Foi no JL de 19 de março a 3 de abril de 2014 - os nomes dos meses
escritos com minúscula de acordo com o Acordo - que se lê logo na página 1 - que
tem a bonita função de capa indicativa dos títulos dos artigos marcantes do seu
interior, referentes às coisas da nossa intelectualidade vistosa, confinada exclusivamente
aos espaços rubros da nossa democracia conquistada há quatro décadas em
manobras de abertura anticonvencional pelo menos de aparência, já que cedo
aprenderíamos que nesses anticonvencionalismos libertários houvera simplesmente
uma troca de convenções, a rigidez de preconceito se mantinha, virada do avesso, e formando guetos de extremo rigor
e chiquismo intelectual – foi, pois, na primeira página do JL, Jornal de
Letras, Artes e Ideias, embora com
predomínio das primeiras, segundo a sigla ilustre, que, em referência a Teolinda
Gersão e a Dulce Maria Cardoso, cujas fotografias em grande plano a ilustram,
lemos a seguinte frase, em epígrafe, aposta à síntese temática dos livros
que publicaram – Amor, poder e família – “Duas escritoras,
dois novos livros de fição, que o JL antecipa em entrevistas com as
autoras e com as respetivas críticas págs 7 a 11”.
Tratou-se, naturalmente, de lapso, a tal “fição”, que
o próprio corrector deste espaço mediático sublinha como erro, ou então de um
preciosismo progressista de quem, esquecido de que, segundo o AO, em casos de
pronúncia dessas consoantes surgidas indevidamente por recurso a inadequados ou
ultrapassados étimos, elas se escrevem, resolveu eliminá-las todas por
simplificação própria de papista superior ao papa. Julgo que sentirá
desconforto (termo muito em voga) em casos como “aptidão” ou “apto”, mas poderão
ser indiferentes a uma peregrina aptidão, uma atidão e um ato de
expressão futurista, já na previsão de um novo AO, ainda mais simplificador. Ou
eliminador, em correspondência com as nossas tendências demográficas.
Seria de estranhar em qualquer jornal uma tal gralha, mas
gralhas destas num jornal de Letras, bem à vista, parece inadmissível. A menos que seja confusão com a “fissão”
nuclear do átomo e essa peculiaridade merece o relevo que busco na definição
brasileira da Internet:
“Na física nuclear o processo de fissão nuclear
é a quebra do núcleo de um átomo instável em dois átomos menores pelo
bombardeamento de partículas como nêutrons. Os isótopos formados pela divisão têm
massa parecida, no entanto geralmente seguem a proporção de massa de 3 para 2.1 2 O processo de fissão é uma reação exotérmica
onde há liberação violenta de energia, por isso pode ser comumente observado em
usinas nucleares e/ou bombas atômicas. A fissão é considerada uma forma
de transmutação nuclear
pois os fragmentos gerados não são do mesmo elemento do que o isótopo gerador.”
E assim nos vamos também transmutando, átomos que somos, em fissão/fição de pura fragmentação...
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