segunda-feira, 30 de março de 2009

Vasilhas

Li hoje no Destak que a Ministra da Educação está muito optimista relativamente aos efeitos do Estatuto do Aluno sobre o absentismo escolar, em decréscimo de 22%. Fiquei contente, mas imaginava ultrapassada a época da permissividade escolar e docente dos anos setenta pós-revolucionários. Até julgava que a permissão das faltas actuais visavam antes uma campanha de desautorização do professorado para difamação posterior, como sucedeu, com vias à sua redução para enchimento dos cofres estatais.
Parece, no entanto, que assim não foi. A Ministra está contente com a diminuição das faltas. Faz finca-pé nisso, e não considera necessária a ameaça dos chumbos para que os alunos não faltem às aulas. Porque os alunos poderão sempre faltar, desde que provem que conseguem safar-se, nos testes ou entrevistas a que serão submetidos. Pelos professores à disposição dos faltosos.
Há sempre aulas de recuperação, o grande projecto da Ministra, e assim os alunos progredirão, em sua opinião, com o sangue, suor e lágrimas dos professores. Pois a recuperação dos alunos, a substituição dos professores – em caso da sua ausência, a maioria das vezes por conta de visitas de estudo – o aconselhamento aos pais, as reuniões constantes, o acompanhamento permanente, a informática imprescindível, todo um bla bla bla de serviços, tudo isso vai sobrecarregando os professores em funções diversas de que a mínima caberá à sua preparação técnica, obviamente com prejuízo escolar.
Mas a Ministra está contente e põe a tónica nas faltas, para nos convencer a nós, querendo impingir-nos coisas somenos por coisas altamente valiosas.
As papas servidas à cegonha pela raposa iam num prato raso que só esta lambeu. A cegonha vingou-se e serviu papas à raposa num pote de gargalo estreito que só ela pôde comer. Vem no La Fontaine.
A Srª Ministra pode enganar-se também, ao empolar medidas em que só ela crê mais o seu cabido, em lambedelas gostosas. Mas as cegonhas às vezes retribuem. Pura questão de vasilha.

Um comentário:

AJS disse...

Muito bom!!! Grande texto, grande verdade