Publicou o “A Bem da Nação”, um vasto artigo de António
da Cunha Duarte Justo, com três partes e um resumo sobre a guerrilha
islâmica, que «determina a cisão dos povos no século XXI» de que apenas
transcreverei o resumo precedendo-o de alguns parágrafos indispensáveis
para uma maior clarificação do gigantesco tanque de pus que sobre o mundo vai
escorrendo e alastrando, porque interesses económicos de parte desse mundo se
sobrepõem a considerandos de maior peso, que dominavam no tempo da Guerra Fria e
que parece terem desaparecido nestes tempos de Guerra Quente que não acautelam
nem a paz nem a estabilidade cultural do mundo.
Recebi, entretanto, um e-mail contendo um discurso pela
doutora Wafa Sultan, médica psiquiatra síria que emigrou para os Estados
Unidos: numa voz comovida, refere violências desse mundo de que fugiu, os casamentes
monstruosos de velhos com rapariguinhas , de que o próprio profeta Maomé foi exemplo
seguido por tantos desses perversos praticantes de pedofilia legalizada por uma
pseudo-religião apoiada na lei do mais forte , que é, naturalmente, o macho, que
não respeita a mulher nem a vida humana.
Alguns parágrafos desse excelente trabalho de António
da Cunha Duarte Justo:
«No mundo contemporâneo, a violência de
motivação religiosa parte praticamente do Islão. Isto fomenta a incompreensão
do islão e muitos muçulmanos moderados de boa-fé sentem-se colocados no
pelourinho. As forças radicais e escuras estão interessadas em fomentar motivos
de incompreensão porque só assim se encontram no seu Mileu e justificar o seu
agir irracional.»
O busílis muçulmano está no facto de só
admitir, na sua sociedade, a curto ou a longo prazo, o falar do Deus registado
no Corão, ficado assim demasiado timbrado pelo patriarcalismo do Antigo
Testamento e das tribos árabes sem perspectiva para uma sociedade aberta dado
não ter integrado no islão as novas culturas e geografias onde se espalhou
(isto vem do facto de considerar a revelação divina como enlivração empedernida
- Deus tornado livro - não integrando nela a revelação divina que se dá através
da História e da natureza, como fazem os cristãos). Consequentemente, têm de
viver no gueto ou transformar o mundo no seu gueto; enquanto se encontram em
minoria vivem no gueto apresentando-se ad extra como conciliadores; mas, uma
vez alcançada maior presença no meio, as forças extremistas impõem-se aos
“outros”, aos diferentes, (este processo também se observa na mudança de atitude
de Maomé quando passou de Meca para Medina e se pode observar na mudança de
opinião de Deus nas Suras - tolerantes do Corão escritas em Meca e nas escritas
em Medina – Suras intolerantes) de maneira a torna-los numa monocultura por
imposição. O exemplo de Maomé e a doutrina hegemónica que suporta o islão
também não deixa viver em paz as confissões islâmicas sunitas (cerca de 80% dos
muçulmanos no mundo) nem as xiitas (cerca de 20%) e do mesmo modo os
correspondentes subgrupos alevitas (o mais liberal), o wahhabismo, o sufismo,
os salafitas, etc, que disputam o poder entre si em nome de Alá.
Resumindo:
Quer queiramos quer não, Islão, guerra e
terror parecem pertencer ao mesmo contexto. Pelo que se observa a nível internacional
nenhum país, onde se encontrem grupos de muçulmanos politicamente organizados,
se encontra seguro quanto à paz social e até, quando se organizam em maiorias,
quanto à integridade das suas fronteiras, dado, como diz o politólogo Hamed
Abdel-Samad, “onde ele actue politicamente é fascista”… “Eles desumanizam os
seus adversários, negam-lhe o direito de existir e tomam em conta a sua
destruição total”… “no mundo desta gente não se luta pela vida, vive-se para lutar”…
Na altura em que o caricaturista dinamarquês desenhou Maomé com uma bomba no
turbante, o mundo islâmico levantou-se por toda a parte contra ele e contra
o ocidente, chegando a haver mesmo mortes; agora que o IS assassina em nome do
Islão, o mundo islâmico, pelo mundo fora, “não se sente denegrido nem
ofendido”. “O que o autêntico Islão é, vemo-lo precisamente no Iraque e na
Síria” (in HNA 19.09.2014). “Todas as associações salafistas têm que ser
proibidas, para lhes dificultar o acesso de jovens muçulmanos… pois vão para
criminosos quando vão para eles”.
