Três títulos: «O escritor Fantasma»,
de 12/10, «As fitas que as elites fazem», de 5/10, «Os Direitos do
indivíduo», de 8/10, nos «Dias contados» do DN de Domingo, 12/10, por Alberto Gonçalves, desaparecido
o “FÓRUM” do DN, ou Alberto Gonçalves desaparecido do FÓRUM do DN,
para partilhar com outros a rubrica “OPINIÃO”, necessariamente com menos relevo
do que a rubrica anterior, o que lamento, por reconhecer em Alberto
Gonçalves competência para ocupar sozinho o seu estrado forense, como
caso de originalidade discursiva e sanidade moral que não se pode confundir com
as lambedelas críticas a que foi emparelhado, juntamente com a banalidade de
frases do dia mais ou menos piegas ou de significado banal.
O primeiro seu artigo é sobre José
Saramago, sobre a última obra do Nobel, incompleta, preenchido o volume com
páginas de louvor, não sei se póstumo, páginas de anotações, desenhos, e
finalmente as 57 páginas do tal “Alabardas, Alabardas, Espingardas,
Espingardas”, enxerto polémico, na opinião exultante de Saramago, como
os seus demais livros, como tinha gosto em pré-avisar. Não conhecendo o livro, não
poderei apoiar Alberto Gonçalves na sua crítica, mas parece-me viável, pelo
sentimento de impotência nacional que ele representa, contra o aproveitamento
que cá se faz do “galardão” para lançar uma obra mesmo incompleta e sem
préstimo, na opinião saudável de um escritor – Alberto Gonçalves – para reconhecer
tanto de autênticas aventesmas que se publicam, a coberto do nome e da
notoriedade atrevida, num país de bajulices e de penúria mental, dentro de
uma “intelectualidade” pretensiosa e insensata tantas vezes.
Na mesma linha crítica, a propósito da subjectividade das
elites intelectuais – no caso presente, sobre uma opinião empolada, numa
entrevista a António-Pedro Vasconcelos (APV), - quer a respeito de si como
realizador de cinema, quer sobre a sua opinião a respeito de António Costa - de
que Alberto Gonçalves discorda: E conclui: «Ninguém estranhará que APV,
vulto da Cultura com maiúscula, despreze o Prof. Cavaco, subido dos Algarves e
da classe média rural. Já é esquisito que o seu elevado grau de exigência se
satisfaça com o Dr. Costa, o portento que geriu bastante melhor a carreira
política do que uma mera autarquia. Em larga medida, é o mesmo que escarnecer
de José Cid para louvar os méritos do cançonetista Toy. Mas é justamente essa a
especialidade das nossas elites, que APV representa na perfeição. E se as
elites traduzem um país, pobre país . »
Quanto a Marinho Pinto, tem sido
tanta a pesporrência dramática da sua actuação como embaixador da causa
própria, e tão desconforme a sua falta
de sobriedade de manifestação - desconcertante, vaidosa, arrogante, tenebrosa de
burrice palavrosa e vã, que o texto de Alberto Gonçalves é absolutamente
incontornável:
1º Texto: O escritor fantasma
Uma
última viagem na sua permanente vocação para agitar consciências, diz o anúncio
da Porto Editora. Um acto revolucionário, diz o juiz espanhol Baltasar Garzón.
Saramago vintage, diz o editor brasileiro do falecido escritor. Saramago no seu
melhor, diz o editor português. Uma obra divertida, diz Eduardo Lourenço.
Tudo
isto a propósito de "Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas",
o dito romance inacabado de José Saramago. Na verdade, de romances inacabados
está o mundo cheio. Alabardas inaugura um género novo, o dos romances
praticamente por começar.
Não
é que não haja um livro: há, aliás com 135 páginas. Seis são notas do autor.
Cinquenta são textos de outros autores sobre o autor e o produto em causa. Dez
são índices, ficha técnica e diversos. Doze são desenhos de um antigo membro
das Waffen-SS. Sobram 57 folhinhas, impressas em fonte crescida e a dois (ou
três) espaços. Ninguém se deve admirar se, no mês que vem, publicarem os
últimos post-it que Saramago colou no frigorífico, em cinco volumes repletos de
ensaios alheios, bonecos para colorir e a oferta de uma echarpe em tons marrom.
Meia dúzia de críticos hão-de considerar estarmos perante um momento de ruptura
na cultura universal.
Num
certo sentido, Alabardas consagra de facto o estilo do Nobel caseiro, que em
vida fazia questão de anunciar, ele próprio, o carácter polémico de cada livro
antes mesmo de o livro chegar ao público. Um boa estratégia, até porque quando
o livro chegava ao público não acontecia nada de especial - excepto se o
público se chamava Sousa Lara. Devido a condicionantes óbvias, agora o anúncio
da polémica ficou a cargo de terceiros, mas o processo é idêntico e com uma
vantagem: se o hábito consiste em privilegiar a algazarra em detrimento do
conteúdo, desta vez o conteúdo quase não existe e a algazarra abunda. Saramago
vintage, de facto. E, desde que ignoremos os pechisbeques anexos, a minha obra
preferida dele. As outras não se liam em horas. Conto não ler esta em vinte
minutos.
