É de Vasco
Pulido Valente, o artigo «Uma aberração» saído no Público de 22 de
Junho. Trata da formação “política” das juventudes partidárias, ao que parece,
apenas instigadas a uma autopromoção futura que as catapulte ao poder, para
isso enredadas na teia de ligações próprias de cada partido, venerando os
chefes e limitando a sua visão do universo cultural à doutrinação fanática do
seu partido:
«Um
grupo de oito deputados, todos presumivelmente produto da JSD, resolveram
perguntar ao ministro da Educação quanto custavam os sindicatos de professores,
supondo que para demonstrar que o Estado não conseguia suportar essa tremenda
despesa. O que tem feito este governo e esta maioria quase não merece
comentário. Mas não deve haver um único Parlamento no mundo civilizado em que
esta cena espontaneamente se passasse. Gente como os meninos da JSD não está na
Assembleia da República, está num jardim infantil muito bem guardado à espera
de chegar à idade adulta. Era possível escrever tratados sobre a ignorância, a
inanidade e o ridículo dessas criancinhas, se o esforço aproveitasse alguma
coisa aos pobres portugueses que as vão aturando e, já agora, a elas próprias.
De
qualquer maneira, vale a pena investigar quem as preparou para as
responsabilidades que hoje são as delas. A JSD (de resto como a JS e a JP)
admite militantes desde os 14 aos 30 anos. Por outras palavras, pega num
adolescente, ou num pré-adolescente, e daí em diante não o larga até ele se
tornar num homem ou numa mulher. Isto lembra regimes de má memória que faziam o
mesmo: a ditadura de Salazar, a de Mussolini e a de Hitler para já não falar
dos “Pioneiros” da URSS e da Europa de Leste. “Juventudes” deste género
sobrepõem à educação da família uma educação política forçosamente facciosa e
com certeza não lhes custa formar segundo as suas conveniências criaturas que
não chegaram ainda à maturidade fisiológica, intelectual, moral ou
profissional. ´´E um exercício de abuso de menores, que a lei não condena.
Imersos
na intriga perpétua da instituição pelo favor do “chefe” ou de alguma facção
transitoriamente dissidente, adquirem depressa uma cultura muito próxima da
cultura dos bas-fonds e um saudável desprezo pela realidade. Seria sem dúvida
um serviço ao país proibir as “juventudes” dos partidos de receber membros de
menos de 18 anos e de os conservar para além dos 25: como quem reprime uma
tendência antidemocrática e deletéria numa sociedade equilibrada ou, pelo
menos, que se esforça e gostava de ser melhor do que parece.»
Creio que
tem razão na essência, Vasco Pulido Valente. Uma essência que nos define no
oportunismo, na mediania intelectual, no empenho como meio ascensional, na
tagarelice mexeriqueira tantas vezes malévola. Mas exagera, na referência a uma “sociedade equilibrada ou, pelo menos, que se esforça e
gostava de ser melhor do que parece». Nem sei mesmo a quem, com essa frase,
Pulido Valente pretende lisonjear, numa banal e irrisória - por inesperada, vista
a sua férula afiada - demonstração de democratismo piedoso. E apiedado, de sensibilidade ao "coitadinho".
E quando Pulido Valente coloca no mesmo plano Passos Coelho juvenil, relembro
outras figuras da nossa realidade política sénior que, quer se tenham formado nas
universidades do país ou de outras formas menos escrupulosas de formação
superior, se pautaram pela irrelevância ou inanidade de actuações, pela pura arrogância
menosprezadora que nos apouca, ou pelo descaro de comportamentos de vigaristas
condecorados.
Passos Coelho,
diz-se, reduziu o povo à miséria, sendo culpado de todos os males do país. Eu
vejo no seu trabalho, que conheço através das mensagens positivas dos seus
discursos, a figura de um homem que se rodeou de gente com um objectivo comum –
o de libertar o país da dívida monstruosa, impondo ao país oneração estridente,
com aumento de desemprego, abaixamento de vencimentos, crescimento de impostos…
E é nisso
que se fala, e nas promessas de uma melhoria sempre adiada, pois, ao contrário
do que dizem os principais do governo que vai suceder, o que sucede mesmo é o
aumento do défice, o que provoca manifestações, greves arregimentadas pela
esquerda histérica e histriónica, e o PS - que também é esquerda quando convém,
embora com mais gravidade na compostura - esquecido daquela época do Copcom, de
ressaibos stalinistas, ou maoistas, ou de outros chefes mais próximos.
Tem razão,
na apreciação que faz, Vasco Pulido Valente sobre a formação de Passos Coelho.
Mas eu gosto de o ouvir, assim como a alguns parceiros seus tão alarvemente caricaturados.
Acredito neles, nas suas boas intenções, nos seus parcos êxitos, que todos os
outros se apressam açuladamente a contestar, desculpo a sua pouca prática
política, por amor à seriedade de um objectivo honesto e corajoso que a todos devia mover. E não
naquilo que fazemos – contribuir para a destruição, com a deseducação que
fomentamos num povo já deseducado, contribuir para dificultar a acção económica
governativa, travando o país. Mas acusando sempre, em raiva crescente,
responsabilizando exclusivamente este governo, esquecidos dos precedentes.
Não me
parece justo mas antes puro sofisma
de mistura com muito cinismo.
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