sábado, 3 de agosto de 2013

Os arcos das nossas jogadas


Esta pertence a Fedro,
Embora Esopo seja,
Com bastante destemor,
O seu inspirador-mor:

 
«Um Ateniense viu Esopo a jogar às nozes
No meio dum grupo de crianças;
Parou e pôs-se a rir em altas vozes,
Julgando-o um tanto tanso.
O velho percebeu isso; e como as mais das vezes
Era ele que troçava e não o ridicularizado,
Colocou no meio da rua
Um arco afrouxado.
«Eh! Homem sábio, disse ele,
Adivinha, fazes o favor,
O que eu quis fazer.”
A multidão os rodeia, o nosso homem
Torce o miolo sem nada compreender
Da charada que, com ronha,
Esopo lhe propunha.
Confessa-se, enfim, vencido.
O sábio lhe afirmou então,
Cheio de razão:
“Tu depressa um arco romperás
Se o tiveres sempre esticado;
Mas afrouxa-o e poderás
Dele te servir quando quiseres,
Com muito melhor resultado.

 Assim se deve por vezes
O espírito relaxar
Para seguidamente podermos dar
Mais condimento
Ao pensamento.»

 
E pensarmos nós que relaxando, a espaços,
Na vida que vivemos, tensos,
Vamos conseguir dar mais condimento
Ao nosso pensamento!
O nosso pensamento está vocacionado
Para um rumo de relaxamento intenso
E continuado,
Que não permite um condimento denso
Na estrutura do nosso pensamento
Para um mais sábio resultado.
Relaxamento de divertimento,
Relaxamento nas acusações,
Relaxamento nas manifestações,
Relaxamento nos despedimentos,
Relaxamento nas ocultações
Nas faltas de transparência
De todas as governações,
Que não permitem mais que suposições
Aos questionadores das soluções
Para a nossa independência.
Não, o nosso pensamento tenso
Vive constantes distensões,
De relaxamento bento,
E por isso, naturalmente,
Não produz o necessário condimento
Para o nosso pensamento,
Que nos possa fazer erguer
Deste nosso fosso fundo,
De arco sempre esticado
Sem nunca, convenientemente,
Pôr o poço recheado.

 

Nenhum comentário: