Nunca
mais os ouvi, farta que estou de espectáculos de riso sem compostura
pela TV, que de vez quando vira botequim ruidoso, de vozes explodindo,
frases que se entrecruzam com mais ou menos graça. No caso do Eixo do Mal preferencialmente
largando sentenças, por vezes pedantes, na convicção arrogante da sua verdade –
embora a cultura da Clara me encantasse, e também o discurso trapalhão do Luís
Pedro fosse o que, por vezes, mais me agradasse pela sensatez, por muito boba
que se revelasse, no seu cozinhado expositivo.
Mas procurando os artigos de Alberto Gonçalves,
deparou-se-me a magnífica caricatura de Durão Barroso, no DN de
26/10/14, por André Carrilho, uma mão na bandeira europeia
apontando a saída àquele, todo fora dela e das suas doze estrelas, como pássaro
de gordo bico e de olho meio fechado no esconderijo arguto da sua
interiorização, mas vivo em saberes, a preparar novos voos vivenciais. E a
caricatura levou-me ao artigo de Pedro Marques Lopes sobre o
ex-presidente da Comissão Europeia.
Um artigo humilhante sobre DB, humilhante para nós
também que produzimos destes seres sem iniciativa própria, robôs
telecomandados, de que P.M.L. explica as origens da manipulação, provocando a
indiferença ou o desprezo dos comparsas europeus, pelo untuoso e a opacidade
das suas actuações apagadas.
Não sei se foi assim tão grave. Eu não gostava
sobretudo dos seus discursos em inglês, muito mastigados, como se tivesse papas
na língua. Ouvi-o defender a necessidade do euro para nós, apoiando Passos
Coelho, sempre o ouvi apoiar Passos Coelho e fiquei-lhe grata por isso. Nem
todos o fizeram nem fazem, Marques Lopes sendo um deles, atraiçoando-o com a
sua crítica destrutiva, o que não abona sobre a sua própria idoneidade moral,
seguindo ele o mesmo partido, trazendo-me à memória imagens passadas da
multidão que virou comunista e outros istas aquando do reviralho. PML,
pontapeando o Governo com tanta garra, prepara-se para assumir futuramente um
posto de amizade no próximo reviralho.
Se as políticas da Sr.ª Merkel arrasaram a economia
europeia, como se grita e PML mais alto ainda, penso que os que nos governaram
deram origem há muito a este descalabro. Talvez a Sr.ª Merkel e o FMI não
pudessem seguir outras metas. Que sabe o arrogante PML disso? Se não fossem
eles onde estaríamos? Onde estaria a arrogância de PML? Ou doutros como ele, de
barriga cheia a explanar teorias de solidariedade social…
E Durão Barroso fez o que pôde, como faria PML no
lugar dele. Talvez pior ainda.
Artigo de Pedro
Marques Lopes:
Tainha por cherne
1.
O discurso com que os chefes de Estado e de governo da União Europeia se
despediram de Durão Barroso foi feito por Angela Merkel. Não admira. O, até o dia
1 de novembro, presidente da Comissão Europeia, foi um venerador e diligente
executor de todas as convicções, de todas as políticas, de toda a visão alemã
para a Europa. O seguidismo foi tal que Durão Barroso deixou de contar. A
partir de certa altura quem queria saber qual a posição da União Europeia
perguntava primeiro aos representantes do eixo franco-alemão e depois
simplesmente à chanceler alemã. As pessoas fazem, muitas vezes, os cargos, e Durão
Barroso conseguiu transformar o seu numa espécie de sucursal dos interesses
alemães.
Barroso
seguiu o cherne da necessidade da expiação da culpa dos povos das economias
periféricas. Esses malandros que viviam de bar em bar e gastavam à
tripa-forra. Atacou com denodo o Tribunal Constitucional do seu próprio país e
conseguiu fazer do FMI uma instituição equilibrada face ao fanatismo da
Comissão que liderava. Colaborou activamente nas criminosas políticas que
ajudaram a destruir ainda mais as economias periféricas e mais débeis e
tornou-se uma espécie de campeão dos tremendos erros das troikas . No fim dos
vários programas, as várias nações europeias não resolveram os seus problemas
estruturais, pelo contrário, as suas economias ficaram mais frágeis, os Estados
mais fracos, as comunidades mais desiguais.
Barroso
deixa a União Europeia à beira da deflação, com um desemprego nunca visto
(sobretudo jovem) e com as populações descrentes no projeto europeu. Nunca os
partidos eurocépticos foram tão fortes e nunca houve tantas dúvidas sobre a
convicção de que uma Europa unida seria boa ideia. Temos um conjunto de nações
para quem a Europa deixou de ser uma prioridade e assistimos à renacionalização
da política feita às claras.
Há
quem diga que uma das vitórias de Durão Barroso teria sido a não morte da moeda
única. Diria que o euro sobreviveu apesar do ex-primeiro-ministro português.
Foram, em grande parte, as soluções que Durão Barroso apoiou que puseram em
risco o euro e se há alguém a quem devemos a ainda existência da moeda única,
muitas vezes contra corrente, é a Mario Draghi. Também podia referir-se em seu
abono as vezes em que falou das eurobonds ou das necessárias alterações aos
tratados europeus. O problema é que rapidamente esquecia as propostas ou mesmo
se desdizia mal a Sra. Merkel ou o Sr. Schäuble contestassem as suas propostas.
Dizia
Bernardo Pires de Lima, neste jornal, que Durão Barroso não tinha sido presidente
da Comissão em tempos fáceis, mas que é nestas alturas que os políticos acima
da média sobressaem. Não consigo sequer pensar, pelos resultados obtidos, em
Durão Barroso como um político mediano. Provou ser simplesmente medíocre. Não
admira que as instituições europeias e a própria União tenham chegado ao estado
a que chegaram, tendo durante este período um político deste calibre, sequer
formalmente, à frente dos seus destinos. O pior é que, às tantas, foi mesmo
essa a intenção - mas isso é outra conversa.
Mais uma EFEMÉRIDE, chegada por email, que transcrevo, agradecida, de outros tempos, sobre outros comparsas: Por Paula Almeida:
Hoje,
(aliás, ontem) 28 de outubro1938
Os nazis prendem 17 mil judeus de
nacionalidade polaca a viver na Alemanha, expulsando-os de seguida para a
Polónia, que lhes recusou a entrada, deixando-os na "Terra de
Ninguém", perto da fronteira com a Polónia, durante vários meses. 1939 -
Em Berlim, Himmler emite decreto sobre o Lebensborn, exortando as mulheres
solteiras da Alemanha a dispensar o "costume burguês" do casamento
para ter filhos racialmente puros. 1940 - A Itália invade a
Grécia. Hitler e Mussolini encontram-se em Florença. Hitler esconde a sua raiva
por não ter sido informado dos planos dos italianos e diz que tropas alemãs
estão disponíveis se for necessário para manter os britânicos fora da Grécia e
longe do petróleo romeno. 1941- O primeiro transporte
vindo de Terezin chega a Auschwitz. 1944 O último
transporte vindo de Terezin, com 2.000 judeus para serem gaseados, chega a
Auschwitz. O armistício URSS-Bulgária é assinado em Moscovo. Existem
orientações para a integração das tropas búlgaras no sistema de comando
soviético, o que na prática já acontecia.
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