Como sempre, assertivo,
conclusivo nas suas opiniões fundamentadas e estruturadas no estudo e na
inteligência crítica e por isso de grande dimensão histórica e humanista.
Naturalmente que o parti pris da subjectividade não deixa de fazer parte
dessas críticas formativas, na sua graça feroz.
Nem sempre concordo, mas admiro-o sempre.
Desta vez é sobre Passos Coelho, com passagem pelos outros do PS, com
fraca idoneidade, Seguro porque sem competência, na conversa mole, Costa porque
com arteirice, na conversa rija, e os outros do PSD que falharam – talvez por
excesso de trabalho – qualquer deles hercúleo, o da Educação e da Justiça.
Vasco Pulido Valente mostra-se
zangado, talvez decepcionado, retira a Passos a confiança definitiva sua e do
povo português, após o caso do escândalo – o da Tecnoforma. Esquecido das
pedradas bíblicas libertadoras de pruridos condenatórios dos condenadores
zelosos, por um Cristo de compreensão, já seguidor, talvez, do aforismo
clássico “errare humanum est”. Não, não creio que Pulido Valente tenha razão,
Passos Coelho é um jovem a ficar careca de preocupações, o sofrimento está-lhe
contido no nome de Passos, que Camões não deixa de frisar no seu “Tudo
passei”, verbo de raiz bem latina. Cometeu um erro. Era jovem, ambicioso,
mas assumiu o seu papel com uma força e seriedade de louvar, no cargo de pagar
uma dívida monstruosa proveniente de tantos erros de tantos que ainda aí estão,
palradores, politiqueiros, benfeitores de palavras fáceis, desviando de si as
pedras próprias. Pobre Passos Coelho, timoneiro a naufragar, mas olhando
corajosamente os astros da sua navegação à vela e defendendo os companheiros da
jornada! Eu defendo-o, porque o considero minimamente íntegro. Tal como foi
Salazar, no endireitamento e reconstrução de um país com os proventos próprios,
que a 1ª República deixara à deriva, e desde há tantos anos usando do
empréstimo do Estrangeiro.
Mas eles aí estão, os da nova
ordem rotativa, a querer participar, não para lançar o país para cima, mas para
deitar abaixo o Governo e manter os camaradas primeiros e a si próprios na velha
graça de Deus, dos seus heroísmos floridos e palreiros.
É isso que queremos? Valorizar-nos
pela palavra? Sobretudo a que deita abaixo o parceiro? Aquele lema “Um por
todos e todos por um” não encaixa em nós. Os mosqueteiros pertencem a outros
grupos étnicos, e, para já, passados. Agora o “Um contra todos e o todos
contra um” é o mais comezinho.
1ºTexto:
O
regime e os partidos
Vasco
Pulido Valente,
Público, 27/09/2014
A Monarquia caiu por causa da impopularidade da dinastia?
Não. D. Luís era um rei popular e D. Carlos até certo ponto também, porque o
público, e principalmente o povo urbano, o sabia anticlerical, bom copo e bom
garfo e, além disso, apesar da gordura, um notório femeeiro.
Claro
que D. Carlos cometeu um desastroso erro quando tentou reformar a monarquia,
sem uma organização de massas, com o único e solitário apoio de uma elite de
Lisboa e de alguns palacianos que o país detestava. Mas no “5 de Outubro”, se o
exército não resistiu aos militantes da Carbonária, foi porque não estava disposto
a defender os partidos que sustentavam o regime: o partido regenerador e o
partido progressista. Na essência, as queixas não variavam do que se diz do PS
e do PSD: programaticamente não se distinguiam, tinham caído na pior corrupção,
só pensavam no poder e nas suas clientelas. O exército, que talvez não se
importasse de sustentar o rei, não queria sustentar aquilo.
Por
isso, a partir de 1910, falharam sempre as tentativas de restauração. Voltar
atrás, muito bem. Excepto aos “rotativos” (o que se chama agora o “arco da
governação”). Só que, tirando os “rotativos” não existia nada. Basta imaginar
este nosso Portugal de 2014 sem o PS e o PSD. Qual deles seria capaz de
inspirar um país exausto e desesperado? E uma coligação seria um centro de
intriga mercenária e estúpida. Dada a inutilidade prática da extrema-esquerda e
do CDS, começaria por deslizar para um caos relativamente manso e tarde ou cedo
chegaria às mãos de um homem forte qualquer.
O
episódio da “Tecnoforma”, qualquer que seja o seu fim, impedirá Passos Coelho
de readquirir o respeito do cidadão comum e, por isso, em última análise, a sua
presente autoridade sobre o partido. Se o PSD perder as legislativas de 2015,
ficará por força à mercê das luzes de meia dúzia de autarcas, que, além de não
se interessarem pelo país, vêem tudo pela fresta dos seus negócios locais. Do
lado do PS, a campanha das primárias não serviu, como Seguro julga, para
“democratizar” a eleição de um putativo chefe, serviu principalmente para nos
mostrar o partido por dentro; o ódio fraternal que é a força motora daquela
agremiação de ressentimentos. O partido não ganhará a famigerada “maioria
absoluta”, que por aí apregoa, e o seu destino não irá além de uma coligação
impotente, que, com ou sem o PSD, consumará o desastre.
2º
Texto:
Desculpa, desculpa
Vasco Pulido Valente
20/09/2014
Toda
a gente já sabia, e muito principalmente no ministério e na Procuradoria-Geral
da República, que a “plataforma informática” dos tribunais não fora
convenientemente preparada para a reforma judicial. E, como não fora, ficaram
parados 3,5 milhões de processos.
O
presidente do Instituto de Gestão Financeira e Equipamento da Justiça “assegurou”
a Paula Teixeira da Cruz que as coisas tinham corrido muito bem e estavam
prontas para começar. No dia seguinte, de advogados a simples cidadãos,
Portugal inteiro constatou que não estavam e o sr. presidente do instituto veio
dizer que esse “colapso” era previsível, “mas não havia forma de desenvolver
uma plataforma alternativa em tão curto espaço de tempo”. Este aviso
manifestamente não se aplicava a ele próprio, nem à ministra Teixeira da Cruz,
que desde 2011 trabalhava para esta mudança.
Perante
esta catástrofe, a senhora resolveu ir à televisão e pedir “desculpa”, como se
a “desculpa” a limpasse da irresponsabilidade do passado. Agora, conta que a
“plataforma” precisa de ser substituída rapidamente, porque corre o perigo de
estoirar de vez. Pedro Passos Coelho não achou necessário correr com a
ministra, que lá continua sentada a congeminar asneiras, em prol da Pátria. De
resto, o exemplo pegou. Nuno Crato, que tem meses para organizar a colocação de
professores, arranjou também ele maneira de provocar um tumulto ou deixar que
se provocasse um tumulto por causa de umas “bolsas” de professores que o
ministério organizou. A irritação surpreendeu o ministro, mas, seguindo o
exemplo da santíssima Teixeira da Cruz, lá apareceu muito lampeiro na
televisão, a pedir “desculpa” às suas vítimas e a explicar que a trapalhice era
o resultado de uma “fórmula matemática” errada.
O
dr. Passos também percebeu a terrível angústia do sr. dr. Crato e deixou que
ele permanecesse na 5 de Outubro, a ver se consegue aumentar a atávica
barafunda da Educação portuguesa. A semana passada o secretário-geral da
UGT falou com eloquência do “sentimento de orfandade” dos funcionários do BES,
com o recente retiro para o Estoril do dr. Ricardo Salgado, que tanto os
protegeu. Há por aí com certeza um arcebispo de Mitilene in partibus ou qualquer outro
beato que absolva os portugueses da negligência, da mentira, da
irresponsabilidade e da estupidez, como nós gostamos e nos damos bem.
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