- Estou aqui a ler uma notícia boazinha, disse a minha amiga radiante, quando cheguei à mesa do café, onde ela, que não descera nesse dia às compras no Pingo Doce, me esperava com o seu Destak, e estendendo-me o meu, que ela tira sempre do cacifo para mim.
- Então qual é? – perguntei curiosa, pousando os sacos, discretamente do lado da cadeira onde ficariam mais disfarçados, por tímido complexo contra a violência na domesticidade.
- Sabe que eu sempre achei que o turismo é que era bom. Com o solzinho a vender à grama, por cá... Mas não digo agora. Já digo há vinte, trinta anos...
- Agora já não é tanto assim. Com tanta cheia e frio por aí, a destruir até os hotéis...
- Mas veja a boa notícia, insistiu apontando a dedo a página 05 do Destak de 5ª feira, 25 de março de 2010.
Comecei por ler em cabeçalho, em ACIDENTE, a condenação de uma mulher que atropelara três, no Terreiro do Paço, em MUNIÇÕES um arsenal de armas encontradas em casa de um indivíduo de 69 anos, em Setúbal, em ASSALTO, a libertação de dois reféns de um assalto a uma ourivesaria no dia 24, em Alvalade, e achei que nenhuma das notícias correspondia a tal epíteto de “boazinha” do seu apodo.
A minha amiga impacientou-se com a minha falta de perspicácia no manejo das páginas, mais esclarecida do que eu na detecção imediata dos sítios importantes dos jornais:
- É esta! “Cruzeiros”! Leia.
Li. “Primeira fase do Terminal está pronta em 2013” encimando uma foto de um espectacular paquete não nacional, evidentemente, que já lá vai o tempo do “Infante D. Henrique”, do “Príncipe Perfeito”, do “Lourenço Marques”, onde em 44 retornei a Lourenço Marques, numa viagem de 34 dias, já tudo desaparecido nos desperdícios do tempo, e, é claro, com muito menos andares mas com três classes mais o porão... Sob a tal foto do paquete estrangeiro, a legenda que se me afigurou de megalómana “Espera-se aumento de turismo”.
Não posso deixar de transcrever o texto que fez as delícias da minha ambiciosa amiga:
«O novo terminal de cruzeiros de Lisboa, cuja primeira fase estará concluída em 2013, deverá ser “fundamental” para o turismo, com o aumento dos cruzeiros com origem e destino em Lisboa, revelou à Lusa o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado.
A obra vai custar 30 milhões de euros, pagos pela Administração do Porto de Lisboa (APL), que lançou ontem o concurso público, juntamente com a Câmara de Lisboa e a Ordem dos Arquitectos. Para Manuel Salgado, a partida e a chegada dos cruzeiros a Lisboa vai beneficiar “todas as actividades da Baixa” como a hotelaria, a restauração e o comércio. António Costa considera que o terminal assinala “uma nova era no relacionamento” entre o executivo municipal e a APL.»
Ainda perguntei à minha amiga se o que a fazia feliz era a questão da nova era do relacionamento entre o nosso Costa e a tal APL, como chamariz da nossa atenção para o perfil dele, promotor de uma próxima ascensão para um próximo lugar de grande projecção para ele e o seu partido, que eles – os costas e seu partido - não perdem pitada para se promoverem, nem deixam isso para quaisquer mãos alheias, por vezes pouco puras nas intenções.
Mas a minha amiga nem se deu ao trabalho de repelir a sugestão, lançada que estava no tema do turismo, num país, segundo ela, com bastas hipóteses comerciais por o sol se poder vender ao grama, de tão acolhedor que é.
Eu descreio mais no milagre, porque há sempre que contar com as derrapagens, nestas coisas das obras entre nós. Derrapagens no tempo e no custo, o costume.
Mas a minha amiga tem muita fé no Santo António – no de Lisboa ou de Pádua, é certo, não no Costa por autopromoção. Pode ser que sim, que Santo António dê um reforço à obra “Terminal” da promoção do nosso António (Costa, de sobrenome).
