De
um país que não produz. Que prefere atacar o capitalismo na sua habitual manipulação
dos capitais em proveito próprio, explorando os trabalhadores como roldanas
indistintas que estão ali para produzir, sem horários justos, sem vida própria.
É muito verdade isso por cá, e tudo isso por não funcionarem os sistemas de
distribuição de princípios básicos, como sejam os da Justiça, do Civismo e da Educação.
Daí que seja um país que se define pela desordem, ninguém pretendendo
trabalhar em prol do outro, “pela grei e
pela lei”, como propunha D. João II, no seu pelicano, símbolo que adoptou no
seu governo de realizações, o pelicano como ave que alimentava as crias com a
carne que arrancava do seu peito. Sá de Miranda faz referência a isso, na carta
conselheiral ao “rei de muitos reis”, D. João III:
Do
vosso nome um grão rei
Neste
reino lusitano,
Se pôs essa mesma lei,
Que
diz o seu Pelicano:
Pela
lei e pela Grei.
D.
João II trouxe grandes riquezas a Portugal, chegando longe, nos seus desígnios
de aquisição de terras, que atingiram o oceano Índico. Príncipe Perfeito se lhe
chamou, mas usando princípios de absolutismo que hoje se desprezam, embora
saibamos quanto de absolutismo domina em regimes de capitalismo onde não existe
rei nem roque e o monopólio dos lucros vai apenas num sentido. Juntamente com o
compadrio, que gera a corrupção. E é por isso que não descola aqui, porque não
se respeitam os direitos das pessoas, o cinismo sendo a mola principal nas relações
entre o patronato e o trabalhador.
Entretanto,
todos falam, falam, falam…
É
um comentário ao excelente análise de João César das Neves “O Mistério do
Crescimento”, publicado no blog “A Bem da Nação”
O
MISTÉRIO DO CRESCIMENTO
Por que motivo a economia não cresce? A
recessão acabou no início de 2013, perdendo 8,7% desde 2008, 5,2% com a troika.
Ao fim de ano e meio, o PIB sobe 0,9%, quase estagnação. Porque não descola?
Não há aqui qualquer mistério. As várias
causas podem resumir-se numa só: não existe crescimento em Portugal porque essa
parece ser a última preocupação do país. Andamos demasiado ocupados com outras
coisas. Claro que centenas de milhares de empresários e trabalhadores estão empenhadíssimos
em aumentar a produção e relançar a economia. Mas a dívida nacional é enorme,
as empresas estão descapitalizadas, o crédito cai e as elites, debate político
e cultura mediática, falam de crescimento apenas como voto piedoso enquanto
tratam de o contrariar.
A atitude de fundo é hostil ao progresso.
Exigem-se subidas de salários e criação de emprego, mas desprezam-se lucros,
investimentos e empresários, combate-se comércio e crédito, sem perceber que
estão ligados. Por desagradável que seja, o único meio que até hoje criou
crescimento passa por empresas e negócios, algo que os intelectuais vêem com
supino asco.
Por baixo de leve crosta retórica, a
finalidade nunca é promover desenvolvimento. Fala-se muito de progresso e
tecnologia, mas aquilo que realmente ocupa os debates são cargos e
dirigentes, regalias, benesses e direitos adquiridos. Propósitos meritórios são ambiente e
consumidores, cultura, ordenamento urbano e outros desígnios abstractos que
acabam sempre por criar obstáculos à produção. É que, se nada se vender, não existem consumidores
ofendidos e a forma mais segura de salvar a ecologia é acabar com as empresas.
Portugal, que não gosta de empresários e
negócios, vive fascinado com o Estado. Só se fala em eleições e postos, despesa
e dívida públicas, serviços, garantias, políticas, pensões e organismos. Estas
coisas são indiscutivelmente importantes, mas só existem se alimentadas pela
produção das empresas, as quais são sempre as más da fita. Na cultura oficial
não existe publicação, espectáculo ou exposição que não desdenhe, despreze e
zurza o capitalismo e a actividade empresarial. Que aliás a amamenta, com
impostos ou mecenas. Depois não há crescimento. Que pena! Mas exigem-se os
subsídios.
Entretanto, o omnipresente Estado insiste
em promover o desenvolvimento, enquanto multiplica desperdícios. Todos
conhecemos múltiplos projectos feitos em nome do progresso que em nada
beneficiaram o país: auto-estradas sem tráfego, complexos industriais e pavilhões
polidesportivos às moscas, enchendo os bolsos a certos grupos. A isto se juntam miríades de
regulamentações e exigências, regras e imposições que aumentam custos e
sustentam funcionários. Coletes
reflectores e inspecções periódicas, medicina no trabalho e portarias
regulamentares são caras e
pesadas. Será que promovem mesmo o bem--estar?
Coletes reflectores, muito provavelmente «made in China»
Todos os anos no Outono vivemos um exemplo
clamoroso de crescimento sem benefício social. Os livros
escolares geram lucros, produção e postos de trabalho, mas implicam a
destruição de montanhas de volumes excelentes que, usados no ano passado,
serviriam bem as novas turmas. As editoras, com a conivência tácita das autoridades, conseguem
desqualificar os exemplares usados, lucrando à custa de pais e alunos, ricos e
pobres.
A questão não é ideológica. Líderes de
esquerda, como Bill Clinton, Barack Obama e Gerhard Schröder, souberam apoiar o
crescimento. No Portugal de Guterres a Sócrates, Durão a Passos, domina o
"capitalismo de compadres", copiado de Sarkozy ou Hollande, Zapatero
ou Berlusconi, também em estagnação. Este governo diz-se amigo de mercados e
iniciativa privada, enquanto a oposição prepara novo estatismo supostamente
produtivo. O resultado será parecido, porque nem a troika reformou os
interesses.
A falta de crescimento é fácil de explicar.
Esta recuperação, sem ainda ter saído da cratera pública, parece um campo
minado, com os grupos de compadres a explodir sucessivamente.
Mistério é,
apesar de tudo, existirem empresas capazes de se afirmar e prosperar.
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