segunda-feira, 14 de abril de 2014

E nós deixamos. E veneramos.



Em “Dias Contados” – “O país do respeitinho” de 3 de Abril, do DN, foca o sociólogo Alberto Gonçalves vários assuntos da nossa especificidade local, que é como quem diz nacional, escritos na semana:
Foi o primeiro, o diferendo entre o engenheiro José Sócrates e o entrevistador José Rodrigues dos Santos, que, ao que parece, tendo entalado o ex-ministro  com perguntas provando contradições no discurso socrático a respeito da reestruturação da dívida “que em 2011 este achava trágica e agora acha fundamental”, obteve como resposta – posterior, pois que de momento apenas amuou, mostrando-se “desnorteado” – a difamação, propalada pelos “súbditos de Sócrates na imprensa e nas redes sociais”, pontuando a sua falta de ética, e, na entrevista seguinte, a acusação “de ser o advogado do diabo, de carecer de inteligência e de papaguear (cito) ideias de outros. Rodrigues dos Santos deixou-o falar e, no fim, apenas acrescentou o seguinte: "Registo o insulto, mas não vou responder."
Vale a pena destacar o ponto de vista do articulista:
«Se eu tivesse visto o momento em "directo", teria ouvido a bofetada ecoar no país profundo. Já o país superficial, leia-se novamente o da opinião publicada e das "redes sociais", preferiu destacar a lição do grande estadista ao aprendiz de jornalismo, enfim reduzido à sua insignificância pela sofisticada verve do popular "engenheiro".
Vamos por partes. Em primeiro lugar, a lendária verve demorou quinze dias a amanhar uma resposta, para cúmulo uma resposta tão brilhante quanto se esperaria da personagem em causa. Entretanto, o pormenor da "reestruturação" terrível versus "reestruturação" maravilhosa continuou por explicar.
Em segundo lugar, é fascinante notar que o tipo de gente que, por ordens expressas ou iniciativa pessoal, apareceu a caluniar o "desrespeito" de Rodrigues dos Santos pela excelsa figura do Eng. Sócrates é o mesmo tipo de gente que anda por aí a ofender - com indiscutível direito e discutíveis razões - os governantes e o Presidente da República. Nos meios adequados, o exercício é considerado corajoso e fundamental.
Em terceiro lugar, talvez valha a pena lembrar a ligeira diferença de critérios. Há tempos, o Eng. Sócrates concedeu uma entrevista ao Expresso na qual insultava com à-vontade diversos políticos nacionais e estrangeiros incapazes de se defender ali. Pelos vistos, isso é frontalidade. Pedir ao Eng. Sócrates para comentar as próprias afirmações é um escândalo. Fica registado.
Em quarto lugar, dá gosto ver o empenho da classe jornalística, sempre tão corporativa, em ignorar o ataque sofrido por Rodrigues dos Santos. Aconselha-se que este não leve a atitude a peito: se o perpetrador tivesse sido alguém da "direita", o "pivô" seria hoje um símbolo da resistência ao "fascismo" - com direito a homenagem nas comemorações de "Abril".
Por fim, todo o episódio prova que, após 40 anos a fingir remover Portugal do atraso, não se consegue remover o atraso de Portugal.»
O texto é suficientemente esclarecedor sobre a figura  em causa, mais que badalada, no excesso da sua desvergonha de exposição facunda, que é a do mesmo país que o expõe, sem corar de vergonha por isso.
De outros temas “impressionantes” trata o texto de Alberto Gonçalves. Como vai estar de férias, haverá tempo para o ir transcrevendo. Mas não posso deixar de concluir com o seu escrito final sobre Carvalho da Silva, como mais uma exemplificação das nossas vergônteas nacionais criadas na secura alarve de um solo daninho, sem húmus fertilizador e dinamizador de outros espaços de inteligência e amor. Pátrio: 

«Observador participante»
«Recentemente, falei aqui sobre os observatórios da pobreza, que tanto jeito nos dão. Agora, ainda na temática das organizações indispensáveis, descobri o Observatório das Crises e Alternativas, liderado por Carvalho da Silva, ex-chefe da CGTP e vulto cujo currículo o elege um dos maiores responsáveis pela corrente desgraça pátria. É a típica história do pirómano que se reforma para comandar uma corporação de bombeiros onde se ensina a regar os fogos com gasolina. Quer dizer, a história é típica  em Portugal, que tem uma tradição de descaramento a preservar.»

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