Esta frase ouvi-a
ontem, no longo massacre inquisitorial a que foi submetida a actual ministra das
Finanças, Maria Luís Albuquerque, expressão de culta comparação de um dos seus
opositores da esquerda esganiçada, expressão ridícula pelo exibicionismo
despropositado, como ridículo foi aquele que a pronunciou, soberbo, sério, sibilino,
severo e sereno, ou serenamente severo, que foi o que para mim significou a
sevícia da sua sábia e incisiva inquisição, de questionário múltiplo e progressivamente
sequente, na cronologia datada do seu historial apelativo de uma memória de
gravador, todo ele conducente a uma conclusão sem insinuação, mas de pronta
acusação de mentira atribuível à ministra a respeito do seu prévio e cabal conhecimento
acerca das swaps, e das implicações que elas tiveram no erário público, desfalcado
de 1300000 euros que o pobre Zé teria de acrescentar tragicamente aos seus
habituais descontos tributários.
A ministra
insistiu no seu real desconhecimento e, sem querer equiparar-se ao seu augusto
antecessor de “L’État c’est moi” – “le Roi Soleil” – provavelmente envergonhada
com o paralelo com esse, que se apoderara de um direito divino por direito
próprio - após se ter livrado dos senhores feudais que atravancavam a sua
ambição de autoridade – contestou, naturalmente o pretensiosismo da equiparação.
Por
mim, senti o ridículo do paralelo megalómano entre uma pobre ministra – (pobre,
apenas, pelo palco em que se move, rica, aliás, na expressão clara e lúcida da
sua autodefesa ante a má fé do inquisidor) – de um pobre país totalmente
esgarçado nas suas coseduras e nos seus costureiros, e um rei poderoso que
pôde orgulhosamente reclamar-se da sua
divisa ditatorial –l’État c’est moi” – no seu País das Luzes, que tão bem soube apoiar.
Devíamos ser mais modestos, meu Deus!
Devíamos ter mais recato na exposição dos nossos paralelismos culturais.
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