quinta-feira, 5 de março de 2009

Golias

Assisti ontem a um programa do Trio Odemira, em repetição, na TV Memória. Bonito programa, de gente educada numa simplicidade e modéstia feitas de consciência do valor próprio, e uma simpatia em nada forçada, projectando o afecto entre o grupo e a cumplicidade rítmica dos dois irmãos, na harmoniosa cadência das suas vozes sem mácula. Um encanto renovado, pela harmonia trabalhada, sem estridências, que, pelo que contaram, levaram através do mundo, em toda a parte estimados e conhecidos. Como tantos outros cantores portugueses, levando a música e a língua pelos continentes que outrora outros portugueses deram a conhecer.
Pouco tempo antes tinha escutado uma voz altissonante e soberba, agredindo grosseiramente o público estrangeiro que o acolhe, com uma expressão saída dos recônditos de uma pseudo-competência mental, ao referir a “prostituição intelectual” dos seus críticos, sem qualquer laivo de respeito por esse público que contribui para a sua vasta côdea salarial. Um amplo orgulho pelo valor próprio, obtido na desmesura do “rico taco” que a sua “arte” lhe proporcionou, mas sem consciência da relatividade em que se move cada humano, e Mourinho também, por consequência.
Tantos os gigantes que nos traz a História, gente que se celebrizou – na Ciência, na Arte, nas Letras, no Altruísmo... – em quem os povos se revêem com veneração e afecto!
Estes Golias de tanto brado – tal Mourinho – tão representativos de um burguesismo pedante de novos-ricos deslumbrados, não se lembram de que existem igualmente Davids que, com uma funda e umas modestas pedras os podem suplantar –na inteligência, na beleza, no alcance das suas mensagens.
O Trio Odemira recorda-me David, no acumular da beleza dos seus cânticos e da sua modéstia, sendo credores de reconhecimento eterno.
Mourinho lembra Golias praguejante, fraco exemplar de lusitaneidade, que não nos honra, apesar dos êxitos futebolísticos dos clubes por onde passa.
Infelizmente, é de Golias, a nata dos com êxito. No nosso país.

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