Um passeio sintético e objectivo pelos meandros de uma
história de horror que vamos acompanhando, no meio dos nossos próprios fogos,
como aqueles, obedecendo a interesses económicos ou de domínio, de retaliações,
de forças destruidoras, e por isso apelativas de um “deus ex machina” que
solucione os problemas da Síria. Os aviões Canadair, vindos do ar e trazendo
água, funcionam no teatro do nosso horror nacional, para solução momentânea,
ajudando bombeiros e populações para solução imediata, embora a tragédia a
longo prazo, de incúria, crime e impunidade fiquem de fora da sua solução.
Os Estados Unidos poderão obedecer ao apelo dos sírios
rebeldes, com o apoio da Turquia e parceiros de segurança, por ora reticentes,
para a solução mirabolante imediata do sofrimento desses Sírios rebeldes –
sunitas – agora atacados por armas químicas de origem desconhecida. O tal “deus
ex machina” de um ocidente favorecendo, ao contrário do que anuncia, uma continuidade
de luta religiosa entre sunitas e xiitas, a pretexto de generosa retaliação
desse crime do uso de armas químicas sobre civis inocentes, poderá desencadear
mais tragédia incontrolável a nível mundial. Não será “deus ex machina”, mas um
deus maquinador, que ao defender o seu poderio, contra o poderio russo e congéneres,
vitimizará o mundo inteiro em conflito de consequências imprevisíveis. E o
mundo inteiro espera, assustado, talvez antes uma intervenção divina que lhe vá
atamancando a vida “tant bien que mal”, na sua continuidade precária.
O texto de António da Cunha Duarte Justo «POBRE SÍRIA PARA ONDE
VAIS -A
guerra muçulmana entre Sunitas e Xiitas ao serviço dos EUA e dos lóbis de
armamento internacional», postado no blog “A bem da Nação”, é uma
explícita página sobre a questão:
«A Síria é o palco da
guerra muçulmana entre a confissão dos xiitas e a dos sunitas. A luta de influências
entre os dois grupos é bem-vinda aos países da Nato porque lhe oferece a
oportunidade de combater a influência russa na região e de fortalecer a Turquia
como bastião avançado da NATO numa região que se pode estender pela Ásia
Central, Rússia, Cáucaso, China, etc. Com a intervenção militar dos EUA, o
Ocidente quer fomentar a soberania do islão sunita (Turquia) sobre o islão
xiita (Irão). A Nato com a Turquia e a Arábia Saudita apoiam os rebeldes
sunitas e a Rússia com o Irão apoiam o governo sírio e os rebeldes xiitas
(xiitas Hezbollah).
Baschar
al Assad, presidente da Síria, pertence aos muçulmanos Alevitas (uma
comunidades islâmica liberal com raízes no islão xiita mas que não segue os 5
deveres do Islão, nem o seu sistema de direito-sharia, e não frequenta a
mesquita, nem interpreta o Corão à letra e reconhece mulheres e homens como
iguais – um argueiro no olho islamista). Como se vê a Síria oferece-se como o
melhor campo de batalha para as rivalidades entre NATO e Rússia, entre as
facções sunita e xiita, entre Irão e Arábia-Saudita, entre Ocidente e Irão,
dando oportunidade a todos estes para apoiarem os seus grupos rebeldes e em
nome deles transformar um conflito religioso local num conflito
político-militar regional. Por isso a imprensa internacional dá tanta
importância aos rebeldes que camuflam interesses estratégicos estranhos à Síria
e no fim só se aproveitam os extremistas religiosos e o Ocidente na
reconstrução. Resumindo: na Síria alinham-se os interesses dos aliados EUA,
Turquia, Arábia-Saudita e dos sunitas contra os interesses da Rússia, do Irão e
dos xiitas.
O conflito descarregado
na Síria é quase uma cópia da “Guerra dos 30 anos” entre a confissão
protestante e a confissão católica; por trás do conflito religioso
encontrava-se o conflito entre o sacro império germânico e a Áustria (dinastia
dos Habsburgo) que envolveram, nessa guerra, a maior parte dos países da
Europa. Tal como na guerra dos 30 anos do séc. XVII em que os conflitos
religiosos entre católicos e protestantes davam oportunidade aos países e
principados europeus para tentarem impor o domínio duns sobre os outros,
repete-se hoje um conflito religioso muçulmano não declarado entre as duas
confissões na Síria, Paquistão, Afeganistão, Iraque, Egipto, Líbia ao serviço
de tendências hegemónicas da NATO, Rússia, Turquia, Arábia-Saudita e Irão.
Os Média ocidentais
estão, duma maneira geral, ao serviço duma informação confusa e confundidora,
dado estarem também eles ao serviço dos interesses estratégicos e económicos do
Ocidente; por isso favorecem uma intervenção do Ocidente contra a Síria. Quem
paga a factura é o povo ocidental com impostos e a obrigação de receber os
refugiados que o Ocidente produz e o povo muçulmano obrigado a manter-se sob o
jugo divino e sob o jugo regimes despóticos. Este conflito, que não deveria ser
nosso, só serve a escalação do poder e os interesses das indústrias de guerra e
de reconstrução. Uma intervenção militar seria mais um acto da selvajaria que o
Ocidente e a Rússia, com gosto, atribuem a outros povos não tão
“desenvolvidos”.
António
da Cunha Duarte Justo
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