Dois artigos de Vasco Pulido
Valente que não quero perder: «A
III Guerra Mundial» de 21/9/2014 e “Presidentes”? de 5/10/14, para os arrumar no meu blog, que outras
prioridades me fizeram abandonar temporariamente, mas que publico finalmente, por
representarem pontos de vista de um equilíbrio e saber que admiro.
O primeiro,
sobre as tentativas do Ocidente de conter o avanço das guerrilhas islâmicas,
que as intervenções de Bush mais intensificaram, ao invés de as eliminar, e o Ocidente
vê-se a braços com as provocações dos
criminosos terroristas islâmicos, espalhados na multidão que ninguém mais conseguirá eliminar, sem o sacrifício dos
inocentes. E Vasco Pulido Valente, nas suas ironias ferozes, não acredita na
tal III Guerra Mundial, preconizada pelo próprio Papa Francisco e receada por
todos os que se interrogam sobre a solução
para os fanatismos hediondos alastrando pelo mundo, como vagas lamacentas
de um tsunami que tudo arrasa na Terra.
É o fim do Ocidente, explica Vasco Pulido Valente. Esperemos que não seja. Mas
que esses fanáticos merecem a decapitação, não tenho dúvidas.
O texto de Vasco Pulido Valente, do
Público de 21/9/14:
A III Guerra Mundial
O
Ocidente, desde a América a Portugal (que descobriu um “suspeito” no Algarve),
passando pela Austrália e pela França resolveu liquidar, ou pelo menos conter,
a guerrilha do Estado Islâmico. Como? Com aviões, drones, helicópteros,
satélites de alta resolução; e com a ajuda humanitária e diplomática
disponível, incluindo a de países muçulmanos. No meio disto, o que toda a gente
se recusa a fazer é usar forças no terreno, como se diz, “de botas no chão”.
Mais milhares de mortos em guerras que Bush provocou já não são toleráveis para
ninguém, excepto para um Hollande em vias de extinção que resolveu agora
fabricar uma popularidade napoleónica. Infelizmente, neste aperto, Obama
resolveu seguir o exemplo de Kennedy no Vietname: não mandará “soldados com
missões de combate”, longe dele, mas mandará “conselheiros” para treinar o
indigenato local.
Claro
que este esforço americano e europeu tem três defeitos sem remédio. Em primeiro
lugar, não há uma língua comum de comando. Em segundo lugar, os “conselheiros”
não tardarão a pedir reforços. E, em terceiro lugar, a barbaridade das seitas
da região impedirá ainda por muito tempo que se chegue a uma situação estável e
consolidada. Os xiitas nunca deixarão que se reconstitua o Iraque e os sunitas
nunca viverão em paz sob os xiitas. Nem as dezenas de seitas das várias
persuasões do sítio aceitarão o governo de qualquer dos lados. Em pouco tempo,
a América estará envolvida no caos que Bush criou, lutando com amigos,
protegendo inimigos, misturada em conflitos de tribos e de religiões, de que só
um exército a sério a poderá extrair.
Mesmo
na América o público não consegue perceber o que está a acontecer. O EI
decapita jornalistas na internet e na televisão e parece que um
caça-bombardeiro trataria expeditivamente do assunto. Nada mais falso. Com boas
fotografias de satélite, um caça-bombardeiro é capaz de arrasar uma coluna em
marcha durante o dia, mas não é capaz de eliminar uma guerrilha de milhares de
homens que não se distinguem da população e que muitas vezes, como na Síria, se
refugiam entre cidades, que mudam de mão de hora para hora. O Papa Francisco
disse que isto talvez fosse o princípio da III Guerra Mundial. Não acredito.
Acredito, com mais frieza, que isto talvez seja o princípio do fim do Ocidente.
Portugal, entregue às suas pequenas vaidades, nem sabe que o EI existe.
Quanto
ao texto «Presidentes?» sobre a exposição dos bustos de duvidoso
valor artístico, na opinião de V.P.V., é um texto histórico que percorre os
presidentes de uma República tripartida, que alguém pretendeu homenagear com
bustos do nosso pseudo patriotismo ternurento e glorificador, o que, naturalmente
o monárquico Vasco Pulido Valente condena, como mais um caso da nossa
banalidade tosca de quem, não tendo mais que fazer, faz alarde pomposo de
exaltações patrióticas vãs. Mas recolhamos o texto de VPV, que esse, sim, é
peça de arte:
«Presidentes?»
«Em
1911, a Assembleia Constituinte da República resolveu que iria passar a ser a
primeira assembleia legislativa do regime. Nada a autorizava a isso, mas
ninguém se importou. Afonso Costa não tinha ainda tomado conta do partido “histórico”,
que fizera o 5 de Outubro, e meia dúzia de facções andavam em guerra para
eleger – no Parlamento e no Senado – o seu Presidente.
Escolheram
Arriaga, um velho meio senil e pouco esperto, supondo que ele não incomodaria
ninguém. Coisa em que, de resto, se enganaram. Antes de se demitir, à força
claro, andou aos trambolhões de uma ilegalidade para a outra e acabou por
estabelecer uma ditadura militar, depressa varrida pela Carbonária e pelos
bombistas de Afonso Costa. Bernardino Machado substituiu Arriaga, com a
duvidosa legitimidade dessa zaragata.
Depois
de Bernardino, veio Sidónio Paes (em 1917) também trazido por uma insurreição
da tropa. Sidónio revogou a constituição de 1911, inventou outra mais
conveniente à sua situação e à sua política, e convocou eleições directas para
a Presidência da República. Ganhou por à volta de 500 000 votos, num clima que
roçava o terror. Não lhe serviu de muito. Em 1918 foi morto na estação do
Rossio por um admirador de Afonso Costa. Por uns tempos, durante a guerra civil
de 1919, Canto e Castro, um monárquico convicto, designado pelo governo,
conseguiu manter a ficção de que a República existia. Mas quando se restaurou
um mínimo de ordem, e prudentemente mudada a constituição, o Parlamento e o
Senado alçaram António José de Almeida, um demagogo de feira, à Presidência
para acalmar a balbúrdia e conciliar a direita. O “António José”, como lhe
chamavam, assistiu à tortura e ao assassinato do seu primeiro-ministro e
cumpriu o seu mandato até ao fim, uma façanha de que se gabou muito.
Para
substituir esta personagem, o estado-maior do partido Democrático (palavra de
honra!) chamou Manuel Teixeira Gomes, pedófilo, diplomata e escritor, que não
aguentou os sobressaltos de Lisboa e se refugiou nos costumes mais brandos da
Argélia francesa. No lugar dele, reapareceu o indestrutível Bernardino, de que
o 28 de Maio em definitivo livrou a Pátria. Os sucessivos chefes da Ditadura
não tinham nem de facto, nem de direito a menor semelhança com um presidente da
República. Como a não tiveram os protegidos de Salazar (Carmona, Craveiro
Lopes, Tomás). Só Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco merecem o nome. E, a
propósito, não se percebe o que sucedeu à nossa tresloucada Assembleia da
República para lhe sair do crânio a ideia eminentemente imbecil de uma
exposição de bustos (dizem que horríveis) dos nossos “Presidentes”.
Inconsciência? Ignorância? Ou simples prazer de gastar o dinheiro do Estado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário