Ouvi
hoje as sondagens da Universidade Nova, que, mal António Costa foi eleito, se
apressou a fazê-las e a revelar os resultados, que a RTP transmitiu, com o suspense
e a satisfação habitual de mexerico importante para mexer connosco e ficarmos cientes
do futuro próximo - na escalada que foi a vertiginosa subida do grande Costa,
apoiado pelos antigos parceiros que têm a mesma força sobre o partido como
sobre o próprio povoléu da passada – mas nunca ultrapassada – Grândola, que
essa dura e perdurará até que a voz lhes doa - aos velhinhos e aos descendentes
dos cantadores, que os há em barda no nosso país de fadistas e de samaritanos,
por outro lado sempre pronto a atacar Portas, que desce no cômputo das sondagens,
não se percebe bem porquê, talvez por ser inteligente e educado e a gente não admitir
disso no nosso escol de preferências, nós cá é a soco, como pretendia o
Damasozinho Salcede, engasgado com a proposta de se desdizer de uma atoarda
contra Carlos da Maia ou de se bater em duelo- “Qual bater-me! Eu sou lá homem
que me bata! Eu cá é a soco. Que venha para cá, não tenho medo dele,
arrombo-o...” É o que vamos continuar a fazer, com os Mários Nogueiras da
nossa lavra, a estender os punhos para arrombar.
Entretanto,
por dever de ofício, ando debruçada sobre o manual de História de Portugal do 5º e 6º anos, que
está organizado segundo um pensamento de combate à exploração – dos escravos
africanos – por altura dos Descobrimentos e dos tempos áureos de D. João V, e
do povo pedinte, que abandonava as terras na mira da côdea vinda do
Ultramar, e que pululava pela Lisboa do
monopólio comercial, que recebia bens do além-mar e os vendia à Europa a troco
dos cereais e das armas europeias. E os textos que acompanham as informações do
manual são de documentaristas que informaram sobre o que se passava, e muitas
vezes também exprobavam o que via. E os questionários orientados são dirigidos
à sensibilidade e à inteligência das crianças, sobre o que pensam dessas formas
de procedimento que mostram provocadoramente os contrastes entre a opulência de
uns e a miséria de outros, com fotos ou imagens expressivas.
Nos
meus tempos do liceu, a História Nacional era contada por um José Matoso, que
os rapazes intelectuais da altura, que já andavam às voltas com a Pide,
costumavam execrar, pelo tom glorificador do seu nacionalismo, na velha linha
de exaltação pátria que a mim nunca incomodou, pois nisso era acompanhada por
escritores que também amaram a pátria e jamais a conspurcaram com ditames
derrotistas, embora fizessem muitas vezes sentir as críticas do seu desassombro
humanista. Ao ler as páginas do 5º e 6º anos de História de Portugal actual,
julgo estar a ouvir o despejar de afrontas dos blocos de esquerda dos bons
sentimentos da fraternidade colhidos na reviravolta francesa. Ainda não cheguei
aos tempos de Salazar, mas não duvido de que lhe não reconhecerão virtude, os
autores do manual, e o 25 de Abril vai ser um fartote épico, semeado de cravos
rubros. Afinal, entre o tom glorificador de Matoso, mas com objectividade q.b.,
e o tom de diatribe venenosa que ignora nesse passado o “Quanto do teu sal são lágrimas de
Portugal, prefiro, sem dúvida, o Matoso que, apesar de tudo era mais extenso
em dados, além de não pretender instigar nos alunos sentimentos de tanto
negativismo em relação aos feitos dos antepassados.
Tudo
isto vem a propósito de mais um texto que li no DN de hoje, 17/10, sobre
António Costa e a sua escalada ascensional, à sombra dos muitos adeptos, já a
cair da tripeça - que a cadeira tão troçada donde caiu Salazar chega para todos
- de um Professor Universitário – Paulo
Pereira de Almeida – que se expande sobre as inépcias do Costa, já como
Presidente da Câmara, já como futuro Primeiro Ministro, a esconder na manga as
suas políticas, porque as não tem, sabendo que joga com subterfúgio e cinismo,
ao querer destruir o Governo de sujeição a uma dívida de atrocidade, numa
política de sacrifício que ele próprio terá que seguir também, comandado pelos europeus
do empréstimo.
