São eles,
segundo Vasco Pulido Valente, no “Público” de 4/1/14, em “2013 - Os
Melhores” - Vítor Gaspar, Pires de Lima, Bernardino Soares, Rui Moreira,
Joseph Ratzinger, Vladimir Putin, Marcelo Rebelo de Sousa.
Mais uma
lição de História Contemporânea, denunciando um espírito que combina o rigor objectivo das referências
historiográficas com a natural subjectividade de interpretação dos feitos e das
figuras referenciadas. Transcrevo o texto, como uma lição de síncrese a
respeito dos protagonistas escolhidos por Pulido Valente, e cuja pertinência
reconheço, com algumas ressalvas.
Apenas
estranho a exclusão de uma figura do tablado mediático, ao longo de 2013 - Angela
Merkel - que parece que vai fazendo avançar em força o espírito da sua
nação, em todos os tempos de ambição dominadora, embora combinando o seu
dinamismo batalhador com um dom de simpatia camarada que, se para os
representantes dos povos de menor dimensão económica e cultural pode significar
paternalismo discreto, se não desdenhoso, para os povos nortenhos de paridade
sociocultural e económica, significará a fraternidade da comunhão, com Deus ou
sem Ele. Resta-nos pedir a protecção divina para uma União Europeia que se
deseja livre dos fantasmas do passado. E dos do presente também, que poderão
fazer mergulhar cada futuro nacional no inferno de um passado mais desbotado ainda,
em relação à sua própria identidade histórica.
«2013
- Os Melhores
«Vítor
Gaspar – Não me
lembro de nenhum ministro português que reconhecesse ter feito uma política
errada e, depois, saísse. Vítor Gaspar deixou atrás de si uma explicação lúcida
e certa e um fantasma para o substituir. O mistério está na ideia em que ele ao
princípio acreditou de que o Estado era reformável. No BCE e no Banco de
Portugal não se aprendem essas coisas.»
Talvez antes
Vítor Gaspar não tenha querido submeter-se por mais tempo às idiotices
miméticas dos actores da nossa arena teatral e social com que era constantemente
enxovalhado, e fez bem. Foi ganhar mais, e também fez bem. Eu gostava da sua
figura séria e inteligente. Mas a sua saída (com a de Portas a seguir) pôs em
destaque sobretudo a coragem de Passos Coelho e a extraordinária luta deste pela
continuação de um projecto de salvação nacional, pesassem embora todos esses
entraves (com tentativas de solução relativamente a Portas) e todos os mais
entraves com que a horda dos manifestantes industriados pelos chefes
oposicionistas tão afincadamente contribui diariamente para destruir o país. A
aparente nobreza do gesto de Gaspar, parece-me, pelo contrário, assim, um acto
de fraqueza, ao atraiçoar o amigo abandonando-o, como fez igualmente Portas
(este, todavia, antes, numa jogada inteligente e matreira, de falsa elegância
moral – redimida seguidamente com a sua “retoma” governativa, talvez por
arrependimento, talvez pelo mesmo amor ao país que o irmana com Passos).
«Pires
de Lima – Aliviou
o país do espectáculo penoso do sr. Álvaro Santos Pereira, o “Álvaro”, que
pretendia transformar o Ministério de Economia num departamento duma
universidade canadiana. Não sei o que ele andou a fazer neste meio ano: mas
trouxe uma certa dignidade aos portugueses.» (V. P. V. devia investigar, para um retrato mais
completo de Pires de Lima, que o merece).
«Bernardino
Soares –
Primeiro, um bom chefe parlamentar, que falava bem, sem pretensões,
civilizadamente. Agora, presidente duma das maiores câmaras de Portugal. Tudo
isto muito cedo. O PCP parece que resolveu criar uma nova classe dirigente para
substituir os velhos da clandestinidade e os servos de Cunhal. É uma boa surpresa.» (A mim, pareceu-me sempre um pouco
melífluo. Em todo o caso, prefiro-o ao estilo de avô zangado e muito moral de
Jerónimo de Sousa, que, se estivesse do lado da Pátria, do Governo - e não só
do povo sofredor - até seria figura que eu respeitaria na sua seriedade e no
seu saber de “experimentado peito”).
«Rui
Moreira –
Apesar do apoio de um CDS semidissidente e de algumas cumplicidades regionais,
Rui Moreira conseguiu ganhar aos partidos e varrer por uma vez de cena o
inaturável Menezes. Melhor ainda: negociou um bom entendimento (e uma boa
partilha com o PS para governar a cidade em paz. O patriotismo local (embora,
calculo, indispensável) não lhe vai bem.
«Joseph
Ratzinger – O maior
teólogo do catolicismo desde o século XVIII e um grande escritor acabou Papa,
forçado a presidir a uma burocracia corrupta e a um clero contaminado. Não
aguentou, como era natural que não aguentasse. A abdicação (quase única na
história) não espantou os que o leram e seguiram. (Figura triste e exemplar,
inspiradora de respeito e retraimento).
«
Vladimir Putin - Em
vez de a exilar ou matar, correu com a mulher na televisão. Salvou o
santificado Barak Obama do sarilho da Síria e também lhe deu uma ajudinha para
disfarçar o fracasso do Irão. Mais do que isso: restabeleceu (contra a Europa)
uma espécie de hegemonia na Ucrânia: e soltou meia dúzia de protestatários. A
Rússia volta lentamente ao seu estatuto de grande potência.» (Será tudo
isso. Eu sempre lhe achei um ar gélido e cortante, a tender para o sinistro. E
não me esqueço de que a minha mãe o odiava, ainda aos 104 ou 105 anos, nunca
esquecida do afundamento do submarino, no ano 2000 - leio na Internet - em que
Putin permitiu que mais de cem dos seus marinheiros morressem no fundo do mar
(de Barents), para não chamar os outros povos em seu auxílio. Mas o retrato é lisonjeiro
e a ironia contra Obama prova de que lado está Pulido Valente.
«Marcelo
Rebelo de Sousa – Continua a ser o melhor espectáculo político da televisão. Navega com
habilidade e bom humor pelo meio da balbúrdia estabelecida, Às vezes parece
omnisciente, principalmente quando se trata de intrigas de palácio ou de
rodriguinhos legais. Se for para Belém, ou se lhe meter na cabeça ir para
Belém, perde a graça toda.» (Também gosto de o ouvir, pelo optimismo e sensatez das suas
opiniões. Mas o melhor espectáculo para mim é o da “Quadratura do Círculo”,
com três bons e sábios argumentadores, e destaque para Lobo Xavier na sua
moderação optimista de grande argúcia e boa formação moral. O tempo é curto para
Rebelo de Sousa, que tudo sabe, a tudo responde, personagem de professor
expositivo, em que as breves réplicas de Judite de Sousa mal conseguem fazê-lo
perder a embalagem do seu discurso rápido e claro).
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