Ao
contrário de Alberto Gonçalves, votei sempre no CDS desde a primeira hora,
atida a (pre)conceitos de um amor pátrio que sempre me pareceu partilhado por esses
a quem também pareceram repugnar as tramóias que desde a primeira hora, e com a
rapidez dos tornados, mas de cravo cínico na botoeira, fez ir pelos ares todo
um mundo de estabilidade, de afectos, de ideologias mantidas no sentimento do maior
ou menor livre arbítrio de cada um, com espírito crítico, naturalmente, mas
sabendo distinguir os esforços equilibristas dos dirigentes de uma nação
dependente do exterior ultramarino, que antepassados corajosos lhes tinham
deixado de herança e que um piparote repentino dos
novos heróis apagou de vez, indiferentes às tragédias provocadas. Mas o povo,
politizado à pressa com os lugares-comuns de uma pseudo-igualdade social,
desses afectos pela história pátria não entendia e julgou que um maná bíblico,
a que tinha pleno direito, lhe ia cair sobre a cabeça, com a generosa
intervenção dos libertadores da opressão e o CDS foi esmorecendo no apoio votante
a ele prestado. Para governar teria que se coligar com o parceiro a seguir,
para tentar segurar ainda a nau proveniente do grande naufrágio. A generosidade
de um tratado de União Económica Europeia, felizmente, proporcionou farturas e
desenvolvimentos que se demonstram num país mais aberto e bonito, mas os gastos
foram excessivos e a corrupção também.
Quando Passos Coelho surgiu em cena, eu julgava-o
apenas mais um dos que levianamente se utilizavam dos dinheiros alheios sem
pensar em saldar a dívida monstruosa. Não foi assim, contudo. Três anos de
exigência e de provação, o Governo de Coligação foi em frente com o seu
projecto, mau grado os pruridos dos economistas anunciadores da destruição
económica e das perversões altissonantes e desestabilizadoras dos manipuladores
dos direitos populares que uma democracia estridente e tacanha ergue como bandeira,
indiferente a princípios morais que exigem a remissão das dívidas.
Havendo
resultados positivos na governação, esses são ignorados contudo, para, já que
não conseguem expulsá-lo da cena, se pesquisarem os “podres” de um homem que talvez tenha algo
obscuro no seu passado económico, mas que patrioticamente se tem esforçado por
seguir numa linha de honradez e de sacrifício que sabemos indispensável, ao
menos para nos erguer o moral. E apesar de tudo, o povo colabora no sacrifício,
ajudando filhos e netos, para desfazer em parte as consequências nefastas dessas
políticas de rigor obrigatórias para gente formada na honradez de princípios.
Mas muitos do próprio partido se lhe opõem, as convicções de desastre económico
escondendo a fúria da perda das prebendas, mesmo sabendo-as de empréstimo. E as
perguntas dos e das deputadas na assembleia, insistentes sobre o dinheiro ganho
por Passos Coelho no tal caso Tecnoforma e a forma como o gastou, não lhe dando
uma hipótese de poupança, foram por demais ridículas nessa farsa em que, como sempre,
Passos Coelho respondeu com bom timbre e compostura, provavelmente no desprezo
pelo pedantismo idiota dos e das questionadoras.
Alberto
Gonçalves terá razão, pois, na forma um tanto drástica com que, condenando
Passos Coelho, o admite como superior aos outros numa governação para todos os
efeitos necessária, minimizando de certa forma a burla num país que protesta
mas que alinha no deixa-andar da falcatrua. Eu admiro Passos Coelho e não acho deprimente o seu Governo.
Eis
o artigo de Alberto Gonçalves, do DN, 28/9/14
A
higiene da casa
À
semelhança do que acontece no futebol, em que todos roubam o que podem e só os
adversários o fazem com acinte, a moralidade, no país dos partidos e dos
fanáticos dos partidos, é questão de perspectiva. Mesmo que se desconfie, ou
até se prove, que Fulano desvia fundos comunitários, aceita subornos e nas
horas vagas atropela velhinhas por gozo, os seus fiéis estarão sempre prontos a
ignorar os deslizes do chefe na medida em que Sicrano, o chefe dos rivais,
também escapou a umas multas por estacionamento em 1982 (ou ao atropelamento de
velhinhas em 2005).
Vem
isto a propósito do "caso" Tecnoforma. A título de esclarecimento,
noto que votei nos senhores que nos governam, por exclusão de partes e talvez
por incúria. Informo ainda que acho o Governo em funções uma coisa deprimente,
se bem que menos nocivo do que os antecessores e os candidatos a sucessores.
Se, contas feitas, PSD e CDS não mudaram quase nada do que se impunha e
preservaram quase tudo o que se evitava, acredito que Portugal estaria bastante
pior se o Eng. Sócrates tivesse continuado a sua senda de "momentos
históricos" e voltará a piorar imenso se o Dr. Costa (em princípio) pegar
um dia nisto.
As
referências ao PS, porém, terminam aqui. Não pretendo evocar o Freeport, a
Universidade Independente, os projectos na Guarda, as escutas do Face Oculta,
os apartamentos de Lisboa e Paris e, lá está, as violações do regime de
exclusividade parlamentar a fim de relativizar o que apenas os ceguinhos, ou os
portugueses, se me permitem a redundância, relativizariam. As alhadas de Pedro
Passos Coelho não se desculpam através da culpa alheia.
E
a alhada em questão, revelada pela revista Sábado e entretanto assaz popular,
resume-se aos 150 mil euros que o Dr. Passos Coelho terá recebido indevidamente
entre 1995 e 1999 (por causa da exclusividade do deputado que então ele era) e
omitido ao exacto fisco que agora nos consome com sofreguidão. Embora a certeza
do crime esteja por apurar, não confortam as garantias de honestidade
fornecidas pelo próprio, além dos pedidos ao Parlamento e à Procuradoria-Geral
da República para que o ajudem a recordar se recebeu ou não uma quantia que,
com sorte, o cidadão médio demora dez anos a ganhar. Por incrível que pareça,
residir em Massamá e voar em turística não asseguram a honra de um homem.
Se
a história se provasse, não importaria a palavra dada à AR, a baixeza da
denúncia anónima, a estabilidade, o futuro, o passado de trapalhadas que outros
cometeram: o Dr. Passos Coelho deveria demitir-se. Mas não se demitirá, visto
que os obstáculos do costume impedem que se saiba a verdade e a verdade não
preocupa o eleitorado, que já condenou ou absolveu o primeiro-ministro de
acordo com antipatias ou simpatias prévias. Quem hoje exige a queda do Dr.
Passos Coelho defendia ontem o radioso currículo do Eng. Sócrates contra a
"cabala". E quem ontem atacava o descaramento do Eng. Sócrates apoia
hoje a firmeza do Dr. Passos Coelho. A política é suja porque o País não é
muito limpo.
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