E
a sondagem mostra que o povo está de esperanças, e os comentários torpes e
toscos dos comentaristas de Paulo Pereira de Almeida na Internet e o alarde televisivo
dos abraços de Costa e ao Costa, além das pesporrências sábias de Pacheco
Pereira na Quadratura, bruxuleando em torno de Costa, e com esgares vitriolados
para Passos, revelam como no país renasceram as certezas de um novo Abril.
O
texto de Paulo Pereira de Almeida:
Pensar a Segurança
As
recentes afirmações de altos responsáveis da Câmara Municipal de Lisboa (CML)
sobre as inundações em vários pontos centrais da cidade constituem - em si
mesmas - uma ameaça à segurança e à garantia de uma ação eficaz da parte da
Proteção Civil.
E
foi com uma enorme surpresa e incredulidade que pudemos, na passada
terça-feira desta semana, assistir a um conjunto de "esclarecimentos"
de diferentes dirigentes da CML que apontavam - de um modo certamente
concertado - para a "inevitabilidade" da ocorrência de
acumulações massivas de água da chuva na capital portuguesa. Foi assim
que - de uma maneira que é bem reveladora da sua serena
incompetência - o presidente da CML e atual líder do Partido
Socialista (PS) António Costa surgiu nos principais meios de comunicação
social a admitir que "nada" pôde, poderia, ou poderá, vir a ser
feito para evitar a repetição do caos em segurança urbana e proteção civil
que Lisboa viveu na passada segunda-feira.
Ora
acontece que - para além de serem profundamente preocupantes - as afirmações
de António Costa só podem deixar muito intranquilos todos os que habitam,
trabalham, circulam e vivem a cidade. Vejamos - pois - de uma maneira mais
concatenada, as razões de preocupação para cada um destes grupos de cidadãos.
Em primeiro lugar, e para os que trabalham e comutam todos os dias entre as
suas casas (muitas vezes fora de Lisboa) ficámos a saber que - em caso de
chuvas fortes e de outras intempéries - não está garantido que consigam
aceder ao seu local de trabalho ou regressar a sua casa depois do trabalho;
será, a todos os títulos e ironicamente, uma espécie de "greve
self-service" sem hora marcada dos potenciais transportes, o que só
encontra paralelo em cidades do terceiro mundo. Depois, em segundo lugar,
e para os que fazem das ruas de Lisboa o seu local de comércio e que já vivem
atualmente sobrecarregados de impostos e numa enorme crise, ficámos a
saber que a CML nada lhes garante em termos da segurança e da proteção dos
seus bens e dos seus espaços comerciais; ora para o presidente da
maior autarquia do País (e agora candidato a primeiro-ministro) só poderá ser
contraditório defender os mesmos comerciantes quando se trata de lhes pedir o
voto e agora, no momento em que se adivinham outras ambições, deixá-los à sua
sorte. Por fim, em terceiro lugar, e para os turistas e todos os que
circulam e vivem a cidade de diversas formas e em diferentes condições
sociais, ficámos ainda a saber que Lisboa tem um presidente que nada faz
(ou, pelos vistos, fará) para garantir a segurança de circulação e a
preservação dos espaços públicos. É que - note-se bem - se com uma
chuvada intensa mas curta Lisboa fica transformada no caos que se pôde
observar na segunda-feira, nem quereremos imaginar o que poderá suceder com
uma verdadeira tempestade, ou com um potencial nevão.
António
Costa é um político de uma escola que - aparentemente - não olha a meios para
atingir os seus fins. Para quem tem memória política, ainda se recordará dos
tempos em que Costa era ministro da Administração Interna e prometia que os
registos das câmaras de videovigilância nas estradas serviriam como prova
para punir as infrações dos condutores; e também se lembrará de quando, já
presidente da CML, Costa não hesitou em colocar em causa o trabalho do seu colega
de governo do PS Rui Pereira, então ministro da Administração Interna, em
nome de uma Lisboa mais segura.
Ironias
à parte, merecíamos melhor como candidato a futuro primeiro-ministro. »
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