segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Nós cá é a soco



Uma superpotência na Europa, por várias vezes mostrando as garras. Na 1ª Guerra, na 2ª Guerra, nesta 3ª guerra de aparência macia, mas que, tal como o polvo, que António Vieira considera o “maior traidor do mar”, com os seus” tentáculos e com aquele não ter osso nem espinha”, bastariam, talvez, para um paralelo de fortaleza e astúcia. Mas os Alemães não se revêem na  foto, até porque desconhecem o nosso Vieira, que muito barafustou, mas sem sucesso. Vejamos sempre:
«Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!»
Foi o que me lembrou o artigo “Lição de coisas” de Vasco Pulido Valente, saído no Público  em 17/10/2014, lição, como sempre, abundante em referências, sobre a força nazi, que indiscutivelmente é o que lembra, é nazismo, tão estrondosa segurança de visão na arte tentacular com que a Alemanha nacionalista se vai distinguindo, apesar dos percalços, e que hoje chegam da Roménia a Lisboa, de gente de periferia, mas que, segundo a canção, «é a menina bonita de quem tem olhos p’ra ver, moira sem alma nem lei, quis dar-lhe o Céu cor e luz, o nosso primeiro rei deu-lhe nova grei e o sinal da cruz.” Por isso estamos aviados, com o sinal da cruz e sempre na cola de um Sebastião salvador, ideia com que o próprio Vieira também compactuou e Pessoa idem aspas, inteligentes que foram, mas inegavelmente amantes da pátria e desejando para ela o melhor, mesmo chegado do exterior...
Vasco Pulido Valente sabe que o dobrar da cerviz de Passos Coelho, perante a srª Merkel, é coisa arrumada, embora, ao que parece, Costa pretenda dar murros na mesa da srª Merkel para que este povo continue a viver na abundância. A imagem do murro do Costa é como a do soco do Dâmaso, nós cá somos assim, a defender as nossas posições, confiantes no resultado do murro, acho que por falta de posses para outros meios de imposição mais fortes. De qualquer modo, jogada ou não, desses pactos económicos distantes, eu não quero ser ingrata para com a srª Merkel, que é valente e generosa, mas pessoa responsável. Os dinheiros das dívidas devem ser ressarcidos, mas entretanto eles permitiram desenvolver o nosso país, e até fizemos coisas nele de muito interesse social e turístico. O esbanjamento e a corrupção é que arrumaram connosco, mas se não fosse a mãozinha dos apoios europeus, não sei onde estaríamos, tanta foi a avalanche dos salteadores da arca cada vez mais perdida. Vasco Pulido Valente não quer descer da sua torre e confessar-se grato à Merkel, mas dá-o a entender, ao considerar a inutilidade do soco do Costa, e que a brandura de Passos, (que não precisa de ser de humildade – Passos é um homem corajoso e tenaz e patriota, já se viu –) é o único caminho a seguir.

Lição de coisas
V.P.V
«Segundo A. J. P Taylor, o problema da Alemanha é ser grande demais para a Europa. No século XX, isto levou a duas guerras que acabaram por envolver o mundo inteiro. Partindo do poder que tinham - e que, aliás, sobrestimavam - tanto Guilherme II como Hitler quiseram primeiro afirmar a sua supremacia na Europa e, depois, submeter o mundo. Os dois, como se sabe, falharam. Mas convém perceber por que razão. Em 1914, nenhuma potência podia em princípio resistir à Alemanha. O exército inglês, voluntário e minúsculo, não contava; o exército russo mal armado, desorganizado e sem vias de comunicação estratégica não valia muito; e a França, já derrotada em 1870 e agora enfraquecida por um constante conflito político, parecia eminentemente vulnerável.
Pior ainda, em 1914 a Alemanha era, tirando a América, o país com maior produção industrial do tempo. Esta quase ilimitada força inspirou ideias de conquista militar. E também de hegemonia económica. Na Europa central e, a seguir, na periferia. Com a derrota de 1918 e a de 1945, ficou só a segunda hipótese, a que Mitterrand eventualmente ofereceu a arma e a camuflagem do euro. Até ao colapso da União Soviética, a Alemanha (dividida) não interferiu com os vizinhos, bem guardada a leste e dependente da América a oeste. Mas no momento em que readquiriu a sua velha liberdade de acção voltou à velha política que a perdera duas vezes. Claro que desta vez a sua supremacia, na impossibilidade de ser militar, tomou a forma alternativa de domínio económico.
Nada impedia este exercício. A Rússia continuava na miséria; a América estava endividada e enfraquecida; e a França e a Inglaterra, apesar da retórica oficial, sem verdadeira influência externa. A Alemanha miraculosamente acordou como em 1914 dona da Europa e passou logo a impor a sua vontade à gente bárbara da periferia. Hoje manda, embora com boas maneiras, da Roménia a Lisboa, enquanto vai enredando as suas vítimas com tratados supostamente benéficos para a Europa, mas que realmente se destinam a consolidar a sua posição. O Orçamento para 2015 indignou por aí muito português. Quase ninguém percebeu que o “servilismo” perante a Alemanha é um facto da vida, não é nem um erro económico, nem a falta do “murro na mesa” que António Costa anda por aí a prometer. As coisas são como são.»
*      http://s.publico.pt/europa/1673110http://s.publico.pt/franca/1673110http://s.publico.pt/alemanha/1673110http://s.publico.pt/russia/1673110http://s.publico.pt/orcamento-do-estado/1673110http://s.publico.pt/economia/1673110http://s.publico.pt/opiniao/1673110
Mas recebi também um email, de Paula Almeida, contendo efemérides da 2ª guerra, traduzidas do inglês, de acontecimentos passados neste dia 27/10, que transcrevo como informações preciosas desse passado que vivemos na inocência, e que muito lhe agradeço:

1939 - Na Bélgica... o rei Leopoldo III declara, numa radiodifusão para os EUA, que a Bélgica está determinada a defender a sua neutralidade/  No Vaticano, o Papa Pio XII emite a sua primeira encíclica condenando o racismo, os ditadores e as violações de tratados/  Na Alemanha são feitos comentários e queixas nos jornais sobre a propaganda antinazi nos jornais belgas, sugerindo que esta é uma violação da neutralidade belga/  Em Berlim, Hitler ordena novamente aos seus generais que se prepararem para a ofensiva a ocidente. Na Frente Ocidental, surgem relatos de tropas alemãs reunidas no Saar, ao longo das fronteiras belga, holandesa e suíça e ao longo da costa alemã banhada pelo mar do Norte.
 Em Washington.... O senado norte-americano aprova as emendas à Lei da Neutralidade, que revoga o embargo ao abastecimento de armas /
1940 - Em Roma, os italianos informam os alemães sobre a sua decisão de invadir a Grécia/
1942 - No Norte de África... A Batalha de Alamein. Enquanto os britânicos se concentram no reagrupamento das suas forças, o que Rommel entende ser um enorme contra-ataque, é derrotado por uma pequena força britânica no Kidney Ridge. Outros ataques mais ao norte também não são bem sucedidos
1944 - As forças alemãs tomam a cidade de Banská Bystrica durante a Revolta Nacional da Eslováquia, facto que conduziu ao fim deste movimento/
Paula Almeida

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