Mandou-me
a minha filha Paula dois extensos textos de “alerta” contra o uso de um “remédio
que fabricou uma doença”, trazendo bons lucros ao médico que o criou e aos
laboratórios que o fabricam. Textos aterradores, sobre um TDAH (Transtorno
do Deficit de Atenção com Hiperactividade) em moda, com repercussões
negativas incalculáveis sobre uma juventude que desabará de forma mais
aberrante ainda do que a que se prepara nos nossos tempos para o mundo da
consciência trágica.
Os textos aí estão, no
seu formato linguístico brasileiro, que não me pareceu necessário alterar, a
hediondez do assunto de uma dimensão que não dá lugar a pruridos de linguagem:
«Soa
como uma horrível estória de um filme de terror: um psiquiatra norte-americano,
internacionalmente famoso, testa em seus pacientes, nos anos 60, diferentes
remédios psicotrópicos com a intenção de acalmar as crianças. Quando encontra a
pílula adequada com a qual consegue acalmá-las, ele levanta em nome da
Organização Mundial da Saúde a agitação das crianças como uma nova doença. Uma
nova fonte de renda da rede mundial da indústria médica e farmacêutica. Milhões
de jovens em todo o mundo tomam a ritalina há décadas, porque eles teriam a
suposta TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade).
A
ritalina é uma pílula contra uma doença inventada, contra uma doença, ser um
jovem “difícil”, lê-se no Deutscher Apotheker Zeitung (publicação dirigida às
farmácias – NT). E o inventor da TDAH, o várias vezes condecorado neurologista
norte-americano Eisenberg, declarou consternado no fim da vida: “A
pré-disposição genética para TDAH é completamente superestimada”. Ao
contrário disso, os psiquiatras infantis deveriam pesquisar com muito mais
carinho os motivos psicossociais, que podem levar a desvios de comportamento,
declarou Eisenberg ao jornalista científico e autor de livros, Jörg Blech,
conhecido pela sua ampla crítica à indústria farmacêutica e seu livro Die
Krankheitserfinder (Os inventores de doença – NT). Reconhecimento tardio, muito
tarde, mais do que tarde!
Isso é
uma agressão à liberdade e personalidade da criança, pois compostos químicos
causam certas mudanças comportamentais, mas que as crianças não aprendem sob a
ação de drogas químicas, como poderiam mudar de hábito por si próprias. Com
isso lhes é subtraída uma importante experiência de aprendizado para atuação
com responsabilidade própria e respeito alheio, “a liberdade da criança é
sensivelmente reduzida e limita-se o desenvolvimento de sua personalidade”,
critica o NEK. Sobre as consequências para a saúde através da ingestão de
psicofármacos, nada é declarado.
«O
renomado cientista e professor para neurobiologia, Gerald Hüther, alerta há
muito tempo sobre o risco do uso de medicamentos ultra-potentes em crianças
pequenas, assim como sobre o pressuposto de que a TDAH tenha a ver com uma
verdadeira doença de origem biológica ou genética. Em uma entrevista, quando o
quadro clínico fora definido há décadas, o cientista afirmou que se desconhecia
como o cérebro infantil é moldável, como as estruturas cerebrais se formam a
partir das experiências feitas na infância. “Naquela época partia-se do
pressuposto de que só algum programa genético defeituoso é que podia levar às
disfunções”, disse Hüther. “Esta concepção foi vantajosa em várias situações. Ela
não responsabilizou quem quer que seja e retirou um peso não apenas dos pais,
mas também dos educadores e professores. E isso se ajustou ao viés reparatório
daquela época: se algo não funcionava direito, bastava então ingerir um
comprimido.”
Os pais
atingidos não deveriam se sentir atingidos quando educadores ou professores
acreditam que seus filhos tenham TDAH. Eles devem ouvir primeiramente com
tranquilidade e conversar com outras pessoas que conheçam seu filho e também
gostem dele. “Talvez algum deles tenha uma ideia como ele poderia ser ajudado
em casa, na escola e principalmente no convívio com os amigos.”
Kopp-verlag, 02/04/2012.
10 de janeiro de 2010, e que o Jornal Notícias
publicou, texto que mereceria os comentários
mais díspares, de apoio, ou zanga e mesmo ofensa - estas provindas de senhoras
ou senhores comentadores sabedores, que logo se precipitam contra aqueles de
quem discordam, com acusações de insanidade e ignorância, que isso lhes
estabiliza o ego num plano de segurança altaneira.
Os textos do email que
hoje transcrevo, na mesma aflição com que então o fiz, provam que têm razão as
pessoas preocupadas com este crime de amortecimento da personalidade juvenil
que os adultos, que da ritalina se socorrem para disciplinar os seus filhos
ingénuos, provavelmente recusariam, se a eles fosse receitada, sabendo embora
quanto estão provavelmente a contribuir para futuras lesões e deformações nos
filhos que eles se acham incapazes de educar. É certo que a droga, o álcool,
têm idênticas, se não superiores, implicações
perversas – dirão os pais mais descansados, porque droga e álcool são
elementos de perdição mais ligados a outras fases da vida, que responsabilizam
de preferência os “amigos”, companheiros das diversões – o que não significa,
naturalmente, menor sofrimento da família.
