domingo, 7 de março de 2010

“Caminheiro de Mim”

Há dias assim. Deu-me no goto a canção de Ricardo Martins. Nem esperei pelo final, e muito menos pelas restantes, para agarrar no telemóvel e enviar o meu voto: 760207004. Mas pouca gente concordou. Nem sei que lugar alcançou. Nem interessava, pois só convinha o primeiro, merecedor do destaque na Eurovisão.
“Caminheiro de mim”. Bonita letra, de uma imagística suave e simples e todavia com a dimensão de uma vida humana, nos seus sentimentos e anseios, casando-se com a universalidade dos elementos da natureza e da criação humana da sua metáfora. Uma toada condizente, não estridente, e necessariamente repetitiva nos seus grupos frásicos paralelos. “Venho (2)”, “trago (1)”, “sou (6)”, os verbos iniciais da sua ordem progressiva de pensamento - origem, acompanhamento, definição - daí os versos de “ser” abundarem, na procura de uma autodefinição mais completa. A par disso, o acompanhamento ao piano pelo próprio autor e intérprete da canção, Ricardo Martins, o nosso Andrea Bocelli.
Não ganhou, a minha canção preferida, preterida por muitas outras, e sobretudo por uma retorcida “Há dias assim”.
Ouço-a pela Internet, donde tirei a letra. E aqui a apresento, em homenagem sentida a este jovem a quem auguro um excelente futuro na composição e interpretação musical portuguesa:
Venho nas asas do vento
Lá donde um lamento se torna maior.
Quando no peito sofrido
Se sente o gemido da palavra amor.
Venho dum rio de pranto
Que solta num canto todo o seu chorar,
Corre do corpo p’r’à alma
A nervosa calma de quem sabe amar.
Trago do mar e da serra
O segredo da Terra que me viu nascer
Sou trovador num caminho
Cantando sozinho em cada anoitecer.
Sou a guitarra magoada
Tangendo a toada que há no meu penar
Sou serenata da lua
Que brilha tão nua à luz do teu olhar.
Sou o poema uma chama
Que arde e que ama, que explode num ai
Sou uma dor poderosa
Cortante e teimosa que fica e não vai.
Sou caminheiro de mim
Vagueio sem fim até que o destino
Coloque um ponto final
No bem e no mal de ser peregrino.

Um comentário:

Migaça disse...

Concordo plenamente: era a melhor música e o melhor poema - era mesmo um poema, não só a letra de uma canção. Interpretação perfeita, tanto na voz como nos instrumentos musicais escolhidos para acompanhar.

O povo não gostou. Quando percebi a indiferença com que esta excelente canção era brindada, desliguei a televisão e nem vi o fim do festival.
Obrigada pelo poema já transcrito. Espero que o Ricardo Martins não perca a força para continuar a cantar!