quinta-feira, 1 de agosto de 2013

“L’État c’est moi”


Esta frase ouvi-a ontem, no longo massacre inquisitorial a que foi submetida a actual ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, expressão de culta comparação de um dos seus opositores da esquerda esganiçada, expressão ridícula pelo exibicionismo despropositado, como ridículo foi aquele que a pronunciou, soberbo, sério, sibilino, severo e sereno, ou serenamente severo, que foi o que para mim significou a sevícia da sua sábia e incisiva inquisição, de questionário múltiplo e progressivamente sequente, na cronologia datada do seu historial apelativo de uma memória de gravador, todo ele conducente a uma conclusão sem insinuação, mas de pronta acusação de mentira atribuível à ministra a respeito do seu prévio e cabal conhecimento acerca das swaps, e das implicações que elas tiveram no erário público, desfalcado de 1300000 euros que o pobre Zé teria de acrescentar tragicamente aos seus habituais descontos tributários.

A ministra insistiu no seu real desconhecimento e, sem querer equiparar-se ao seu augusto antecessor de “L’État c’est moi” – “le Roi Soleil” – provavelmente envergonhada com o paralelo com esse, que se apoderara de um direito divino por direito próprio - após se ter livrado dos senhores feudais que atravancavam a sua ambição de autoridade – contestou, naturalmente o pretensiosismo da equiparação.

            Por mim, senti o ridículo do paralelo megalómano entre uma pobre ministra – (pobre, apenas, pelo palco em que se move, rica, aliás, na expressão clara e lúcida da sua autodefesa ante a má fé do inquisidor) – de um pobre país totalmente esgarçado nas suas coseduras e nos seus costureiros, e um rei poderoso que pôde  orgulhosamente reclamar-se da sua divisa ditatorial –l’État c’est moi” – no seu País das  Luzes, que tão bem soube apoiar.
 
Devíamos ser mais modestos, meu Deus! Devíamos ter mais recato na exposição dos nossos paralelismos culturais.
 
 

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