quarta-feira, 15 de maio de 2013

«… Não fazem mal a ninguém»


Hoje a minha amiga veio com a exuberância habitual a desfazer sem compaixão nas figuras (que sem rebuço ela chama de figurões, e eu, com a delicadeza da minha educação extremada chamo de figurinos, embora reconhecendo uma menor preocupação nestes, actualmente, pela gravata como acessório, que a premissa da abolição daquela foi estatuída, se bem me lembro, no início da governação, (com intermitências de aplicação, contudo, ao que se tem visto), sintomática, a tal abolição, de um arregaçar de mangas para o trabalho de exaustão que o Governo se propunha efectuar até ficar exaurido, em companhia com o resto do país, com gravata ou sem ela, que não é essa a causa da nossa mossa, pobrezinha da gravata!

Ou talvez seja. Também.
E assim, disse a minha amiga:
- Até o coitado do Portas me vem fazer aquela figura!… Não passa aquela barreira!!!... Passada uma semana, passou-a!
Com a minha capacidade intelectual em sintonia – conquanto que agora, com o desenvolvimento cada vez mais científico, é de um chiquismo e uma adequação mais substantivos (que esta última palavra funciona agora mais como adjectivo, gramaticalmente falando, substituído o morfológico “substantivo” pela designação de “nome” - se é que tal designação de “morfologia” também já não foi pulverizada da gramática tradicional, modestamente dividida outrora em apenas Fonética, Morfologia e Sintaxe, a Retórica surgindo por acréscimo) – é mais chique e adequado, repito, dizer-se neurónios em vez de intelecto – compreendi pois, de imediato, que a minha amiga estava a considerar os “dez por cento” a retirar dos vencimentos dos pensionistas e dos reformados para cobrir o tal buraco de mais uns tantos milhões que estava coberto anteriormente com o corte no subsídio de férias, proposta do Governo que o TC chumbou, os quais “dez por cento” da nova proposta de Passos Coelho, Portas boicotara em ameaça anterior, que fizera periclitar os alicerces de Passos, mais precisamente do Governo, e que Portas assinara docilmente na proposta seguinte, embora sob a condição de que tal eventualidade fosse feita só “em último caso”.

Considerei que não tardaria outra semana e já o “em último caso” da ressalva de Portas e até do nosso PR, Cavaco Silva, que reiterou a afirmação daquele, em preocupada unissonância de parecer, seria ultrapassado por novo parecer, que o transferiria para “primeiro caso” das urgências inadiáveis a que somos sujeitos após o “custe o que custar” do nosso PM pagador de promessas a uma Troika vigorosamente exigente de cumprimento e indiferente à destruição de uma nação, que só a ela deve prestar contas e não à população que a forma.

Daí que a minha amiga me perguntasse também, logo a seguir, se “os meus eram sacrossantos ou diabólicos” e desta vez eu não atingi logo as suas rebuscadas síncopes lexicais destinadas a testar as minhas leituras ou audições noticiarísticas que ela segue com mais tempo e empenho, mas percebi em breve a sua malícia, na referência à presunção de protecção dos 100.000 euros bancários feita pelo ministro, e ironizar sobre a minha conta bancária inexistente:
- Estar a dizer que são sacrossantos ou estar calado é a mesma coisa. Ninguém crê.
- Pois não, anuí em ira, que se me está a incrustar no azedo do estômago. Contra uns e contra outros, sem excepção, pois já não vejo saída para o nosso despenhadeiro, com uma OCDE impondo o cumprimento de dívida e de desenvolvimento económico em simultâneo, o que parece serem coisas cinicamente incompatíveis, e com os vários partidos a bramar despautérios anti governação e a fazer promessas de melhor governação, caso venham a fazer governação, melhoria que não é expectável com nenhum partido, de gente proveniente da mesma massa sócio educativa.
A minha amiga também anuiu, sabendo que os “sacrossantos 100.000 euros” intocáveis segundo Gaspar, vão fazer companhia aos tocáveis do excesso desses, não tarda. Que as afirmações e as promessas governativas de que o nosso caso diferia do caso cipriota, feitas há duas ou três semanas, já estão aí, em cima da mesa, como realidades plausíveis a curto prazo.
Entretanto, os precavidos espertos põem os excessos dos 100.000 euros a milhas paradisíacas, sem esperar pela próxima semana.
Mas mesmo os que vão a caminho dos 100.000 deverão precaver-se, atidos ao ditado «Cautela e caldo de galinha…»

 

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