«Os calmantes da nossa impotência educativa»
«Às vezes, quando recordo com a minha amiga os
tempos da nossa escola primária e da nossa escola secundária, em contestação
contra os que a acusam de demasiada rigidez, é para lembrarmos o encantamento
dessa fase, de inconsciência da vida que nos esperava. Lembramos os
professores, bons e menos bons, os colegas, as brincadeiras no recreio, que,
logo que acabavam os cinquenta minutos de aula, não podíamos perder, ocupando
as respectivas posições para os jogos de basebol, os mortos, com o ringue, o
caçador, os saltos à corda e o berlinde... Oh! O berlinde!
Em África, as aulas começavam às 7h 30, às
vezes às 6h30 da manhã, para a ginástica com a Drª Deolinda Martins, acabavam
às 12h20 e, duas vezes por semana, salvo erro, havia mais duas aulas à tarde.
Lanchávamos bem, líamos, brincávamos, estudávamos, éramos disciplinados segundo
as regras de então. As notas finais mostravam o nosso cumprimento, era
necessário ter positiva em todas as disciplinas para se passar de ano.
Mais tarde, já professora no mesmo espaço
africano, as modernas pedagogias aliadas às modernas técnicas de ensino,
apontaram o rigor da disciplina antiga, defenderam mais autonomia para o aluno,
foram retirando gradativamente a autoridade disciplinar ao professor,
permitiram que os alunos acedessem ao ano seguinte reprovados numa disciplina,
posteriormente em duas. O papel reservado à memória, pela interiorização de conhecimentos
foi gradualmente abandonado, recorreu-se à compreensão e dedução pela imagem,
por vezes os livros lembravam as bandas desenhadas, com cada vez menor recurso
à palavra escrita, na escola primária o método global da imagem para a letra e
o fonema substituiu o tradicional e mais racional método da leitura alfabética,
silábica e frásica. A aritmética ignorou as tabuadas, adoptou a teoria dos
conjuntos. E nunca mais os alunos tiveram problemas para resolver, problemas
que os livros escolares da 4ª classe tão profusamente continham, nem a álgebra
nos anos seguintes, em que tantas gerações de alunos resolviam os inúmeros
problemas do Palma Fernandes, despertou mais as capacidades de compreensão dos
alunos, incapazes de resolver contas sem ser por computador.
O 25 de Abril, na vizinhança do liberalizador
“Maio de 68” francês, trouxe a explosão, com a destruição das regras – de
disciplina, sobretudo – geradora do caos. O caos nas famílias, o caos nas
escolas. Os professores passaram por isso, mas nunca como hoje, em que os
professores têm uma sobrecarga de aulas e acompanhamentos, nas mesmas turmas de
cerca de trinta alunos, como eram dantes, em que estes se comportavam bem.
Mas a notícia que vem no Diário de Notícias
deste domingo, 10/1, é a prova flagrante da insensatez brutal instalada no
nosso mundo de falsa bondade para com a criança, em que pais e professores são
condicionados por leis atropeladoras do seu direito a uma repressão sensata,
leis hipocritamente escamoteadoras da realidade social exigente e repressiva
que a espera na vida activa. Ela refere, em letras garrafais, que “CRIANÇAS
TOMAM CADA VEZ MAIS MEDICAMENTOS PARA SE ACALMAREM”. E conta casos. O de
três irmãos hiperactivos, com défice de atenção na escola que tomam comprimidos
de “Ritalina”, o que os domou, tornando-se mais atentos na escola e mais
sociáveis. 35.845 as embalagens de metilfenidato vendidas em 2004, 140.424, as
vendidas em 2009, diz o esquema gráfico da notícia. Com efeitos secundários de
febre, agressividade, alteração de humor, hipertensão arterial, perda de
apetite, perda de cabelo, de sono, taquicardia, dores de estômago, erupções
cutâneas.
É este o novo universo infantil. E para se
domarem as crianças, que uma palmada a tempo teria ensinado no momento próprio
a respeitar regras de educação, dão-se-lhes medicamentos para a nova designação
de má criação: hiperactividade, que os torna desatentos, insubordinados,
preguiçosos, desinteressados, esquivos.
A medicação para a docilidade, para o cada vez
maior embrutecimento. Para vivermos em paz. Demos calmantes aos nossos filhos
hiperactivos. Em vez de regras de educação. Mostremos ao mundo que somos pais
amoráveis, incapazes da tapona, enquanto, às escondidas, ou mesmo às claras, os
vamos drogando para os domesticar.»
Um comentário:
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