sexta-feira, 14 de abril de 2017

Mário Centeno



O texto chegou-me por email, enviado pelo meu filho Ricardo, com os dizeres: “Talvez te interesse ler”. Realmente, gostei de ler. Desde há muito que o ar tímido mas eficiente de Mário Centeno me faz colocá-lo acima de todos os que actualmente governam, e julgo que Centeno alcançou uma simpatia generalizada, que faz que, ao contrário do que sucedeu no início do governo de António Costa, a caricatura e a troça provocada pelo seu sorriso um pouco ridículo, mas que se revelou de firmeza, aparente bondade, e, afinal, eficiência, nos solavancos tenebrosos de uma governação de caranguejola prestes a ruir mas perdurando entre resultados de esperança, a troça e a caricatura desapareceram para dar lugar à confiança num homem que se olha com espanto e fé. Não faz esforço para se defender, não é dos que grita ou acusa, é, antes alguém que parece estar sempre a pedir desculpa das decisões que toma com firmeza, indiferente a julgamentos. Uma  avis rara no meio do marulhar babugento dos que empregam violência verbal ou ironia, e transformam a assembleia da República numa feira ruidosa apelando à freguesia. Realmente, o que choca, é a eficácia da sua pose tímida mas bem segura de si, como quem não quer dar a perceber a sua inteligência, indiferente à turba e só realizando o que lhe parece certo, com agudeza e serenidade. André Veríssimo o descreve com perspicácia. Sim, interessou-me a leitura, como diria Garrett falando da janela da Joaninha: «Interessou-me aquela janela». Que amplos mistérios esconde a personalidade de Mário Centeno?

NEGÓCIOS
 EDITORIAL
ANDRÉ VERÍSSIMO
Subdirector
Centeno, o anti-Costa, Centeno o académico, Centeno o tímido, Centeno o dos e-mails da Caixa, Centeno o político inábil, Centeno o que se devia demitir, Centeno o do défice além
de Bruxelas. E, no entanto, Centeno o ministro mais popular do Governo.
A longevidade no cargo dos independentes que ocupam a pasta das Finanças tem sido curta. Luís Campos e Cunha esteve quatro meses. Vítor Gaspar aguentou-se dois anos. Centeno ainda só leva 17 meses, mas tal como a mal-amanhada "geringonça" também o ministro parece lançado para desfiar a baixa probabilidade de sobrevivência que lhe era atribuída.
Ser titular das Finanças rivaliza com a Educação na apreciação pública negativa a que o cargo está, em regra, associado. E Centeno tem tido os seus maus momentos, sendo o dossiê Caixao mais grave. A acusação de que mentiu no Parlamento deixou-o muito perto da demissão - "O meu lugar está naturalmente à disposição do primeiro-ministro", chegou a dizer há dois meses. Nada que o impeça de ser o ministro mais popular do Governo. A última sondagem da Aximage, publicada no dia 8 no cite do Negócios, mostra que Mário Centeno é, de longe, o ministro com mais notoriedade. E o nome que primeiro vem à boca de 51,9% dos inquiridos, a grande distância do segundo: Vieira da Silva, com 3,7%. É também, mais tuna vez com grande margem de diferença, o nomeado como melhor ministro (39,4%). Também está entre os piores (8,2%), mas só depois do da Educação (14,4%) e do da Saúde (8,5%).
Não é propriamente uma proeza. Basta ser o ministro das Finanças que baixa impostos e repõe salários. Talvez fosse ainda mais popular não tivessem existido os casos já mencionados. Mas fica-se com a ideia de que, na verdade, eles nem chegaram a ferir a imagem do ministro. Forçado ou espontâneo, o ar inibido e de alguma vulnerabilidade ajuda a compor a imagem de um homem sério e confiável. Centeno é o anti-Costa, no sentido em que é a antítese do animal político. E isso é um trunfo, tanto para o ministro das Finanças, como para o primeiro-ministro.
Centeno empresta uma imagem de rigor e fiabilidade ao Executivo. Melhor ou pior, vai resolvendo os problemas na banca e foi capaz de baixar o défice, mesmo tendo de cumprir os mínimos olímpicos do acordo com Bloco e PCP. Além de anti-Costa, Centeno é um antídoto da própria "geringonça". É o único activo de Costa na credibilidade internacional do Governo. O primeiro-ministro sabe-o, tal como o Presidente da República, que entendeu segurá-lo "atendendo ao estrito interesse nacional, em termos de estabilidade financeira".
Por isto tudo, e também porque Centeno se tem tornado politicamente mais hábil, não se compreende como se deixou envolver na história do "sondado" ou na vergonhosa encenação de Mourinho Félix no Euro grupo. Isso só o faz parecer mais com Costa e não é esse o seu papel.

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