sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os sete menos



No “Público” do dia 3/1, Vasco Pulido Valente considera que os piores de 2013 foram Cavaco Silva, Passos Coelho, José Sócrates Poiares Maduro, Papa Francisco, Nicolás Maduro, François Hollande. No “Público” de 4/1, indica os melhores: Vítor Gaspar, Pires de Lima, Bernardino Soares, Rui Moreira, Joseph Ratzinger, Vladimir Putin, Marcelo Rebelo de Sousa.

As críticas a Cavaco Silva são as habituais, reduzindo-o a uma figura inerte, “fantasma” que “conta os dias para a reforma definitiva”. Cavaco Silva foi pessoa que já admirei, como 1º Ministro, na sua era de desenvolvimento das obras públicas no país, e tentativa de difundir bem-estar entre as populações, (ainda que com dinheiro emprestado, e diminuição do potencial produtivo da Nação). Pareceu-me sempre pessoa discreta, actuando com determinação, com um discurso claro, sem a exaltação dos demais compinchas da arena política. Quanto à corrupção, embora soassem zunzuns sobre os que então começaram a enriquecer à custa de uma Informática cujos estudos mal sabiam transmitir, só anos depois, com o alargamento da penetração jornalística nos campos judiciários e sociais de intriga, foram sucessivamente denunciadas manobras de corrupção negocial que uma justiça colaboradora ou manietada silenciava. Quanto à sua actuação como Presidente da República, também fui das que condenou certos seus desabafos pessoais relativos a “poupanças” ou outras indiscrições do foro familiar ou pessoal, incompatíveis com a dignidade do cargo cimeiro que ocupa. Mas a minha estima retomou, pelas posições determinadas e aparentemente isentas que assume, “para bem da Nação”. Se obedecesse a impulsos, segundo as movimentações dos partidos da oposição, (que escamoteiam as necessidades da nossa realidade de endividamento a saldar, sob a capa da exaltação esmoler em defesa dos direitos do povo, que eles contribuíram para subverter), com certeza estaríamos pior. Todos sabemos isso, mas preferimos fingir ignorá-lo. Na realidade, parece-me que a nossa ironia de amesquinhamento da figura de Cavaco Silva provém antes da constatação de que, apesar de todos os nossos ditirambos, ele é um homem de ferro. Eu colocá-lo-ia antes, entre os melhores de 2013. Para bem da Nação.

O texto de Vasco Pulido Valente referente a Passos Coelho, é o seguinte: “Governa Portugal como governaria a JSD. Com muita balbúrdia, muita incoerência, uma espécie de entusiasmo juvenil, e discursos de acaso que não fazem geralmente sentido. Há quem julgue que ele conspira. Conspira sempre contra si próprio quando abre a boca.»

Discordo, igualmente. Dou graças a Deus por ter aparecido um Passos Coelho disposto a trazer alguma dignidade ao país, apesar dos opositores, entre os do seu próprio partido, cheios de razões económicas para o condenarem. Mas calam a coragem de assumir certas posições como mais ninguém fez, tentando pôr ordem numa casa desmantelada, e incutir sempre a esperança numa mudança, que todos sentem que já começou, mas que preferem ignorar, sabendo que a austeridade foi – e é - necessária para cortar um esbanjamento que nos fez cair no mais fundo poço. O facto é que, quando se deu a ruptura com Portas, o medo foi geral de que se desfizesse o duunvirato mantenedor da ordem pública. E Passos Coelho teve que fazer cedências a Portas, e talvez se não arrependa disso. Parece-me um homem corajoso e igualmente determinado que merece apoio, embora nos fique bem dizer mal e continuar mantendo a ideia do retrocesso económico e social que a sua política provocou – o que não deixa de ser verdadeiro, mas sem alternativas coerentes ou confiáveis.

Quanto aos demais retratos, acho-lhes graça, pelo que pressupõem de humor satírico e visão crítica:

«José Sócrates: Voltou do exílio de Paris, com um “mestrado”, persuadido, o pobre, que se tinha transformado em filósofo. Na televisão serve umas parlengas para exaltar o seu génio político e discutir assuntos que toda a gente ignora. Precisava de mais publicidade para andar contente. (Já não posso vê-lo nem ouvi-lo: prefiro o Marcelo).

Poiares Maduro- Um novo estilo de ministro. Não se sabe para que serve, não se percebeu ainda em que actividades misteriosas passa o tempo, apresenta de quando em quando um plano absurdo para a RTP. Mas parece feliz. Pelo menos, ao contrário de Relvas, pode apresentar um currículo académico esmagador. Está lá em casa numa gaveta. ( O eterno absurdo da nossa auto-saliência: “Preso por ter cão…”).

Papa Francisco - Um Jesuíta que se converteu ao franciscanismo ou, se quiserem, ao populismo. A esquerda, evidentemente, reza pela personagem. Resta apurar o efeito real de tanto amor. Os franciscanos de origem foram um falhanço. O Papa Francisco, além de meia dúzia de homilias que o dr. Soares adorou, não mudou até agora coisa nenhuma.
 
Nicolàs Maduro - Sem relação com o anterior. Sucedeu a Hugo Chávez, que, por intervenção especial do Altíssimo, fala com ele sob a forma de um passarinho. Com 25.000 assassinatos por ano, a Venezuela precisa com certeza de mais do que um passarinho. O passarinho não revelou se fala com o governo português. Desconfio que sim.

François Hollande - Um desastre em França e na Europa, o sr. Hollande resolveu que preferia ser um guerreiro africano para restaurar a “grandeza gaulista”. O socialismo leva a tudo.»

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