- Já não há nada para dizer. Está tudo dito.
A minha
amiga não se ensaia nada para lançar destes baldes de água fria sobre a minha
curiosidade preguiçosa, que prefere investigar através do seu olho crítico o
estado de uma nação em que os que não são governo açulam os que são, mal o
governo abre a torneira das suas explicações que parecem dotadas de vontade de acertar, mas ao qual logo os outros partidos
opõem a muralha da sua divergência, mais baseada em hipócrita piedade pelo povo
com tanta dureza maltratado do que em capacidade para governar melhor. Assim
foi o altissonante debate com o Ministro da Economia, Álvaro dos Santos Pereira,
que com honestidade e seriedade referiu os dados da sua actuação com a afirmação
de que o país está em vias de começar a
colher os frutos do desempenho governativo, apontando vários exemplos positivos. Mas logo
os da outra banda, em ar altamente preocupado e ofendido – o “ofendidismo”, na
expressão de João Miguel Tavares, do programa “O Governo Sombra” no Canal 24 –
comandados por um Seguro sem outra firmeza do que a da discordância ofendida em
nome do país – opuseram o seu psitacismo verborreico e ameaçador, não,
evidentemente para ajudar a libertar o país da crise, mas para o afundar mais,
através dos incitamentos à desordem.
Felizmente
a minha amiga recuperou da passageira rebeldia na eloquência, resultante de um
superavit de impotência perante a adversidade nacional, e depois do balde de
água fria da sua recusa, foi um estralejar de estoiros sobre as suas
preocupações, que não se importou de acrescentar às minhas raivas, ressalvando
o dito de esperança da sua observação arguta “Mas este café enche-se”.
Sim, os cafés enchem-se, da nossa mândria e dos nossos
trocos, como dantes, a Tróika isso não vai liquidar. Começou pelo Herman, que,
mau grado a facilidade discursiva, em minha opinião, já cansa na repetição dos
gestos, dos motivos, da tendência não ultrapassada para o desbocamento.
“ – Ele já
criticou tudo. Pronto. Quem trabalha muito bem é o ajudante dele, o Manuel
Marques. Teria sido de primeira constelação noutro país. Os grandes artistas aqui
não passam da cepa torta. E depois há o Ronaldo e o Mourinho, os maiores sempre.
Falei em
transitoriedade da glória, mas ignorou, altaneira, a intervenção.
- O pior
é o que se está a passar com os cavalos. As touradas estou convencida de que
vão acabar. Sabe que entre os criadores
de cavalos já há gente a matar cavalos, a levar cavalos para abate, para
exportar a carne para um país qualquer. A crise já está a atingir o toureio.
Sustentar estes animais custa fortunas. O desgosto que os criadores de cavalos
devem ter! E os cavalos são impressionantes. Eu costumo dizer que dançam ballet.
Eu não concordo que acabem as touradas. Porque se os outros países têm os seus
costumes, também temos o direito aos nossos. Tenho muita pena de saber que os
criadores estão a abater cavalos para sobreviverem. País sem dinheiro,
praticamente não pode ter animais. O número de cães e os de raça perigosa são em
quantidade brutal aqui. Os de raça têm que ser tratados, são um pouco reis da
Prússia. E como não há nada disso, não podem ter tratamento nem professor, acontecem
os desastres, como o do bebé que o cão matou…
Eu não quis ouvir mais nada.
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