No
meio das opiniões desencontradas sobre um défice que nunca mais arranca para
superavit, uma corrupção que brota do chão como os tortulhos em dias de calor e
chuva, uma produção que não se define em abundância, uma exportação que também
não, umas notícias de desequilíbrios escolares que se não mitigam, e nos deixam
complexados, o Público permitiu que o artigo de Fugas, pudesse
ser transposto para o meu blog sem o esforço da cópia dactilografada. A minha
gratidão por isso, ao Público e aos jornais e jornalistas ingleses que nos
elogiam o sítio, parece que com sinceridade, ignorando, talvez, as mazelas, ou
tendo experiência das suas, para aceitarem as dos outros sem muito desprezo.
Às
vezes falamos nisso, nós as três que já muito vivemos, e ainda no domingo de
Páscoa nos debruçámos sobre alguns temas do nosso prazer de viver.
Involuntariamente deixei escapar uma expressão de desagrado sobre um cozinheiro
nacional premiado, cujo prato galardoado tinha pingos e flores postas com
pinças, num todo gastronómico que não cabia na cova dum dente, excluídas, ainda
para mais, as flores, do nosso apetite glutão. Lembrei mesmo as favas da minha
filha Paula, com rodelas de enchidos que ela costuma levar para as festas da
sua escola, favas de muito sucesso. Logo a nossa amiga referiu, com a boca
cheia de palatais, vibrantes e muitas oclusivas, além dos gestos abarcando o
mundo, os pratos apetitosos que os vários canais televisivos apresentam,
fabricados pelos donos das perícias culinárias nacionais, e a minha irmã
acrescentou os nomes de jornalistas como o de José Esteves Cardoso que também
são mais terra-a-terra na questão dos alimentos. Entretanto já elas estavam em
grandes risadas por conta de uma rábula dos Donos disto tudo, com Eduardo
Madeira e Manuel Marques em vingança alegre contra Dijsselbloem,
holandês detractor dos povos do sul, esbanjadores e mulherengos. As duas bem
riam e os imitavam, e a nossa amiga concluiu com gosto: “Pelo menos deixaram
um holandês maricas para a colecção” mas a nossa amiga tinha outra na
manga, de muito sentimento: - Era sobre o “bíblio”, não leste? - a pergunta
foi dirigida à minha irmã, que me oferecera o “Velho Testamento” de Frederico
Lourenço - Fez uma declaração de amor à sua “marida”, como nenhuma
mulher se pode gabar de ter alguma vez merecido do respectivo marido.
E
surgiram referências a outros casos de casais unissex, que fez a nossa amiga
exclamar tragicamente: «Isto está um caso sério. Onde é que vamos parar?”
Mas
a propósito de discursos saudosos de grande beleza e emoção, lembro o
pronunciado por um dos actores do encantador filme “Quatro casamentos e um
funeral”, com Hugh Grant, discurso que me fez chorar, embora
reconhecesse nele o propósito desmistificador de tabu.
Mas
o artigo que segue realça alguns aspectos positivos nossos, e o que todos
desejamos neste mundo, é mesmo sermos amados:
Lisboa estava “de joelhos”. Hoje bate Berlim,
Barcelona e Londres
Por
Fugas
Público,17.04.2017
Domingo foi a vez do The Guardian tecer loas à capital
portuguesa. O que é que, segundo o diário britânico, faz de Lisboa a "nova
capital do cool"?
O norte-americano Patrick Tigue,
da empresa Downtown Ecommerce, tinha
a sua base na Costa Rica mas, quando a empresa começou a crescer, achou que
tinha que mudar para outro país. Precisava de ter “acesso a pessoas que
falassem inglês, um custo de vida baixo, ordenados baixos e um fuso horário
conveniente”. Conta que abriu um mapa e escreveu o nome de várias cidades. No
final, escolheu Lisboa. Berlim e Barcelona estiveram na lista, mas foi o
estilo de vida na capital portuguesa que o convenceu.
