É
sobre a i/emigração, o artigo de António
da Cunha Duarte Justo saído no blog “A bem da Nação”,
bela análise de um fenómeno social e cultural, com largas implicações no
desenvolvimento de uma nação pequena mas corajosa que há muito decidiu
sobreviver a qualquer preço fora da pátria madrasta, a qual sempre se geriu por
leis de primeira e de terceira classe, de acordo com a componente social a que
se destinam.
Das
terras que outrora alguns descobriram, se geraram, posteriormente, os “retornados”,
imigrantes também olhados com desprazer e desconfiança pela nação a que julgavam
pertencer.
Os
emigrantes dos anos sessenta, cujas remessas ajudaram a sustentar a banca
nacional, serão, quando muito, alvo de mesquinha inveja, o que os não deve
afectar grandemente. Trabalharam em países onde os seus direitos a justos
vencimentos foram respeitados, e onde puderam educar os filhos
convenientemente. Não me refiro tanto aos “emigrantes” em fuga de guerra, que
puderam estudar lá fora, ajudados pelas famílias de cá, alguns dos quais se
tornaram posteriormente elementos valiosos da cultura nacional.
A
emigração actual do nosso país, imposta por uma crise económica sem precedentes,
devida a sucessividade de políticas desastrosas nacionais em que o afluxo de
dinheiro estrangeiro criara hábitos de esbanjamento e corrupção inigualáveis, é
uma emigração “sui generis”, de gente mais educada que não se sujeitará,
talvez, aos serviços físicos da dos anos sessenta. Não vão ajudar a sustentar a
banca, pois que os seus objectivos visam puramente a sua sobrevivência e a satisfação
dos seus empenhamentos culturais. Mas ajudando-se a si mesmos, são contributo,
pela sua exclusão aqui, para eliminação do desemprego nacional, donde, a
importância de que se reveste a actual emigração.
A Conotação negativa do
Emigrante. Na Penumbra de Portugal o Cheiro a Povo não faz
mal
«Num
país exportador de “recursos humanos” e em que a vida económica é muito
enriquecida pelo contributo dos emigrantes, não parece lógico haver
preconceitos contra os emigrantes.
Um
certo preconceito conotou a palavra emigrante de algo “negativo”, algo com
cheiro a província, a povo, a tradição, a fado, e a folclore! Observa-se aqui
um fenómeno paralelo ao que se iniciou com o 25 de Abril em relação a fado,
Fátima e futebol; estas eram palavras que pareciam não ter o cheiro de um
curral novo progressivo-burguês. Uma questão já tradicional dentro de um curral
que se vai contentando em mudar de nome.
Quem
se arma, em Portugal, não aguenta o cheiro a povo e até certas palavras têm que
ser lavadas com lixivia para perderem a ocasional má conotação. O inocente da
questão está em se resolver os problemas mudando-se as palavras. Hoje, em
vez de se dizer Emigrantes prefere dizer-se “Portugueses residentes no
estrangeiro”; não é bem por snobismo mas pelo aroma académico com que se quer
prendar os novos emigrantes, ou talvez, para não haver confusões entre o velho
e o novo! Antigamente o português saía da terra para fazer pela vida, por
razões de pobreza e pelo facto de a terra não ter lugar para ele se
desenvolver; hoje sai-se da terra à procura duma vida mais digna que a carência
da terra não dá. Antes o povo saía de fugida ou imperceptivelmente, hoje sai
aplaudido pelos meninos duma política sem pudor, que o convida a emigrar! O
facto é que, ontem como hoje, a emigração faz parte da penumbra de Portugal
onde o cheiro a povo não faz mal.
Os
tempos mudaram. Antigamente Portugal era nosso, hoje já não é. Hoje somos
mundo; temos um Portugal menos português mas mais mundano e bem trajado, numa
sociedade de ideias mais penteadas e alinhadas.
Ontem
vinha a província à cidade, hoje vai a cidade ao mundo, ficando muita gente já
não sob os arcos da ponte mas sob as rodas da máquina. Naturalmente, a saída é
uma decisão que não se faz de ânimo leve porque quem sai deixa muito, encontra
a soledade e, se voltar, não volta o mesmo.
O
Contributo do E/Imigrante não reconhecido na Opinião pública
Não
há família portuguesa sem um membro no estrangeiro, sem alguém que não tenha
saltado os muros para recuperar a vida digna que parecia nas mãos de outros (os
Media referem cerca de quatro milhões e meio de portugueses a viver fora de
Portugal)! Os portugueses residentes no estrangeiro são o símbolo da vontade e
da aventura, o símbolo de um Portugal onde a nação não dorme. Ontem como hoje,
são estes os melhores mensageiros de humanidade a espalhar o património cultural
e humano por todo o mundo e a melhorar a qualidade de vida em Portugal.
