Chegou-me
o jornal às mãos, com as fotos dos tais cúmplices, alguns mesmo que admirava,
nos seus discursos límpidos e sensatos, dos seus programas televisivos. De
resto, sabia que havia rede, várias vezes o explicitei, ciente de que só isso
justificaria a demora da Justiça e dos governos sucessivos em atalhar, além de
que os experientes das fábulas e dos mitos já mo tinham várias vezes alertado
para as manigâncias humanas, que o próprio Jeová se encarregara de punir nas
cidades e Augias de fazer limpar, em metáfora de currais e esterco de lavagem
hercúlea.
Mas
este artigo do CM, com fotos de tanta gente inesperada, deixou-me cilindrada.
Eu não gostava dos trejeitos da Manuela Moura Guedes, mas indignara-me com a
sua saída da TVI, em tempos, por ouvir opinar que fora ordem do nosso Sócrates,
ignorante de Platão.
Mas
as chamas vão mais depressa na questão das limpezas no nosso país do que a
nossa Justiça. E esses tais aprumadinhos no vestir e no falar, será que não
olham para trás arrependidos ou envergonhados? Recearão serem transformados em
estátuas de sal, tal como o foi a mulher de Lot, esta apenas por mórbida curiosidade? O sal purificante.. Qual história! Burros são os que não souberam penetrar na rede!
Quanto dó! Por eles, por nós, pelo país dos
heróis do mar reduzido a indignas cinzas por tantos malfeitores encartados.
Não, não precisamos de terroristas externos. Somos um país pródigo.
Os
cúmplices disto tudo
Eduardo Cintra Torres
CM, 15.10.17
Um tremor-de-terra
abalou o país: a acusação pública a um ex-primeiro-ministro e a líderes do
sistema económico-financeiro do país durante anos entre eles o Dono Disto Tudo,
Ricardo Salgado, o DDT. A acusação mostra a captura do Estado,
governo e empresas por um bando mafioso de colarinho branco, que não precisa de
pistolas porque está, é o poder. Revela o roubo e a distribuição, entre
mesquinhez e gigantismo principesco, de dinheiro roubado em última instância
aos portugueses e às empresas envolvidas e até a destruição deliberada duma das
maiores empresas nacionais, a PT, para servir a avidez do roubo. O bando levou
às últimas consequências a apropriação do Estado para interesses particulares —
é isso "o sistema". E a roubalheira, neste caso monstruosa, teve a
complacência silenciosa dos primogénitos e dos bastardos do
"sistema", incluindo PCP e BE. Já PSD e CDS, com algumas grandes
personagens também envolvidas em apropriações "sistémicas", quase
sempre com o DDT, andaram anos coçando-se em silêncio sobre o caso para que não
viesse ao espaço público o dito comum "mas vocês também andaram a
mamar".
Calhou, porém, que a Operação Marquês
fosse a "Operação Rato", porque este assalto foi realizado pelo PS.
A conivência de líderes, militantes e governantes de ontem e alguns de hoje
foi instrumental. Sabiam e calaram. Alguns sabiam e comeram também. O PS, mais
que os outros partidos do "sistema", do BE ao CDS, tornou-se o centro
organizado dum assalto e controle do Estado por cleptocratas, o que nunca
aconteceu com os outros partidos. Infelizmente, não se reformou. Nem fala do
assunto. Diz que sente "incómodo", mas só pelo dano de reputação. Não
há arrependimento, assunção de responsabilidade, mudanças. O
"sistema" quer sobreviver. Os cúmplices permanecem incólumes.
E, se sobrevivem no PS, os
cúmplices estão também em grandes escritórios de advogados que fazem a gestão
de danos do tremor-de-terra no komentariado, na RTP, SIC, TVI, em jornais. Na
TVI um ex-dirigente do PS que recebeu dinheiros de Sócrates comenta como se
nada fosse. Nada lhe perguntam, porque os cúmplices estão também entre
jornalistas, entre os "generais prussianos" que procuram esconder a
"Operação Rato" nos media que dirigem ou empregam. Andaram anos a
glorificar Sócrates e a defendê-lo desde que a operação judicial se tornou
pública em 2014. O "sistema" é resiliente e continua a controlar
parte dos media nacionais. Há muitos Cúmplices Disto Tudo andando por aí
gerindo danos, olhando para o lado e sacudindo a água do pesado capote.
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