«Textos de um africano que, reconhecendo
embora os defeitos inerentes aos homens, independentemente da cor, tem a
honestidade de declarar que as consequências das descolonizações sobre os povos
de África foram terríficas de sofrimentos e misérias várias, resultado, em
grande parte, da absoluta libertinagem e ausência de escrúpulos dos chefes
africanos sucedâneos aos colonialistas, na criação das suas próprias leis de
selvajaria e autocracia impunes, a que as gentes dos outros continentes fecham
democraticamente os olhos da muita virtude, preferindo resgatar alguns desses
atribulados sofredores das selvajarias governativas com esmolas e cânticos
favorecedores de esmolas, a impor regras de boa governação, provavelmente até
fazendo distribuir simultaneamente pelos das ricas e poderosas chefias as armas
desse poder criminoso que destroçou milhões dos povos que abandonámos a esses
abutres, a pretexto de “generosas” intenções de libertação.»
Ei-los:
«A Isenção na base da lucidez»
I
"DEUS É BRANCO,
MULATO É ANJO, PRETO É DIABO"
Tal dístico, é obvio, levantou as mais diversas celeumas entre
os passageiros do machimbombo e creio entre todos os observadores e transeuntes
por onde o dito azulinho (mini mbombó) 'rasgava' o seu 'popó-show'.
Raciocinei com os meus
botões e os meus botões comigo, as causas que levaram o proprietário do 'popó'
ou do 'chauffeur de praça' a mencionar e exibir tal desgraçado ou ditoso (?!)
rótulo. Na busca mental das causas, não pude deixar de comparar o modo de vida
de hoje e o da administração colonial, quando o País e a grossa maioria dos
países do continente Africano, era administrado por indivíduos maioritariamente
de raça branca, provenientes da Europa, "os tais colonos", poderia
África ser comparada a um paraíso? Há quem diga que sim, e eu não discordo
deles.
"Colonialismo caiu
na lama!" Lembram-se deste célebre estribilho 1974-1977.
Angola, era mundialmente
conhecida como a Jóia do Império Português e exibia, majestosa, todos os
pergaminhos de tal título, o Quénia a par da África do Sul, a jóia Africana do
Império Britânico, Argélia a jóia Africana do Império Francês e o antigo
Congo-Belga a jóia do mini-imperio Belga. Tais países Africanos – no contexto
do outrora – prosperavam a olhos vistos (a maioria deles encontrava-se ainda na
idade da pedra), as respectivas comunidades autóctones idem aspas, mas os
índices de desenvolvimento humano dos autóctones inegavelmente estavam lenta e
seguramente subindo, as obras dos colonialistas ainda perduram pela África
adentro.
Verdade seja dita, o esclavagismo e as guerras de "kwata-kwata" fizeram irremediáveis estragos em África. Mas também não é menos verdade, que a falta de unidade, ambição, irresponsável individualismo e a sempre necessidade de estúpida e insanamente guerrearem, fazerem verter sangue (entre nós, africanos), tornaram bem-vinda "la pax romana" isto é promulgado à força do chicote e da bala, pelos Europeus.
As então gerações de jovens africanos instruídos (pelas respectivas franjas ou instituições da administração colonial) organizaram-se politicamente e fizeram soar a acusação de que os Europeus estavam a sugar as riquezas do solo pátrio em benefício exclusivo das nações colonizadoras, desconsiderando totalmente os interesses dos nativos e das colónias, transformando os autóctones em miseráveis na sua própria terra; "eles vieram com a Bíblia, nós tínhamos as terras, no fim eles ficaram com as terras e nós com a Bíblia" disse Robert Mugabe, nacionalista e guia da libertação do Zimbabwe.
Organizaram-se contra o invasor, protestos, revoltas, guerras,
chacinas, a História regista que o movimento e actuação dos 'mau-mau' liderado
pelo indomável Jomo Keniata, foi um dos mais cruéis de África e o que chamou a
atenção da comunidade internacional, para a necessidade da urgente
descolonização de África. Claro, a violência gera violência, os resultados hoje
fazem parte da história.»
II
A resposta colonial à
violência nacionalista africana sempre foi comedida, por exemplo, se a força
policial portuguesa no 4 de Fevereiro e posteriormente no 12 de Março de 1961,
respondesse com o mesmo demonismo com que o MPLA respondeu ao chamado fraccionismo
do 27 de Maio 1977, muitos dos actuais dirigentes não existiriam e
provavelmente não haveria movimentos de libertação durante muito tempo.
Passado cerca de meio
século que a maioria dos países africanos arrancaram na ponta da espingarda a
independência das potências colonizadoras (seguindo a lição do camarada Mao
Tsé-Tung), se fizermos o balanço, quais foram os ganhos que os respectivos
países e povos obtiveram. Poucos são os países africanos que, diremos, saíram
indiscutivelmente a ganhar.
