Do blog “A
Bem das Nação” extraio o texto da jornalista Ana Sá Lopes que Henrique Salles
da Fonseca transcreveu no seu artigo “DIZ-SE
QUE HERR SCHÄUBLE É MAU!” tecendo em seguida considerações que, aceitando o repto que Ana Sá Lopes
usa em tom crítico a respeito do discurso optimista de reconstrução europeia pronunciado
pelo ministro alemão das Finanças, o desconstrói em sentido inverso ao da
jornalista portuguesa, com o seu habitual sentido crítico de moderação e
coragem em arrostar contra as demagogias dos que, estimulados na luxúria dos bons
sentimentos, têm uma visão unilateral de enfado contra os “ricos” causadores da
pobreza dos “explorados”, sem consentir na constatação de que as políticas de “largueza
económica” a todos beneficiou, mas estavam erradas porque eram dinheiros de
factura alheia que teríamos necessariamente que saldar com lágrimas.
Salles da
Fonseca inverte as premissas derrotistas de ataque ao discurso de Herr Schäuble escritas por Ana Lopes e usa os
considerandos daquele para provar que o seu optimismo é positivo e está certo.
E sobretudo defende as políticas dos governantes actuais, que tentam corrigir o
muito que se errou, na avalanche de serviços que foram distribuídos, na acomodação
às incompetências e faltas de profissionalismo de grande parte, em que éramos
useiros e vezeiros.
Talvez que
se crie, de facto, uma consciência de que é necessário ser-se sério no
trabalho, embora o desemprego atinja desbragadamente tantos que são competentes e sem culpa.
Mas o texto
crítico de Salles da Fonseca aponta um caminho de confiança e de esperança,
contrariamente ao dos “profetas da desgraça”. A verdade é que o Governo tenta
atamancar a crise do desemprego com os subsídios temporários, na mira de uma
mudança positiva, o que mostra que não é – nem podia ser - insensível às aflições que causa, não por
vontade própria mas a isso forçado.
Um texto,
como sempre, temerário, o de Salles da Fonseca, que sabe quanto este tipo de
comentários está fora do âmbito dos habituais esclarecedores da verdade.
«Diz-se que
«O ministro alemão das
Finanças ignora de modo grotesco a crise social europeia»;
Herr Schäuble afirma: “Ignorem os profetas
da desgraça. A Europa está a ser consertada.”
E mais se diz que
«O mundo, visto de
Berlim, é quase perfeito: “A receita está a funcionar, para desgosto dos
numerosos críticos nos media, nas universidades e nas organizações políticas
internacionais. O ajustamento era ambicioso e, por vezes, doloroso, mas a sua
implementação é flexível e adaptável. As redes de segurança europeias
providenciaram uma mistura bem calibrada de incentivos e solidariedade para
amortecer o sofrimento.
O texto de Herr Schäuble
é assustador porque é um dogma de fé. As “organizações internacionais” e as
“universidades” bem podem produzir estudos – que, entretanto, se têm vindo a
comprovar – sobre os riscos da política económica seguida pela Alemanha que, do
alto do seu poder e da sua religiosidade intrínsecas, Schäuble ignora-os. A
crise social nos países do Sul, os 27,8% da população grega sem emprego, os
16,5% de portugueses sem emprego, os 26,3% de espanhóis sem emprego e os 17,3%
de cipriotas sem emprego não entram nas contas de Herr Schäuble.
O ministro alemão das
Finanças ignora, de um modo grotesco, a mais grave crise social depois do fim
da Segunda Guerra, afirmando que, “em apenas três anos, os custos unitários de
trabalho e a competitividade estão rapidamente a ajustar-se (...) e os défices
a desaparecerem”. A recessão na zona euro acabou.
O mais traumático no
texto de Herr Schäuble, mesmo que tenha sido escrito na semana decisiva de uma
campanha eleitoral onde o seu posto está a votos, é que ele despreza
ostensivamente a realidade e, nomeadamente, os números. O final do texto é
particularmente esclarecedor da arrepiante mistura de fé com bruxaria: “Os
sistemas adaptam-se, as tendências mudam. Por outras palavras, o que foi
partido pode ser reparado. A Europa de hoje é a prova.”
É extremamente grave o
delírio de Herr Schäuble. Mas o mais grave ainda é que ele se pega.»
Ana Sá Lopes
publicado em 18 Set. 2013 – http://www.ionline.pt/iopiniao/herr-schauble-delirio-pega-se.
E, contudo, sou da opinião de que Schäuble está dentro da razão.
Porquê?
Porque:
- A Europa do Sul
foi tomada por uma classe de políticos que não hesitou em «comprar» votos
usando a demagogia paga com dinheiros públicos e daí surgiram
os défices públicos;
- A Europa do Sul
sempre gostou muito mais de folgar nas belas praias (o famoso licenciado
em «5º ano de praia») do que estudar nos livros, daí a grande deficiência
na instrução e formação e, daí, a pobreza estrutural dos PIB's com
inerente dependência económica externa e consequentes dívidas privadas;
- Os políticos da
Europa do Sul convenceram as suas populações de que é aos ricos que
cumpre pagar a crise travestindo esse conceito marxista na famosa
«solidariedade europeia»;
- A Europa do Sul
contou com todos esses ovos na cloaca da galinha e agora diz que os
culpados são os ricos que não querem pagar a factura dos seus dislates,
da sua «dolce vita»;
- O escol de cada
povo da Europa do Sul (não confundir com Governos nem com políticos
demagogos) já percebeu que a mudança era inevitável e urgente;
- O escol de cada
povo da Europa do Sul rapidamente se apercebeu de que ele
próprio teria que ser o agente dessa mudança não esperando pelas
medidas de política sempre emperradas por Tribunais Constitucionais e
organizações quejandas;
- O escol de cada
povo da Europa do Sul não perguntou aos Governos o que deveria fazer:
fez!
Schäuble tem razão: a Europa do Sul está a
safar-se, a modificar estruturalmente os «modelos de desenvolvimento» que a
atiraram para o abismo acabando com as actividades que se revelaram perniciosas
e a desenvolver as que são efectivamente virtuosas, a substituir inaptos
profissionais por gente profissionalmente competente, a exportar em vez de
chorar sobre a ruína dos respectivos mercados domésticos.
O que os Governos forem fazendo sempre há-de
ajudar alguma coisa mas o escol de cada povo da Europa do Sul não conta com
esse tipo de ovos na cloaca das galinhas.
E, se necessário, há-de-se inventar galinha sem cloaca!
Setembro de 2013»
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