Em “Dias Contados”
– “O país do respeitinho” de 3 de Abril, do DN, foca o sociólogo Alberto
Gonçalves vários assuntos da nossa especificidade local, que é como quem
diz nacional, escritos na semana:
Foi o primeiro, o diferendo
entre o engenheiro José Sócrates e o entrevistador José Rodrigues dos Santos,
que, ao que parece, tendo entalado o ex-ministro com perguntas provando contradições no
discurso socrático a respeito da reestruturação da dívida “que em 2011 este
achava trágica e agora acha fundamental”, obteve como resposta – posterior,
pois que de momento apenas amuou, mostrando-se “desnorteado” – a difamação, propalada
pelos “súbditos de Sócrates na imprensa e nas redes sociais”, pontuando
a sua falta de ética, e, na entrevista seguinte, a acusação “de ser o
advogado do diabo, de carecer de inteligência e de papaguear (cito) ideias de
outros. Rodrigues dos Santos deixou-o falar e, no fim, apenas acrescentou o
seguinte: "Registo o insulto, mas não vou responder."
Vale a pena destacar
o ponto de vista do articulista:
«Se eu tivesse
visto o momento em "directo", teria ouvido a bofetada ecoar no país
profundo. Já o país superficial, leia-se novamente o da opinião publicada e
das "redes sociais", preferiu destacar a lição do grande estadista ao
aprendiz de jornalismo, enfim reduzido à sua insignificância pela sofisticada
verve do popular "engenheiro".
Vamos por partes.
Em primeiro lugar, a lendária verve demorou quinze dias a amanhar uma resposta,
para cúmulo uma resposta tão brilhante quanto se esperaria da personagem em
causa. Entretanto, o pormenor da "reestruturação" terrível versus "reestruturação"
maravilhosa continuou por explicar.
Em segundo lugar,
é fascinante notar que o tipo de gente que, por ordens expressas ou iniciativa
pessoal, apareceu a caluniar o "desrespeito" de Rodrigues dos Santos
pela excelsa figura do Eng. Sócrates é o mesmo tipo de gente que anda por aí a
ofender - com indiscutível direito e discutíveis razões - os governantes e o
Presidente da República. Nos meios adequados, o exercício é considerado
corajoso e fundamental.
Em terceiro
lugar, talvez valha a pena lembrar a ligeira diferença de critérios. Há tempos,
o Eng. Sócrates concedeu uma entrevista ao Expresso na qual insultava com
à-vontade diversos políticos nacionais e estrangeiros incapazes de se defender
ali. Pelos vistos, isso é frontalidade. Pedir ao Eng. Sócrates para comentar as
próprias afirmações é um escândalo. Fica registado.
Em quarto lugar,
dá gosto ver o empenho da classe jornalística, sempre tão corporativa, em
ignorar o ataque sofrido por Rodrigues dos Santos. Aconselha-se que este não
leve a atitude a peito: se o perpetrador tivesse sido alguém da
"direita", o "pivô" seria hoje um símbolo da resistência ao
"fascismo" - com direito a homenagem nas comemorações de
"Abril".
Por fim, todo o
episódio prova que, após 40 anos a fingir remover Portugal do atraso, não se
consegue remover o atraso de Portugal.»
O texto é
suficientemente esclarecedor sobre a figura
em causa, mais que badalada, no excesso da sua desvergonha de exposição
facunda, que é a do mesmo país que o expõe, sem corar de vergonha por isso.
De outros temas “impressionantes”
trata o texto de Alberto Gonçalves. Como vai estar de férias, haverá tempo para
o ir transcrevendo. Mas não posso deixar de concluir com o seu escrito final
sobre Carvalho da Silva, como mais uma exemplificação das nossas
vergônteas nacionais criadas na secura alarve de um solo daninho, sem húmus
fertilizador e dinamizador de outros espaços de inteligência e amor. Pátrio:
«Observador
participante»
«Recentemente,
falei aqui sobre os observatórios da pobreza, que tanto jeito nos dão. Agora,
ainda na temática das organizações indispensáveis, descobri o Observatório das
Crises e Alternativas, liderado por Carvalho da Silva, ex-chefe da CGTP e vulto
cujo currículo o elege um dos maiores responsáveis pela corrente desgraça
pátria. É a típica história do pirómano que se reforma para comandar uma
corporação de bombeiros onde se ensina a regar os fogos com gasolina. Quer
dizer, a história é típica em Portugal,
que tem uma tradição de descaramento a preservar.»
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