É uma utopia pretender disciplinar o Islão
a partir de fora, dado
possuir uma doutrina absolutista que, por um lado, exclui a diferenciação e,
por outro, fortalece as forças caóticas da base. Ao não ser estruturado
(sem organigrama institucional conciso), aposta nas forças caóticas e
revolucionárias da circunstância que lhe dão a sustentabilidade histórica
necessária para lá do país concreto; diria que, na sua forma original, se
poderia talvez etiquetar de uma forma de fascismo socialista adequada à base
tribal das suas origens árabes e, neste sentido, expressa-se de modo ad hoc,
vivendo do paradoxo, a nível intelectual e filosófico ajudado por uma
jurisprudência casuística. O ocidente, com uma outra doutrina e
socialização, não entende o mundo muçulmano nem o mundo muçulmano entende o
ocidente. O mesmo se dá, generalizando, entre a espiritualidade ocidental e
a da Índia. O papel da dúvida metódica no pensamento ocidental como alavanca do
progresso contrapõe-se ao papel do paradoxo da cultura árabe como pretexto do
pensamento para ser mantido o status quo, o retrocesso na contradição.
Interessante que no momento em que Maomé deixou Meca para se estabelecer em
Medina, Deus mudou de ideia. As Suras suaves do Corão reveladas em Meca passam
a ser contraditas pelas revelações de Medina: aqui se encontra a génese do
paradoxo árabe. Este facto poderia ser aproveitado pelos eruditos islâmicos
para possibilitarem uma teologia interpretativa adequada aos tempos, doutro
modo manterão a espiritualidade sujeita à jurisprudência. Em vez de acentuarem
as suras agressivas de Medina podiam desenvolver a espiritualidade no sentido
das Suras mais pacíficas de Meca.
As aspirações hegemônicas árabes,
iranianas, turcas são difíceis de concretizar numa doutrina comum, de si
hegemónica, mas que deixa a organização e a estratégia de aplicação dos seus
objectivos a movimentos e caudilhos locais, mantendo-se ancorada no sistema
patriarcal.
Na primavera árabe do norte de África
(2011), os grupos fanáticos juntam-se aos rebeldes sedentos de mudança (a
geração Facebook) e acabam por vencê-los. Também em 1978, Aiatola Khomeini se
uniu aos comunistas revoltosos contra o Shah Reza Pahlavi da então Pérsia
(Irão) conseguindo, com o apoio deles, instalar a teocracia islâmica. A partir
da revolução do Irão, o terrorismo internacional ganhou terreno, a passos
largos.
A guerra do Iraque contra o Irão era uma guerra entre sunitas (primeiramente
apoiados pela USA) e xiitas – os USA intervieram
contra Sadam Hussein e ao saírem instala-se um regime pior que o anterior; no
Afeganistão sunita (equipado pela CIA e financiado pelas monarquias
árabes sunitas) dá-se a guerra contra comunistas (União Soviética) que
se retiraram em 1989. O radicalismo sunita é financiado por uns e o
radicalismo xiita por outros. Os USA, a Rússia e outras potências
servem-se das lutas internas entre os diferentes interesses muçulmanos para se
assegurarem do petróleo e fomentarem a indústria bélica e depois do conflito
ganharem com a reconstrução.
A opinião pública e publicada, subestima a
realidade islâmica que pressupõe governos autoritários ou déspotas que
possibilitem estabilidade que possibilite o desenvolvimento económico e
cultural para poderem um dia viabilizar a formação de uma sociedade civil
avançada. Os mesmos que jubilavam com a primavera arábica fomentavam
ingenuamente a fragmentação da Síria com o apoio armado da ISIS contra o
ditador Assad. O preço está a delinear-se na divisão do Iraque em territórios
xiita, sunita e curdo com a perseguição e expulsão dos cristãos.
Vítima real e intelectual torna-se quem não
possui capacidade de diferenciação e de integração. O passo para a fraternidade
de povos e religiões pressuporia a renúncia à verdade empedernida, em benefício
do compromisso construtor de colaboração e de paz. Tudo fala, tudo berra e
ninguém se preocupa em descobrir quem produz a guerra, quem fabrica as armas e
as redes que ganham com elas. Os cavaleiros de Maomé, fieis ao Corão sentem-se
os senhores e guardiães de Deus e da Verdade e os defensores da democracia,
sentem-se os senhores das riquezas do mundo. A verdade de uma religião ou de
uma civilização não se reduz à teoria ou ao discurso, ela só se pode ver nas
obras.
A vida humana e social é uma teia de
conflitos, pelo que, o essencial não é ver quem tem razão, mas resolver
conflitos. Querer possuir a verdade absoluta significa subestimar a vida e não
se desenvolver. A Verdade é a-perspectiva e como tal é um processo numa relação
trinitária pessoal e dinâmica na unidade do eu-tu-nós. A terra é grande, Deus é
maior, nele há lugar para todos. “Bem-aventurado os pacificadores, pois serão
chamados filhos de Deus.” (Mt 5:9)
Religiões são parábolas da realidade que
expressam a antropologia e a sociologia de uma civilização. Religião verdadeira
é a que faz do Homem irmão independentemente de raça, credo ou cor!»
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