domingo, 13 de janeiro de 2013

“Ninguém montou nesses cavalos”


- Já não há nada para dizer. Está tudo dito.
A minha amiga não se ensaia nada para lançar destes baldes de água fria sobre a minha curiosidade preguiçosa, que prefere investigar através do seu olho crítico o estado de uma nação em que os que não são governo açulam os que são, mal o governo abre a torneira das suas explicações que parecem dotadas de vontade de  acertar, mas ao qual logo os outros partidos opõem a muralha da sua divergência, mais baseada em hipócrita piedade pelo povo com tanta dureza maltratado do que em capacidade para governar melhor. Assim foi o altissonante debate com o Ministro da Economia, Álvaro dos Santos Pereira, que com honestidade e seriedade referiu os dados da sua actuação com a afirmação de que o país está em vias de  começar a colher os frutos do desempenho governativo, apontando vários exemplos positivos. Mas logo os da outra banda, em ar altamente preocupado e ofendido – o “ofendidismo”, na expressão de João Miguel Tavares, do programa “O Governo Sombra” no Canal 24 – comandados por um Seguro sem outra firmeza do que a da discordância ofendida em nome do país – opuseram o seu psitacismo verborreico e ameaçador, não, evidentemente para ajudar a libertar o país da crise, mas para o afundar mais, através dos incitamentos à desordem.
Felizmente a minha amiga recuperou da passageira rebeldia na eloquência, resultante de um superavit de impotência perante a adversidade nacional, e depois do balde de água fria da sua recusa, foi um estralejar de estoiros sobre as suas preocupações, que não se importou de acrescentar às minhas raivas, ressalvando o dito de esperança da sua observação arguta “Mas este café enche-se”.
 Sim, os cafés enchem-se, da nossa mândria e dos nossos trocos, como dantes, a Tróika isso não vai liquidar. Começou pelo Herman, que, mau grado a facilidade discursiva, em minha opinião, já cansa na repetição dos gestos, dos motivos, da tendência não ultrapassada para o desbocamento.
– Ele já criticou tudo. Pronto. Quem trabalha muito bem é o ajudante dele, o Manuel Marques. Teria sido de primeira constelação noutro país. Os grandes artistas aqui não passam da cepa torta. E depois há o Ronaldo e o Mourinho, os maiores sempre.
Falei em transitoriedade da glória, mas ignorou, altaneira, a intervenção.
- O pior é o que se está a passar com os cavalos. As touradas estou convencida de que vão acabar. Sabe que entre os criadores  de cavalos já há gente a matar cavalos, a levar cavalos para abate, para exportar a carne para um país qualquer. A crise já está a atingir o toureio. Sustentar estes animais custa fortunas. O desgosto que os criadores de cavalos devem ter! E os cavalos são impressionantes. Eu costumo dizer que dançam ballet. Eu não concordo que acabem as touradas. Porque se os outros países têm os seus costumes, também temos o direito aos nossos. Tenho muita pena de saber que os criadores estão a abater cavalos para sobreviverem. País sem dinheiro, praticamente não pode ter animais. O número de cães e os de raça perigosa são em quantidade brutal aqui. Os de raça têm que ser tratados, são um pouco reis da Prússia. E como não há nada disso, não podem ter tratamento nem professor, acontecem os desastres, como o do bebé que o cão matou…
Eu não quis ouvir mais nada.

 

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