Reivindica orgulhosamente os seus dezasseis anos do bom e
leal serviço docente. No ano passado foi avaliada com Muito Bom. Tem uma
expressão clara de quem não se limitou –
como eu, por exemplo, alérgica ao paleio retórico não lectivo, criado pelos que
não leccionam nem gastaram as suas vidas a preparar aulas e estratégias para penetrar
a muralha diversificada das competências e comportamentos escolares, em turmas cada
vez mais amplas e ruidosas de agrupamentos discentes criadas sem seriedade nem
desejo de eficácia formativa, nem respeito pela integridade física e moral dos docentes
– tem uma expressão clara, repito, de quem não se limitou a estudar e a
corrigir e a acompanhar-se dos instrumentos da sua docência de dezasseis anos
de bom e leal serviço docente.
A sua expressão clara, que se reflecte na forma amorável
mas segura e equilibrada com que educa os seus dois filhos – traduz a
competência de leitura da tal retórica ministerial a que sou alérgica, sabendo
que o que está por trás dessa retórica é bem – foi sempre – não só o processo
de distribuir pelos funcionários ministeriais encarregados desses trabalhos, os
trabalhos que justifiquem a sua funcionalidade ministerial e demonstrem novas
originalidades profusas de orientação relativamente ao ministério anterior,
como, actualmente, o de limitar, pela reprovação em exames, o número de professores
que políticas anteriores tinham colocado em excesso.
Tem dezasseis anos e um bom currículo e pergunta se quem a
vai avaliar será a professora efectiva que ela substitui, que há muitos anos recebe
o seu vencimento sem trabalhar, o seu lugar posto sempre à disposição do professor
contratado que a vai substituir, o que, no caso presente, até foi positivo para
esta – tal como para os professores anteriores - apesar do horário incompleto, devido à redução
do horário da professora efectiva, que estranhas leis protegem - como protegem,
aliás, muitos dos vários comilões do erário público, como se tem visto, como
esses das fundações ou esses reformados com sete anos de parlamento e astúcia de
assento acumulativo de proventos.
Mas terá de se sujeitar a um
exame, classificado de “instrumento regulador”.
Transcrevo dados, via Internet:
«“Todos os professores contratados terão
de fazer prova de ingresso”
“reservado a quem possui
todos os requisitos necessários a um desempenho profissional especializado e de
grande qualidade”.
“A prova
não tem nada a ver com a avaliação de desempenho ou com a formação inicial de
professores. O que se pretende através dela é procurar saber se os candidatos
têm os pré-requisitos necessários ao acesso à profissão docente",
justificou Grancho. A prova terá uma componente geral e outra específica
relacionada com o nível de ensino e a área disciplinar do candidato”
“Nas sessões de negociação anteriores, o
ministério tinha também deixado cair a exigência de que só os professores
com 14 valores ou mais nesta prova seriam considerados aptos ao exercício da
profissão.”
“A prova de avaliação a que
passarão a ser sujeitos os professores contratados para poderem dar aulas
poderá afinal só ser constituída por uma parte comum, destinada a verificar as
competências fundamentais para o exercício da docência, e não incluir uma
componente específica, relativa às disciplinas a serem leccionadas.”»
A
professora de bom e leal serviço, que ontem fez quarenta anos e se desdobra
entre a escola e os filhos na escola e na pré-escolar, acha que toda esta
farfalheira de exames – quando diariamente se considera sujeita a esses – não é
mais que uma forma despudorada de retirar emprego a quem realmente trabalha, e
de fornecer emprego aos amigalhaços de ocasião – governativa – encarregados de
criar as provas inúteis e certamente que preciosamente rebuscadas – e de as
corrigir – concretizando despedimentos docentes, que darão lugar a esses tais,
os criadores e revisores dos “instrumentos reguladores” – os dos mais cargos do
nosso parasitismo useiro e vezeiro.
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