"Quando é que a independência afinal vai acabar?"- Indagou desesperado ou desapontado um septuagenário angolano nos idos anos 78-80, fatigadérrimo da guerra estúpida, de tanta crueldade e injustiça praticada pelos seus patrícios (do regime e da oposição), denominados de nacionalistas de primeira água.
"Quando é que a independência afinal vai acabar?"- Indagou desesperado ou desapontado um septuagenário angolano nos idos anos 78-80, fatigadérrimo da guerra estúpida, de tanta crueldade e injustiça praticada pelos seus patrícios (do regime e da oposição), denominados de nacionalistas de primeira água.
O
ZIMBABWE
"HOJE até a Bíblia
nos tiraram e as terras continuam a não pertencer ao povo" - sintetizou
Morgan Tchavingirai, descrevendo a desgraçada e extrema penúria do povo
zimbabweano, respondendo ao guia imortal ainda vivo, que diz ter ressuscitado
mais vezes que o próprio Jesus Cristo. Zimbabwe no período citado por Bob
Mugabe, era o celeiro de África, o povo era detentor de um dos mais elevados
IDH do Continente.
Por exemplo em Angola.
Por vezes, quando nas datas históricas, oiço e vejo pela TV, indivíduos a
mencionarem o que os colonos nos faziam, sinceramente não sei se choro de raiva
ou se me mato de risada, "porque o colono fazia blá-blá-blá" – dizem
eles – hoje faz-se bem pior. O colono se fez, quase que o desculpo, é ou foi
colono, é branco não é meu irmão de raça, etc., agora quando o meu irmão
angolano, preto como eu, (ex-companheiro da miséria e das ruas da amargura) faz
o que viva e denodadamente repudiávamos ao colono, esta ultima acção dói
muitíssimo mais do que a acção anterior, dilacera e mutila impiedosamente a
alma.
O ÊXODO
Por isso, logo após as
independências africanas, verificou-se o segundo êxodo – o primeiro foi dos
brancos a abandonarem África - milhões de africanos abandonaram com angústia na
alma e os olhos arrebitados de descrença a África, a maioria arriscando
literalmente as suas vidas (o filme continua até aos nossos dias), seguindo os
outrora colonos, porque chegaram à conclusão que afinal não é verdade o que
apregoa o político africano: "eles prometeram-nos o paraíso e dão-nos o
inferno a dobrar" - disse um jovem africano em Lisboa nos anos 78-80 num
programa da RTP.
Há mais africanos hoje na
Europa do que Europeus em Africa, porquê?
III
A JUSTIÇA EUROPEIA
Os europeus, de regresso
aos respectivos países embora destroçados de dor e amargura, receberam de
braços abertos muitos dos antigos carrascos dando-lhes um lar e emprego decente
e uma vida digna que jamais tiveram nos países de origem: paz e sossego duradouros.
O contrário era possível? Se ainda hoje, 37 anos depois do fim da colonização, os dirigentes angolanos (por exemplo) ainda se desculpam com a presença colonial portuguesa em Angola para justificar a pobreza e outros pesares (que eles não são, nunca serão culpados) mas o colono (37 anos depois), SIM, estou seguro que, quando Angola festejar o 50º aniversário, os dirigentes angolanos ainda estarão a rogar pragas ao colono português.
O contrário era possível? Se ainda hoje, 37 anos depois do fim da colonização, os dirigentes angolanos (por exemplo) ainda se desculpam com a presença colonial portuguesa em Angola para justificar a pobreza e outros pesares (que eles não são, nunca serão culpados) mas o colono (37 anos depois), SIM, estou seguro que, quando Angola festejar o 50º aniversário, os dirigentes angolanos ainda estarão a rogar pragas ao colono português.
Hoje, ouvimos falar de
relatos arrepiantes de governação de 'preto-para-preto' em muitos países
africanos; Incompetência criminosa, bajulação estúpida como doutrina, ganância
e egoísmo exacerbado (primeiro eu - sempre), mentira como regra, assassinatos
indiscriminados, prisões em massa, inexistência de liberdade de expressão – a
'Bíblia' citado pelo Morgan Tchavingirai. Inclusive, gritar "estou com
fome" é crime passível de perder a vida.
Kamulingue e Kassule, são
a prova viva do facto: vida miserável, falta de empregos, corrupção endémica,
justiça injusta e totalmente parcial, cadeias horrorosamente infernais a
abarrotar de jovens provenientes das classes desfavorecidas, hospitais que mais
parecem hospícios, escolas que mais parecem pocilgas etc. etc.»
IV
«Fiquei arrepiado com as
imagens da actuação da polícia sul-africana em Dobsonville que vitimou o jovem
moçambicano Mido Macia (MM) na flor da sua juventude (27 anos). Imagens
próprias de uma cena do faroeste no século XIX ou da era do Drácula.
Quando vivi na Africa do Sul, tinha um medo atroz e justificado da polícia sul africana, principalmente dos pretos. A maioria do polícia sul-africano preto chega a ser muito mais impiedoso e selvático que o mais impiedoso policia sul-africano branco. O polícia preto (na sua maioria) é absolutamente xenófobo, perverso, contra a lei, corrupto e desalmado.
