores contestatários rosnando em surdina, lamiré propício às cantorias pós-revolucionárias geradoras da actual destruição pátria - aponta o estado de sítio de uma sociedade toda ela votada à deposição do governo, único ao longo destes anos do pós-abril que pretendeu zelar pelo bom nome da nação.

Alguns desses que bramam críticas, até fizeram parte de governos anteriores, todos eles apostados num engrandecimento ilusório e sem tréguas, distribuindo benesses que lhes permitiam a eles singrar melhor, embora soubessem que as regalias eram fiasco empenhador da nação futura.

Da esquerda à direita todos se esmeram agora em pôr a ridículo ou em desfazer nas aparentes conquistas de um governo que as obteve querendo ser honrado, embora de forma drástica, pela redução dos bolos e outras medidas brutais definhadoras de um povo que se habituou a considerar como direitos as suas conquistas anteriores, que as greves favoreceram segundo absurda manipulação sindical, mas conquistas não obtidas por produção própria, nacional, e sim provenientes de empréstimos sucessivos de um país desnorteado, comendo e gozando à tripa-forra e sem vergonha das regalias que não conquistara com o seu trabalho.

O texto de Isaías Afonso é suficientemente explícito, para que seja preciso insistir. Mas todas essas greves que continuam a fazer-se e a anunciar-se num despenhadeiro de arrasar, mostram bem a massa infame em que somos moldados, no nosso soez contributo generalizado para a destruição pátria, dando voz aos instintos da nossa animalidade camuflada de intenção generosa e não querendo escutar as vozes do optimismo conquistador de benesses que o governo, secundado por alguns investigadores europeus, se permite fazer.

«O QUE PRETENDEMOS NÓS?»

«Ao analisar-se um acontecimento histórico temos de ter em conta as causas remotas e as causas próximas para podermos compreender as consequências, nomeadamente aquelas a que assistimos hoje e ligadas à nossa situação económico-financeira.

Desde a direita à esquerda passando pelo centro, toda a gente se colocou na praça pública a desancar o actual governo pelo empobrecimento a que se vê obrigado.

A comunicação social, em nome da liberdade de expressão, também veio engrossar na ágora esse fenómeno, fazendo coro com o descontentamento porque os seus jornalistas também fazem parte dos contestatários pois sofrem as consequências de tal desiderato.

Os povos apenas querem ser figurantes do tempo presente e pouco querem saber do passado, embora perspectivem o futuro apenas em função do seu presente.

O 25 de Abril, movimento aplaudido por grande parte da população de Portugal, gerou uma desmedida esperança no futuro uma vez que o presente foi de riqueza virtual que esteve ao alcance duma grande parte da sua população.

Os portugueses não quiseram saber se o país em 24 de Abril crescia ao ritmo de 7% ao ano, se possuía mais de 700 toneladas de ouro no Banco de Portugal como reserva de suporte do Escudo, se havia quase o pleno emprego e se tinha um império que ia do Minho a Timor, etc. etc.

O que esteve defronte dos seus olhos?

Que não tinha liberdade, que era vigiado por uma policia politica, que ganhava pouco e que os jovens morriam numa guerra que consideravam inútil.

O 25 de Abril forneceu-lhe a liberdade, deixou de ser vigiado, passou a ganhar mais e que a guerra acabara.

Veio depois a felicidade da facilidade de acesso ao crédito.

Gastar, gastar, consumir, consumir.

A produtividade não acompanhou esta febre despesista e os espertos enriqueceram no âmbito da corrupção quase generalizada, sobretudo em obras de derrapagens orçamentais ou em engenharias financeiras pouco ou nada transparentes.

Os partidos do regime para ganhar eleições prometiam ainda mais riqueza e os portugueses habituaram-se ao bem-estar com pouco esforço para a manutenção desse bem-estar.

O ambiente virtual acabou e o dinheiro desapareceu como havia aparecido. O abismo da irresponsabilidade politica surgiu e os portugueses não queriam crer. O presente é de pobreza acelerada e o futuro surge sombrio.

A irresponsabilidade do passado deixou de existir e quem governa no presente é o culpado de todas as agruras vividas e sentidas.Alguém está preocupado com as causas remotas? Ninguém!

Alguém está preocupado com as causas próximas? Ninguém!

A preocupação reside nas consequências que estão no tempo presente.

A direita que hoje governa é apontada como o conjunto dos criminosos que fazem sofrer o bom Povo Português.

A sinistra, padecendo de amnésia, aponta o dedo acusatório aos últimos responsáveis, porque, tendo ingerido as águas do Letes, apresenta-se como inocente e pura, sem quaisquer máculas, prometendo o conforto do passado para o futuro.

A sinistra mais sinistra (esta deliciosa palavra muito usada pelos italianos) faz crescer o punho erguido e fechado, como se tal símbolo fosse o da salvação dos indigentes, canção que difundia aos ignorantes, antes de 9 de Novembro de 1989.
O gato escondido com rabo de fora ainda acena com as "grandoladas", quais sereias que tentaram o conhecido Ulisses mas o qual não se deixou seduzir porque a sua Penélope e o seu Telémaco eram verdadeiramente o seu futuro.

Quem não aceita os sacrifícios que se pedem no presente?

Ninguém quer aceitar e o desânimo invade as consciências.

Quereremos nós olhar para as causas remotas e para as causas próximas dos acontecimentos para compreendermos as consequências do presente e projectarmos um novo futuro ou pretendemos apenas a guerra civil e o terrorismo para nos vingarmos uns dos outros?

EIS O DILEMA DA NOSSA ACTUALIDADE»

 

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