Vem esta fábula
a propósito
Do que ao
ministro da Economia
Disse Ana
Drago, sem cortesia,
Aproveitando
a leva de despedimentos
Que o
Governo resolveu fazer
No seu
staff.
Olhos nos
olhos, sem pestanejar,
A voz doce, com
atrevimento,
Afirmou que
julgara
Que ele também
não voltaria
Àquele Parlamento,
Pois a sua
presença
Só causava
sofrimento.
Seria?
O facto é
que o Ministro da Economia
Se ria,
Fitando-a
com simpatia.
O sonho
dum habitante do Mogol
Outrora
um certo Mogol viu em sonhos o Vizir
Nos
Campos Elíseos, senhor dum prazer
Tão puro
como infinito, em duração e valor.
O mesmo
sonhador viu, noutro local,
Um
Eremita, de fogo rodeado,
Que
deixava pesaroso qualquer desgraçado.
O caso
pareceu estranho e pouco usual:
Minos, nestes dois mortos, tinha-se enganado.
Minos, nestes dois mortos, tinha-se enganado.
O
dorminhoco acordou, tão surpreendido ficou.
Pressentindo,
todavia, neste sonho, um mistério,
Foi pedir,
muito sério,
A sua
explicação.
O
intérprete lhe disse que não se espantasse:
“O vosso sonho tem sentido, e se eu tenho
razão,
Como
aprendi, nesta questão,
Trata-se
dum aviso dos Deuses:
Durante a
humana estadia
Este
Vizir procurava a solidão,
Mas este
Eremita espertalhão
A sua
corte ia fazer aos Vizires.”
Se eu
ousasse uma ideia acrescentar
À palavra
do intérprete,
O gosto dos retiros aqui viria lembrar:
Ele
oferece aos amantes, bens sem embaraços,
Bens
puros, presentes do Céu, debaixo dos pés nascidos.
Solidão,
em que encontro uma secreta doçura,
Lugares
que sempre amei, não poderei eu mais
Longe do
mundo e dos ruídos banais
Saborear a
sombra e a frescura?
Oh! Quem
me deterá sob os vossos sombrias recantos?
Quando
poderão as Nove Irmãs,
Nove
deidades,
Longe das
cortes e das cidades,
Inteiramente
ocupar-me
E
ensinar-me
Os
movimentos diversos dos céus,
Desconhecidos
dos olhos meus?
Os nomes
e as virtudes das claridades errantes,
Pelas
quais são tão diferentes
Os nossos
costumes e os nossos destinos?
Porque,
se eu não nasci para grandes projectos,
Ao menos
que os regatos me ofereçam doces objectos!
Que eu
pinte nos meus versos alguma margem florida!
A Parca
de fios de ouro não urdirá a minha vida,
Eu não
dormirei sob ricos tectos:
Mas
alguém nota que o sono perde o seu valor?
Será ele
menos profundo, e menos cheio de delícias?
No
deserto novos sacrifícios lhe farei.
Quando chegar
o momento de ir encontrar os mortos
Eu terei
vivido sem cuidados, e sem remorsos morrerei.»
La Fontaine
gostaria sobremaneira
De se sentar
à sombra duma parreira,
Faia ou
mesmo bananeira,
Para saborear
a doce mediania
Dourada porque
bem meditada,
Tal como o
nosso Sá de Miranda
Que já dizia
também
Que “homem
dum só parecer
Um só
rosto, uma só fé,
De antes
quebrar que torcer,
Ele tudo
pode ser
Mas da
corte homem não é.”
Muitos
outros assim escreveram,
Cansados das
ruindades
E vilanias
das cortes,
Preferindo manejar
Os livros do
seu saber
Bem juntos da
mãe natura
Fonte de
meditação, de ternura.
Mas isso era
antigamente.
Agora
ninguém vai para o campo
Especificamente
Para apreender
o sentido
Da vida e da
morte.
Pelo menos
nós por cá
Envolvidos nas
disputas
Das nossas
diárias lutas,
Só nos
lembramos da natureza
Para enviarmos
para lá
Aqueles a
quem se despreza,
Mandando-os
pastar com presteza.
O que é
muita baixeza.
E quem assim desdenhar
Ao inferno vai parar.
Mas bem me posso enganar.
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