Segundo
relatos oficiais estatísticos de 2006, por cada dez emigrantes portugueses há
um imigrante em Portugal. A importância do imigrante é cada vez mais relevante
também por contrariar o envelhecimento drástico da sociedade portuguesa. Agora
Portugal sente-se de rosto erguido por se contar entre os países importadores
de pessoas que procuram uma vida mais digna.
A
opinião pública portuguesa ainda teima em ignorar o emigrante, ou em recordá-lo
como pessoa simples de mala na mão, com cheiro a bacalhau e a fado churrasco.
Os
Media falam e com justiça do contributo dos imigrantes em Portugal mas calam
geralmente o contributo dos emigrantes. As freguesias envelhecem e
sangram no êxodo da sua gente nova. Noutros tempos e ainda hoje muitos
emigrantes funcionam como programas de fomento da terra, como fomentadores do
bem-estar, garantidores de biscatos e emprego, de compensadores de assistência
social. No sentido de aproximarem costumes e povos tinham também uma função
parecida à dos trovadores! Mas, no meio de tudo isto, os bancos são os que mais
beneficiam com as remessas tendo em conta o aspecto da sua liquidez e de
aplicações.
A
diferença de trato de imigrantes e emigrantes, por certos sectores da
sociedade, até se torna compreensiva atendendo aos interesses das diversas
forças sociais nacionais e à pressão da observação internacional. Enquanto os
imigrantes se tornam interessantes para os partidos, na qualidade de possíveis
adeptos, e pela sua potencialidade na qualidade de votantes, os emigrantes
encontram-se longe, descuidando o voto e não são tão influenciáveis às ondas
locais. O grande prodígio da emigração ainda não acordou para o seu poder.
Também as cúpulas dos partidos em Portugal ainda não acordaram para a sua
grande missão de intervenção cívica. A Portugal interessaria uma presença
partidária, quer de esquerda quer de direita, integrada nas constelações e
famílias partidárias dos países de acolhimento! Neste sentido terá de haver
uma consciência portuguesa e talvez algumas das verbas desperdiçadas em honorários
de embaixadas e consulados pudessem tornar-se mais úteis se aplicadas no
fomento da integração dos luso-descendentes na maquinaria do poder dos países
de acolhimento. É preciso motivar a juventude a participar nas estruturas dos
partidos e nas iniciativas cívicas.
A
opinião pública tem um grande défice de informação no que respeita à
necessidade de mais informação positiva sobre e/imigração.
A
globalização e o transnacionalismo fomentam as migrações, o que pressupõe uma
consequente política empenhada na inclusão e também na recepção de imigrantes
que não se afirmem pelo gueto. O momento que a Europa atravessa não é fácil
para emigrantes nem para imigrantes. Em tempos de recessão, o maior combate a
uma economia informal atinge mais duramente uma parte dos imigrantes. Nestas
questões é necessário pensar-se a longo prazo: por muita imigração que tenhamos,
o défice demográfico continuará a ser alarmante.
Voltando
ao problema do trato dos emigrantes! Quem vive numa Alemanha pergunta-se:
porque é que os emigrantes alemães não têm conotação negativa na sociedade
alemã? Também eles saíram para melhorar a vida. Porque é que não se nota neles
aquele nosso preconceito burguês do estatuto social como substrato do nosso ser
e pensar? Porque é que se pensa no “lá vêm os emigrantes”, que parecem levar
tudo na enxurrada, e não nos turistas portugueses a dar vida ao mercado?
Porque apostar sempre na diferença pela negativa? O facto de os emigrantes
terem as experiências da terra e do estrangeiro torna-os, por vezes, impacientes,
indiscretos e ousados, à frente dos balcões dos bancos e dos serviços públicos;
isto não deve ser o suficiente para serem olhados de lado! Ou será aquela
inveja fina de cara para inglês ver acrescentada de um espírito burguês a
roçagar nas almofadas das cadeiras dos nossos locutores?
À
parte a emigração por razões políticas, torna-se duvidosa uma acentuação
epidérmica da diferença da emigração de há 50 anos em relação à de hoje. Isto
torna-se caricato e perigoso porque pretende, por um lado, fazer passar um
certo snobismo português para um campo impróprio e, por outro lado, desvia a
questão dos grandes problemas que estão na base da deslocação de grandes massas
migratórias. A emigração, na sua grande maioria, é fruto da má organização de
estados, da sua incapacidade económica (pobreza) ou da sua instabilidade
política.
Falar
de uma Europa sem fronteiras, também revela memória curta. O grande intercâmbio
europeu da classe nobre e burguesa até ao século XIX, onde havia grande permuta
de cultura, não deveria ser considerado um capítulo à parte. Também então não
havia propriamente fronteiras; os interesses das famílias nobres e do clero
abatiam-nas! Hoje a ditadura da economia só está interessada na permuta de
serviços e dinheiro e despreza a cultura!»
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