Contei à
minha amiga que ontem à noite revi no canal AXN o filme britânico “Billy
Elliot”, história de um rapazinho pobre (Jamie Bell), órfão de mãe,
que vive com o pai, o irmão mais velho e a avó, numa terra de mineiros,
profissão do pai e irmão, a mãe tendo morrido pouco antes, deixando-os a todos
prostrados e a criança mais ainda. Apaixonado pelas aulas de dança da
professora da terra, deixa as aulas de boxe impostas pelo sisudo pai, pelas da
professora, que o ensina às escondidas da família, e o recomenda à Escola
Nacional de Ballet de Londres, no sentido de dar continuidade a um talento que
reconhecera. A descoberta pela família da tramoia urdida entre o filho e a
professora faz despoletar a violência do pai preconceituoso em relação à arte
do ballet masculino. Mas o súbito reconhecimento da vocação deste, de uma
agilidade prodigiosa, fá-lo apoiar o desejo do filho, apesar da crise em que a
família se encontra, devido à greve dos mineiros. Acompanhá-lo-á a Londres,
para a sua prestação de provas, vendendo os seus poucos ouros para obter o
dinheiro necessário à viagem e estadia em Londres, no que é coadjuvado pelos
seus patrícios solidários. O rapazinho acabará por seguir o curso, a cena final
mostra o pai e irmão a assistir à estreia de Billy - mais velho (representado
naturalmente por um bailarino encartado – Adam Cooper) - num salto espectacular
do Bailado dos Cisnes, com que finaliza o filme.
Um filme de
2000, dirigido por Stephen
Daldry, aparentemente
com um conteúdo parco, sem grande dispêndio logístico, é uma soberba realização
que põe em cena a expressão de sentimentos fortes – dores, raivas, tristezas,
preocupações, alegrias – e respectivas actuações de um sentido humano tão
poderoso, e revelando o amor da família e da própria comunidade, com a estranha
dedicação da professora (Julie Walters). O pai (Gary Lewis), a
professora, o irmão, mas sobretudo o rapazinho Bill, nas suas emoções e
desempenhos de extrema ductilidade, lutando pelo seu destino, um elenco simples
e próximo das nossas próprias vivências, extremamente digno, sem os ódios do
rapazinho de “Manhã Submersa”, manipulado pelo autor anti salazarista …
E finalmente o sucesso anunciado, com apenas um breve excerto do Lago dos
Cisnes, com o “voo” do bailarino, de costas, o pai emocionado, na plateia.
E veio à baila o programa da RTP “Treze Badaladas”
da passagem do Ano, pelos excelentes actores Herman José, Joaquim Monchique,
Manuel Marques, Eduardo Madeira, Ana Bola, Maria Rueff, com as habituais graças
políticas, da transfiguração magistral das suas figuras nas dos políticos que
encarnam. Mas, como sempre, achei-o tristemente provocatório, tomando
essencialmente os do comando da nação como alvo da crítica, tal como o fazem os
grevistas ou os manifestantes manipulados pelos partidos opositores, nos seus cartazes
ridicularizantes ou nas suas expressões vociferantes, ninguém parando para
pensar na pressão sofrida pelo Governo responsável pelo pagamento da crise, perante quem lhe
exige contas.
Lembrei o humor mais sadio de Solnado, ou até de
Nicolau Breyner, ou mesmo as figuras criadas nos Malucos do Riso, com
tantos bons elementos, com saliência para Victor Espadinha e muitos mais, ou os
vários sketches protagonizados por tantos bons actores do passado, que
felizmente o Canal Memória vai reproduzindo, grande parte agora esquecidos na
prateleira da nossa mesquinha crise.
Vivemos numa época de preocupação, mas igualmente de
desordem mental e moral, onde o “vale tudo” destrói respeitos ou a
consciência dos valores a respeitar. A educação, a disciplina, a ordem não são
factores da nossa incumbência de cidadania, mais centrados no desenvolvimento
do espírito, que cada vez mais se foram degradando de par com os ditames de uma
democracia feita alvarmente à medida do nosso egoísmo pequenino e pessoal.
Contávamos com a política séria de Nuno Crato para
modificar gradualmente as regras educativas, numa ingerência sobre os valores
éticos na Escola, mas outros valores mais altos, que oprimem a população portuguesa,
se erguem como barreira contra qualquer
intervenção disciplinadora, e o “vale tudo” desbocado e fácil se impõe
na rua como se impõe na arte.
Eis a razão do nosso sentimento de tristeza, no
achincalhamento desses quadros do fim de ano que pecam, para mais, no
repetitivo do “déjà vu” banalizador, de programas anteriores, não obstante o mérito das suas actuações.
A cobardia é um defeito muito nosso, e é mais fácil
bater nos que, desejando salvar, carregam sobre o dorso o tomar medidas duras
impopulares. Nunca a figura caricata e trapaceira de Soares foi alvo de tais
bonecos revisteiros. Porque Soares foi dos bons que “libertou” o país, nunca o
que o destruiu, de par com os mais da democracia pós abril, para os criadores
progressistas da arte nacional.
Chegámos a um beco sem saída, de endividamento
fabuloso, que impõe medidas de fábula, geradoras de um extremo sentimento de
insegurança e medo, mas já se apontam efeitos positivos e prometem-se mais.
Mas em vez de confiar, todos preferem bater, não só
neste teatro lúgubre de final de ano, mas em todos os palcos da comunicação portuguesa,
e ao nível dos partidos opositores, que todos preferem encher a boca de
impropérios, não para inglês ver, mas para o povo português se inteirar das
suas bondades de boca cheia.
Um comentário:
Тhanks for fіnally talkіng about > "Treze badaladas" < Loved it!
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