O policia branco, estou certo, não faria tal coisa e muito menos os tais policiais pretos fariam isso se MM fosse branco.
Quando vivi na Africa do Sul, tinha um medo atroz e justificado da polícia sul africana, principalmente dos pretos. A maioria do polícia sul-africano preto chega a ser muito mais impiedoso e selvático que o mais impiedoso policia sul-africano branco. O polícia preto (na sua maioria) é absolutamente xenófobo, perverso, contra a lei, corrupto e desalmado.
O policia branco, estou certo, não faria tal coisa e muito menos os tais policiais pretos fariam isso se MM fosse branco.
A xenofobia na Africa do
Sul é extremamente incentivada e alimentada pela polícia sul-africana e é
planificada nas esquadras de Polícia; um dia hei-de descrever as minhas
experiências com a corporação policial daquele país que, apesar dos pesares,
amo muito sinceramente.
Fizeram certamente Nelson Mandela banhar-se em lágrimas. O único Preto que chegou aos patamares dos 'deuses'.
Fizeram certamente Nelson Mandela banhar-se em lágrimas. O único Preto que chegou aos patamares dos 'deuses'.
Há em algum país da
Europa a amálgama descriminada e promíscua, esgoto a céu aberto, suja e podre
de 'bairros' que vimos e vemos principalmente nas periferias das capitais
africanas (quase todas elas) principalmente dos chamados Países Especiais?
Os dirigentes africanos nem conseguem combater eficazmente o mosquito, causa do paludismo e malária que dizima há meio século, diariamente, milhares de almas (principalmente crianças) pelo Continente adentro; as doenças diarreicas (produto da falta de sanidade básica) faz de igual modo uma 'ceifa' aterradora. Doenças que o colono quase já tinha debelado como a mosca do sono, ameaçam 'engolir' povos inteiros.
Tudo isso acontece perante a pecaminosa insensibilidade de um grupinho de "iluminados africanos" (abençoados pelas Igrejas) que preferem comprar castelos de milhões de Euros na Europa e em orgias depravadas, preferem dar de comer aos cães do que ajudar os seus irmãos que não lhes pedem mais do que apenas BOA GOVERNAÇÃO. Gerirem o erário público para o bem de TODOS e da Nação.
Os dirigentes africanos nem conseguem combater eficazmente o mosquito, causa do paludismo e malária que dizima há meio século, diariamente, milhares de almas (principalmente crianças) pelo Continente adentro; as doenças diarreicas (produto da falta de sanidade básica) faz de igual modo uma 'ceifa' aterradora. Doenças que o colono quase já tinha debelado como a mosca do sono, ameaçam 'engolir' povos inteiros.
Tudo isso acontece perante a pecaminosa insensibilidade de um grupinho de "iluminados africanos" (abençoados pelas Igrejas) que preferem comprar castelos de milhões de Euros na Europa e em orgias depravadas, preferem dar de comer aos cães do que ajudar os seus irmãos que não lhes pedem mais do que apenas BOA GOVERNAÇÃO. Gerirem o erário público para o bem de TODOS e da Nação.
E há quem tenha o
desplante de vir a público protagonizar uma perversa peça teatral,
choramingando "O colono blá-blá-blá".
Em complemento das extraordinárias declarações de Isomar Pedro Gomes, e como
homenagem à sua lúcida isenção, transcrevo o passo seguinte de um dos textos da
minha jamais apaziguada desilusão (entenda-se “indignação”)– extraído do texto “Somos
bons”, escrito em 1983, do livro “Anuário / Memórias Soltas” (Ed.
Minerva, 1999):
«… Em boa verdade, não nos
interessam os problemas sociais dos povos, por muito cruéis e injustos que
sejam, desde que o sejam apenas por conta própria. Não nos importa que os povos trabalhem ou vegetem, que
progridam ou parasitem à sombra das nossas dádivas generosas. Admitimos como idiossincrasia
civilizacional a exploração do homem aborígene, sanguessuga da mulher, mandrião
e vil. Não nos incomoda esse, porque podemos sempre arvorar, perante ele e
perante o mundo, a nossa comiseração paternalista. ….»
«Passamos a África e o quadro pouco diverge
nas consequências. Em África há a seca, há atraso, há o batuque e a inapetência
para o trabalho, há o tribalismo feroz e sobretudo há, nestes últimos anos, a
luta pela liberdade, a ideia fixa dos direitos próprios contra a exploração
colonialista, a convicção de que mais vale morrer sem pão mas livre do que sob
o jugo alheio, por muito pão que forneça.»
«Claro que todas estas
ideias de liberdade são relativas, como todas as ideias, e em nome delas se
cometem crimes e vilezas que deixam os ex-colonos vexados pela inferioridade
dos seus. Mas como se passam a nível interno, com o apoio, é certo, de colaboradores
externos potentes, fechamos piedosamente os nossos olhos democráticos. …..»
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