Naqueles
anos sessenta, quem quisesse ser bem recebido em S. Francisco (da Califórnia, é
claro), devia levar flores no cabelo, para ser esplendidamente lá recebido, o
próprio Marco Paulo também o frisou, na esteira da canção de Scott Mckenzie que
estava então na berra. Bem nos fartámos de o cantar, na consciência gradual para
uma aventura de beleza e libertação, que não mais pararia, teríamos ocasião de
o viver. Ou seja, talvez tenha parado, em termos musicais, por alturas do “We
are the world”, quando as afectividades se apuraram em torno das criancinhas,
como mundo capital no mundo da travessura que finaliza, nestes tempos do terror,
com as imagens dos jovens encobertos da travessura ocidental, (sem ilibar os da
oriental, igualmente idóneos nisso), prestes a assassinar os repórteres que se
limitavam a cumprir as suas obrigações de jornalistas viageiros no mundo da
guerra. Mas na verdade estamos a enganar
as crianças do mundo, que não são, de facto o mundo, como informa a canção, mas
puros joguetes do mundo adulto bem apessoado, como tantas vezes verificamos.
Esta
referência às canções com o nome de terras, como “Alentejo da minh’alma”
de Luís Piçarra, “Figueira” de Maria de Lurdes Resende, “Coimbra menina e moça”, não sei se de
Edmundo Bettencourt, e tantas mais, sem olvidar as terras estrangeiras como o «New
York New York» da “voz”, isto é, de Sinatra … e mais os poemas como o de “Nambuangongo”,
de Manuel Alegre - referindo heroísmos de homens com medo aos que apenas reconheciam
em Hiroxima o caso extremo da monstruosidade - e sem esquecer referências
literárias mais primitivas no nosso país, caso da cantiga de amor
Tu
que ora vens de Monte Maior
Tu
que ora vens de Monte Maior
Digas-me
mandado de minha senhor
Digas-me
mandado de minha senhor
que mostra muito simplesmente,
sem pedantismo algum, um coitado de trovador
(Gil Sanches) ansioso por notícias da “senhor” amada, para se sentir
feliz…
Dizia eu que esta referência a poemas ou
cantigas com indicações toponímicas, me
surgiu a propósito da entrevista de Fátima Campos Ferreira a António
José Seguro exactamente na terra natal de Seguro, Penamacor, de
lindas vistas, terra de um homem bom, o que imediatamente me fez acudir o
desejo de que tal facto implique a criatividade dos poetas e cantores da nossa
terra, em entoações de louvores melódicos por ela merecidos, como terra de um
futuro provável governante importante. E bondoso, querendo o bem de todos, como
Mandela, seu ídolo.
De facto, de tudo o que por cá
se diz e faz, nestas vilegiaturas turísticas dos candidatos do PS a 1ºs Ministros, em incómodas caminhadas obrigadas aos
beijos do mulherio e a breves referências aos pontos de vista sem importância,
de cada um, restou Penamacor como terra para musicar, no rasto das melodias
citadas e tantas mais que há.
É também verdade que artigos
como “A
geringonça”, de
Vasco Pulido Valente, com os retratos de Seguro e António
Costa, sendo impecável de precisão e de rigor satírico sobre as nulas
diferenças entre ambos em caso das políticas a seguir, de que eles não falam,
são peças fulcrais de análise que superam qualquer melodia, mesmo que esta
fosse em torno de uma terra de pedras sólidas, onde se formou o carácter de Seguro,
que nelas colheu a solidez e a teimosia
para a continuidade.
Ei-lo,
o artigo de Pulido Valente (Público, 31/8):
A
geringonça
António Costa e António José Seguro não vão ganhar nada,
excepto um partido desorganizado e dividido. Nesta longa campanha de verão,
nenhum deles se conseguiu explicar. Fora a repetição dos lugares comuns da
seita e alguns disparates que foram buscar à extrema-esquerda, não disseram uma
palavra capaz de esclarecer ou de entusiasmar o “eleitorado” dessas desgraçadas
“primárias” para “primeiro-ministro”, sem regras claras, nem objectivos
definidos. No meio da confusão, só se percebeu que António José Seguro se
recusa a sair e que António Costa quer entrar. Os dois perderam o seu tempo a
trocar insinuações de velha azeda e mal disposta, que não resiste a espicaçar
os vizinhos. Os jornais, de quando em quando, falam em “diferenças” entre eles.
Mas na realidade não há diferenças que se vejam.
António
Costa, quando apareceu, tinha uma fama de homem sereno e reflectido, criada num
programa de televisão, em que quase não abria a boca e deixava confortavelmente
a berrata a Pacheco Pereira. Faziam um excelente par. Pacheco Pereira ficava
com a indignação e o excesso e António Costa com a prudência de estadista.
Infelizmente, na propaganda das primárias (nas suas voltinhas de candidato que
em Portugal nunca variam) está sempre rodeado por um bando de jornalistas sem
senso à procura de uma frase ou de uma notícia; e a oportunidade para se
aliviar de altos pensamentos é nula, tanto mais que na cabeça dele convivem
ideias vagas e mutuamente exclusivas: a da maioria absoluta e a do entendimento
com a esquerda radical, por exemplo, ou a da “negociação” com a “Europa” contra
Merkel e Hollande.
Entretanto,
as “primárias” de Seguro em vez de o aliviarem, como ele julgava, só lhe
trouxeram desgostos. Primeiro, a trafulhice das cotas pagas por defuntos e mais
categorias de ausentes. Segundo, a radical ambiguidade do conceito eleitoral de
“simpatizante”. E, terceiro, a licença ecuménica aos maníacos da política para
meterem o bico onde não são chamados. Peregrinando pelos tristes cafés da
província adormecida, bem longe dos “festivais” de música, gastronomia e
artesanato, Seguro recita as fórmulas do costume, sem acrescentar uma única
variação ao breviário. O país que o ouviu, já não o ouve. O eleitor médio de
qualquer partido reforça a sua compreensível repugnância em votar nele, e
sobretudo para “primeiro-ministro”. Mas começa também a fugir da gerigonça a
que se chama PS.
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