quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Os vira-casacas



Nunca  mais os ouvi, farta que estou de espectáculos de riso sem compostura pela TV, que de vez quando vira botequim ruidoso, de vozes explodindo, frases que se entrecruzam com mais ou menos graça. No caso do Eixo do Mal preferencialmente largando sentenças, por vezes pedantes, na convicção arrogante da sua verdade – embora a cultura da Clara me encantasse, e também o discurso trapalhão do Luís Pedro fosse o que, por vezes, mais me agradasse pela sensatez, por muito boba que se revelasse, no seu cozinhado expositivo.
Mas procurando os artigos de Alberto Gonçalves, deparou-se-me a magnífica caricatura de Durão Barroso, no DN de 26/10/14, por André Carrilho, uma mão na bandeira europeia apontando a saída àquele, todo fora dela e das suas doze estrelas, como pássaro de gordo bico e de olho meio fechado no esconderijo arguto da sua interiorização, mas vivo em saberes, a preparar novos voos vivenciais. E a caricatura levou-me ao artigo de Pedro Marques Lopes sobre o ex-presidente da Comissão Europeia.
Um artigo humilhante sobre DB, humilhante para nós também que produzimos destes seres sem iniciativa própria, robôs telecomandados, de que P.M.L. explica as origens da manipulação, provocando a indiferença ou o desprezo dos comparsas europeus, pelo untuoso e a opacidade das suas actuações apagadas.
Não sei se foi assim tão grave. Eu não gostava sobretudo dos seus discursos em inglês, muito mastigados, como se tivesse papas na língua. Ouvi-o defender a necessidade do euro para nós, apoiando Passos Coelho, sempre o ouvi apoiar Passos Coelho e fiquei-lhe grata por isso. Nem todos o fizeram nem fazem, Marques Lopes sendo um deles, atraiçoando-o com a sua crítica destrutiva, o que não abona sobre a sua própria idoneidade moral, seguindo ele o mesmo partido, trazendo-me à memória imagens passadas da multidão que virou comunista e outros istas aquando do reviralho. PML, pontapeando o Governo com tanta garra, prepara-se para assumir futuramente um posto de amizade no próximo reviralho.
Se as políticas da Sr.ª Merkel arrasaram a economia europeia, como se grita e PML mais alto ainda, penso que os que nos governaram deram origem há muito a este descalabro. Talvez a Sr.ª Merkel e o FMI não pudessem seguir outras metas. Que sabe o arrogante PML disso? Se não fossem eles onde estaríamos? Onde estaria a arrogância de PML? Ou doutros como ele, de barriga cheia a explanar teorias de solidariedade social…
E Durão Barroso fez o que pôde, como faria PML no lugar dele. Talvez pior ainda.
Artigo de Pedro Marques Lopes:
Tainha por cherne
1. O discurso com que os chefes de Estado e de governo da União Europeia se despediram de Durão Barroso foi feito por Angela Merkel. Não admira. O, até o dia 1 de novembro, presidente da Comissão Europeia, foi um venerador e diligente executor de todas as convicções, de todas as políticas, de toda a visão alemã para a Europa. O seguidismo foi tal que Durão Barroso deixou de contar. A partir de certa altura quem queria saber qual a posição da União Europeia perguntava primeiro aos representantes do eixo franco-alemão e depois simplesmente à chanceler alemã. As pessoas fazem, muitas vezes, os cargos, e Durão Barroso conseguiu transformar o seu numa espécie de sucursal dos interesses alemães.
Barroso seguiu o cherne da necessidade da expiação da culpa dos povos das economias periféricas. Esses malandros que viviam de bar em bar e gastavam à tripa-forra. Atacou com denodo o Tribunal Constitucional do seu próprio país e conseguiu fazer do FMI uma instituição equilibrada face ao fanatismo da Comissão que liderava. Colaborou activamente nas criminosas políticas que ajudaram a destruir ainda mais as economias periféricas e mais débeis e tornou-se uma espécie de campeão dos tremendos erros das troikas . No fim dos vários programas, as várias nações europeias não resolveram os seus problemas estruturais, pelo contrário, as suas economias ficaram mais frágeis, os Estados mais fracos, as comunidades mais desiguais.
Barroso deixa a União Europeia à beira da deflação, com um desemprego nunca visto (sobretudo jovem) e com as populações descrentes no projeto europeu. Nunca os partidos eurocépticos foram tão fortes e nunca houve tantas dúvidas sobre a convicção de que uma Europa unida seria boa ideia. Temos um conjunto de nações para quem a Europa deixou de ser uma prioridade e assistimos à renacionalização da política feita às claras.
Há quem diga que uma das vitórias de Durão Barroso teria sido a não morte da moeda única. Diria que o euro sobreviveu apesar do ex-primeiro-ministro português. Foram, em grande parte, as soluções que Durão Barroso apoiou que puseram em risco o euro e se há alguém a quem devemos a ainda existência da moeda única, muitas vezes contra corrente, é a Mario Draghi. Também podia referir-se em seu abono as vezes em que falou das eurobonds ou das necessárias alterações aos tratados europeus. O problema é que rapidamente esquecia as propostas ou mesmo se desdizia mal a Sra. Merkel ou o Sr. Schäuble contestassem as suas propostas.
Dizia Bernardo Pires de Lima, neste jornal, que Durão Barroso não tinha sido presidente da Comissão em tempos fáceis, mas que é nestas alturas que os políticos acima da média sobressaem. Não consigo sequer pensar, pelos resultados obtidos, em Durão Barroso como um político mediano. Provou ser simplesmente medíocre. Não admira que as instituições europeias e a própria União tenham chegado ao estado a que chegaram, tendo durante este período um político deste calibre, sequer formalmente, à frente dos seus destinos. O pior é que, às tantas, foi mesmo essa a intenção - mas isso é outra conversa.

Mais uma EFEMÉRIDE, chegada por email, que transcrevo, agradecida,  de outros tempos, sobre outros comparsas:  Por Paula Almeida:

Hoje, (aliás, ontem) 28 de outubro1938
 Os nazis prendem 17 mil judeus de nacionalidade polaca a viver na Alemanha, expulsando-os de seguida para a Polónia, que lhes recusou  a entrada, deixando-os na "Terra de Ninguém", perto da fronteira com a Polónia, durante vários meses. 1939 - Em Berlim, Himmler emite decreto sobre o Lebensborn, exortando as mulheres solteiras da Alemanha a dispensar o "costume burguês" do casamento para ter filhos racialmente puros. 1940 -  A Itália invade a Grécia. Hitler e Mussolini encontram-se em Florença. Hitler esconde a sua raiva por não ter sido informado dos planos dos italianos e diz que tropas alemãs estão disponíveis se for necessário para manter os britânicos fora da Grécia e longe do petróleo romeno. 1941- O primeiro  transporte  vindo de Terezin chega a Auschwitz. 1944  O último transporte vindo de Terezin, com 2.000 judeus para serem gaseados, chega a Auschwitz. O armistício URSS-Bulgária é assinado em Moscovo. Existem orientações para a integração das tropas búlgaras no sistema de comando soviético, o que na prática já acontecia.

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