2º texto: As fitas que as elites fazem
Deixem-me
citar António-Pedro Vasconcelos (APV), em entrevista ao DN a pretexto do seu
recente filme: "(...) Isso levou-me a pensar muito no Frank Capra e no
Vittorio De Sica, que fizeram filmes em momentos de crises terríveis, mas sem
deitar as pessoas abaixo. A questão é que o Capra tinha o Roosevelt e nós temos
o Cavaco. É um bocado diferente. O neorrealismo partiu de coisas atrozes como a
guerra e o fascismo, mas havia um horizonte de esperança."
Passemos
ao ponto da situação. Para APV, APV é um cineasta comparável a Capra e a De
Sica. Roosevelt suscitava admiração. O fascismo permitia, ou até estimulava, o
optimismo. A Depressão e a II Guerra eram preferíveis à austeridade da troika.
E o Prof. Cavaco é o mais reles dos estadistas, tão mau que embora presida ao
regime que subsidia as pérolas de APV, indirectamente impede um génio do
calibre de APV de fazer o tipo de fitas que os seus heróis fizeram.
Porém,
APV faz outras fitas. Entre elas, apoia António Costa. E não se trata de um
apoio casual: APV foi a acções de campanha do homem, apareceu excitadíssimo na
noite da vitória nas primárias, atribui-lhe virtudes como a "paixão",
o "rigor" e a "seriedade".
Ora
aqui é que a coisa se complica. Ninguém estranhará que APV, vulto da Cultura
com maiúscula, despreze o Prof. Cavaco, subido dos Algarves e da classe média
rural. Já é esquisito que o seu elevado grau de exigência se satisfaça com o
Dr. Costa, o portento que geriu bastante melhor a carreira política do que uma
mera autarquia. Em larga medida, é o mesmo que escarnecer de José Cid para
louvar os méritos do cançonetista Toy. Mas é justamente essa a especialidade
das nossas elites, que APV representa na perfeição. E se as elites traduzem um
país, pobre país.
3º Texto: Os direitos do indivíduo
Marinho
e Pinto prometera um striptease do salário e fê-lo em meros 17 dias, pelo que
demorou apenas um pouco mais que o striptease literal da dançarina exótica
média. Infelizmente (ou felizmente, que aqui a doutrina divide-se), ficou uma
peça de roupa por tirar, ou por declarar ao TC: os 54 mil euros que Marinho e
Pinto recebeu da Ordem dos Advogados a título de subsídio de "reinserção
na actividade profissional". "É vida privada", explicou o homem
que veio purificar a política.
E
"privada" é favor. O tal subsídio foi criado em 2008 pelo então
bastonário da Ordem, por coincidência Marinho e Pinto. "Tudo o que fiz foi
de acordo com a lei e com as regras estabelecidas", afirma o justiceiro,
sem falsos pudores perante o facto de a lei e as regras serem da autoria dele
ou de confrades dele. Ao mesmo tempo, e talvez sem dar por ela, Marinho e Pinto
estabelece uma mudança radical na relação dos contribuintes com o fisco. Se o
precedente vingar, a partir de agora é o cidadão que decide qual a parte dos
rendimentos susceptível de impostos e qual a parte isenta. Nunca antes se
defendeu tão bem os direitos do indivíduo, o indivíduo Marinho e Pinto, claro.
Os
direitos do indivíduo
Marinho
e Pinto prometera um striptease do salário e fê-lo em meros 17 dias, pelo que
demorou apenas um pouco mais que o striptease literal da dançarina exótica
média. Infelizmente (ou felizmente, que aqui a doutrina divide-se), ficou uma
peça de roupa por tirar, ou por declarar ao TC: os 54 mil euros que Marinho e
Pinto recebeu da Ordem dos Advogados a título de subsídio de "reinserção
na actividade profissional". "É vida privada", explicou o homem
que veio purificar a política.
E
"privada" é favor. O tal subsídio foi criado em 2008 pelo então
bastonário da Ordem, por coincidência Marinho e Pinto. "Tudo o que fiz foi
de acordo com a lei e com as regras estabelecidas", afirma o justiceiro,
sem falsos pudores perante o facto de a lei e as regras serem da autoria dele
ou de confrades dele. Ao mesmo tempo, e talvez sem dar por ela, Marinho e Pinto
estabelece uma mudança radical na relação dos contribuintes com o fisco. Se o
precedente vingar, a partir de agora é o cidadão que decide qual a parte dos
rendimentos susceptível de impostos e qual a parte isenta. Nunca antes se
defendeu tão bem os direitos do indivíduo, o indivíduo Marinho e Pinto, claro.
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