O
texto chegou-me por email, enviado pelo meu filho Ricardo, com os dizeres: “Talvez
te interesse ler”. Realmente, gostei de ler. Desde há muito que o ar tímido
mas eficiente de Mário Centeno me faz colocá-lo acima de todos os que actualmente
governam, e julgo que Centeno alcançou uma simpatia generalizada, que faz que,
ao contrário do que sucedeu no início do governo de António Costa, a caricatura
e a troça provocada pelo seu sorriso um pouco ridículo, mas que se revelou de
firmeza, aparente bondade, e, afinal, eficiência, nos solavancos tenebrosos de
uma governação de caranguejola prestes a ruir mas perdurando entre resultados de
esperança, a troça e a caricatura desapareceram para dar lugar à confiança num
homem que se olha com espanto e fé. Não faz esforço para se defender, não é dos
que grita ou acusa, é, antes alguém que parece estar sempre a pedir desculpa das
decisões que toma com firmeza, indiferente a julgamentos. Uma avis rara no meio do marulhar babugento
dos que empregam violência verbal ou ironia, e transformam a assembleia da República
numa feira ruidosa apelando à freguesia. Realmente, o que choca, é a eficácia
da sua pose tímida mas bem segura de si, como quem não quer dar a perceber a
sua inteligência, indiferente à turba e só realizando o que lhe parece certo,
com agudeza e serenidade. André Veríssimo o descreve com perspicácia.
Sim, interessou-me a leitura, como diria Garrett falando da janela da Joaninha:
«Interessou-me aquela janela». Que amplos mistérios esconde a
personalidade de Mário Centeno?
NEGÓCIOS
EDITORIAL
ANDRÉ
VERÍSSIMO
Subdirector
Centeno,
o anti-Costa, Centeno o académico, Centeno o tímido, Centeno o dos e-mails da Caixa,
Centeno o político inábil, Centeno o que se devia demitir, Centeno o do défice
além
de
Bruxelas. E, no entanto, Centeno o ministro mais popular do Governo.
A
longevidade no cargo dos independentes que ocupam a pasta das Finanças tem sido
curta. Luís Campos e Cunha esteve quatro meses. Vítor Gaspar aguentou-se dois
anos. Centeno ainda só leva 17 meses, mas tal como a mal-amanhada
"geringonça" também o ministro parece lançado para desfiar a baixa
probabilidade de sobrevivência que lhe era atribuída.
Ser
titular das Finanças rivaliza com a Educação na apreciação pública negativa a
que o cargo está, em regra, associado. E Centeno tem tido os seus maus
momentos, sendo o dossiê Caixao mais grave. A acusação de que mentiu no
Parlamento deixou-o muito perto da demissão - "O meu lugar está naturalmente
à disposição do primeiro-ministro", chegou a dizer há dois meses. Nada
que o impeça de ser o ministro mais popular do Governo. A última sondagem da
Aximage, publicada no dia 8 no cite do Negócios, mostra que Mário Centeno é, de
longe, o ministro com mais notoriedade. E o nome que primeiro vem à boca de
51,9% dos inquiridos, a grande distância do segundo: Vieira da Silva, com 3,7%.
É também, mais tuna vez com grande margem de diferença, o nomeado como melhor
ministro (39,4%). Também está entre os piores (8,2%), mas só depois do da
Educação (14,4%) e do da Saúde (8,5%).
Não
é propriamente uma proeza. Basta ser o ministro das Finanças que baixa impostos
e repõe salários. Talvez fosse ainda mais popular não tivessem existido os
casos já mencionados. Mas fica-se com a ideia de que, na verdade, eles nem chegaram
a ferir a imagem do ministro. Forçado ou espontâneo, o ar inibido e de alguma vulnerabilidade
ajuda a compor a imagem de um homem sério e confiável. Centeno é o anti-Costa,
no sentido em que é a antítese do animal político. E isso é um trunfo, tanto
para o ministro das Finanças, como para o primeiro-ministro.
Centeno
empresta uma imagem de rigor e fiabilidade ao Executivo. Melhor ou pior, vai
resolvendo os problemas na banca e foi capaz de baixar o défice, mesmo tendo de
cumprir os mínimos olímpicos do acordo com Bloco e PCP. Além de
anti-Costa, Centeno é um antídoto da própria "geringonça". É o
único activo de Costa na credibilidade internacional do Governo. O primeiro-ministro
sabe-o, tal como o Presidente da República, que entendeu segurá-lo
"atendendo ao estrito interesse nacional, em termos de estabilidade
financeira".
Por
isto tudo, e também porque Centeno se tem tornado politicamente mais hábil, não
se compreende como se deixou envolver na história do "sondado" ou na vergonhosa
encenação de Mourinho Félix no Euro grupo. Isso só o faz parecer mais com Costa
e não é esse o seu papel.
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