Patrick é uma das várias pessoas que
Rowan Moore, jornalista do diário britânico The Guardian, ouviu durante
uma recente passagem por Lisboa e que cita num artigo sobre como uma cidade
que ele tinha visto “de joelhos” em 2013 – quando veio para a Trienal de
Arquitectura – se tornou “a nova capital do cool”. Opinião partilhada
recentemente, aliás, pela norte-americana CNN.
“Em Lisboa, as pessoas dizem-me que é
o surf”, escreve, sublinhando que “as praias estão a 20 minutos de distância do
belo, histórico e animado centro de Lisboa”. A cidade está a tornar-se “um
extraordinário exemplo daquilo a que podemos chamar o urbanismo Monocle”,
escreve, numa referência à revista sobre estilo de vida urbano que “ainda
recentemente dedicou muitas páginas à capital portuguesa”.
Voltando aos elogios de Patrick Tigue:
“Em Lisboa as pessoas são incríveis. Há sempre algum tipo de música ou de
manifestação artística a acontecer. A comida é incrível, a arquitectura… É uma grande
pequena cidade. […] Gostava de ficar por aqui muito tempo, de ter filhos aqui.
Estou totalmente convencido”.
O texto refere, contudo, as
preocupações que acompanham este crescimento. “Estará o governo socialista,
na sua pressa de revitalização, a deixar para trás os pobres de Lisboa?”, pergunta
o jornalista britânico. Ana Jara e Lucinda Correia, do atelier de arquitectura
Arteria, que tem uma série de projectos “low-cost”, entre os quais “chamar a
atenção para lojas históricas ou criar uma estratégia para um melhor
aproveitamento dos telhados dos edifícios”, exprimem o receio de que a
subida dos preços do imobiliário esteja a afastar tanto moradores como negócios
mais antigos. “As pessoas estão a jogar ao Monopólio”, dizem. “Compram-se
casas e constroem-se hotéis”.
As arquitectas criticam também a
política de vistos dourados, que, dizem, “causa exclusão social”. No
entanto, Lisboa “ainda é barata”, garante Charlie Orford, fundador do site
para reserva de voos Low Cost Hero, que, depois de uma rápida análise, colocou
a hipótese de Londres de lado. O espaço que alugou em Lisboa custa 12 vezes
menos que um equivalente na capital britânica. Por isso, escreve Moore,
“juntamente com o Brexit, Lisboa tornou-se particularmente atractiva para
jovens criativos da capital britânica”.
O jornalista do Guardian termina o
texto com o aviso de que uma cidade “rica em coisas subtis, graciosas e bem
feitas, da comida, aos objectos e aos edifícios” não pode deixar-se inundar
por produtos indiferenciados, de marcas que existem por todo o lado. É preciso
evitar o que aconteceu com outras cidades, diz, e conseguir ter esta vitalidade
“mantendo as coisas que a tornaram tão atractiva”.
E deixa uma lista de sítios a não
perder na “nova Lisboa”:
- MAAT (Museu de Arte, Arquitectura e
Tecnologia);
- Nova sede da EDP, do atelier de
arquitectura Aires Mateus;
- Cozinha Popular da Mouraria,
projecto da fotógrafa Adriana Freire, que está também a aproveitar a fruta das
árvores de Lisboa para compotas e outros produtos;
- Mercado Time Out;
- Restaurante Leopold, no Palácio
Belmonte;
- LX Factory;
- Espaços de trabalho partilhados como
o Second Home e o Village Underground.
Mas não é apenas Lisboa que o Guardian
destaca. Num artigo publicado também este fim-de-semana e assinado por Edwina
Pitcher autora do Wild Guide Portugal: Hidden Places, Great Adventures and the
Good Life, o jornal britânico lista o melhor do “lado selvagem” de Portugal:
- Serra da Peneda/Gerês, com as suas
águias, cavalos selvagens e lobos ibéricos.
- Costa Azul, a zona de Setúbal, com
um mar “turquesa e esmeralda, grutas, ilhas, mosteiros na serra e vinho
delicioso”, incluindo também a península de Tróia.
- Almodôvar e o Sul do Alentejo, passando
pelo Parque Natural do Vale do Guadiana e pela Anta das Pias, “o local perfeito
para os campistas verem o pôr-do-sol e o aparecimento da lua”.
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