- Então qual é? – perguntei curiosa, pousando os sacos, discretamente do lado da cadeira onde ficariam mais disfarçados, por tímido complexo contra a violência na domesticidade.
- Sabe que eu sempre achei que o turismo é que era bom. Com o solzinho a vender à grama, por cá... Mas não digo agora. Já digo há vinte, trinta anos...
- Agora já não é tanto assim. Com tanta cheia e frio por aí, a destruir até os hotéis...
- Mas veja a boa notícia, insistiu apontando a dedo a página 05 do Destak de 5ª feira, 25 de março de 2010.
Comecei por ler em cabeçalho, em ACIDENTE, a condenação de uma mulher que atropelara três, no Terreiro do Paço, em MUNIÇÕES um arsenal de armas encontradas em casa de um indivíduo de 69 anos, em Setúbal, em ASSALTO, a libertação de dois reféns de um assalto a uma ourivesaria no dia 24, em Alvalade, e achei que nenhuma das notícias correspondia a tal epíteto de “boazinha” do seu apodo.
A minha amiga impacientou-se com a minha falta de perspicácia no manejo das páginas, mais esclarecida do que eu na detecção imediata dos sítios importantes dos jornais:
- É esta! “Cruzeiros”! Leia.
Li. “Primeira fase do Terminal está pronta em 2013” encimando uma foto de um espectacular paquete não nacional, evidentemente, que já lá vai o tempo do “Infante D. Henrique”, do “Príncipe Perfeito”, do “Lourenço Marques”, onde em 44 retornei a Lourenço Marques, numa viagem de 34 dias, já tudo desaparecido nos desperdícios do tempo, e, é claro, com muito menos andares mas com três classes mais o porão... Sob a tal foto do paquete estrangeiro, a legenda que se me afigurou de megalómana “Espera-se aumento de turismo”.
Não posso deixar de transcrever o texto que fez as delícias da minha ambiciosa amiga:
«O novo terminal de cruzeiros de Lisboa, cuja primeira fase estará concluída em 2013, deverá ser “fundamental” para o turismo, com o aumento dos cruzeiros com origem e destino em Lisboa, revelou à Lusa o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado.
A obra vai custar 30 milhões de euros, pagos pela Administração do Porto de Lisboa (APL), que lançou ontem o concurso público, juntamente com a Câmara de Lisboa e a Ordem dos Arquitectos. Para Manuel Salgado, a partida e a chegada dos cruzeiros a Lisboa vai beneficiar “todas as actividades da Baixa” como a hotelaria, a restauração e o comércio. António Costa considera que o terminal assinala “uma nova era no relacionamento” entre o executivo municipal e a APL.»
Ainda perguntei à minha amiga se o que a fazia feliz era a questão da nova era do relacionamento entre o nosso Costa e a tal APL, como chamariz da nossa atenção para o perfil dele, promotor de uma próxima ascensão para um próximo lugar de grande projecção para ele e o seu partido, que eles – os costas e seu partido - não perdem pitada para se promoverem, nem deixam isso para quaisquer mãos alheias, por vezes pouco puras nas intenções.
Mas a minha amiga nem se deu ao trabalho de repelir a sugestão, lançada que estava no tema do turismo, num país, segundo ela, com bastas hipóteses comerciais por o sol se poder vender ao grama, de tão acolhedor que é.
Eu descreio mais no milagre, porque há sempre que contar com as derrapagens, nestas coisas das obras entre nós. Derrapagens no tempo e no custo, o costume.
Mas a minha amiga tem muita fé no Santo António – no de Lisboa ou de Pádua, é certo, não no Costa por autopromoção. Pode ser que sim, que Santo António dê um reforço à obra “Terminal” da promoção do nosso António (Costa, de sobrenome).
A esperança nunca derrapa, quando se tem fé.
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