Somos um povo de ex-agricultores.
Sempre estudámos na nossa História que Portugal era, de longa data, um povo agrícola, habituado à enxada e à charrua, à foice e ao arado, instrumentos da nossa força criadora, de trabalho de sol a sol, sem necessidade de sobrecarregar os espíritos com outra cultura que não fosse a física. E assim nos governávamos.
Também tínhamos as salinas, também apanhávamos a lenha das nossas fogueiras, habituámo-nos às rolhas da nossa exportação, por conta dos sobreiros do vasto Alentejo, o vinho do Porto, graças a umas encostas soalheiras e xistosas propícias, e sobretudo à participação inglesa de longo alcance, concederam-nos uma glória geral, conquanto que em sobressaltos, devido, por vezes, a um menor cuidado numa fabricação batoteira consuetudinária. Plantámos os pinhais necessários para os embarques nas nossas “naus a haver”, no tempo do rei trovador, para assim obter, posteriormente, o “trigo do império”.
Tivemos lanifícios reconhecidamente qualificados, graças ao gado ovino da nossa pastorícia acompanhante da nossa agricultura, como esta, pois, desprovida dos “horizontes da mente e da memória”.
Mas a ambição das riquezas na época das naus descobridoras fez-nos desertificar os campos, e vir para Lisboa viver de estadão. Já Sá de Miranda o critica, na sua “Carta ao Senhor de Basto”, condenando os costumes de grandezas inusitadas:
«...Não me temo de Castela,
Sempre estudámos na nossa História que Portugal era, de longa data, um povo agrícola, habituado à enxada e à charrua, à foice e ao arado, instrumentos da nossa força criadora, de trabalho de sol a sol, sem necessidade de sobrecarregar os espíritos com outra cultura que não fosse a física. E assim nos governávamos.
Também tínhamos as salinas, também apanhávamos a lenha das nossas fogueiras, habituámo-nos às rolhas da nossa exportação, por conta dos sobreiros do vasto Alentejo, o vinho do Porto, graças a umas encostas soalheiras e xistosas propícias, e sobretudo à participação inglesa de longo alcance, concederam-nos uma glória geral, conquanto que em sobressaltos, devido, por vezes, a um menor cuidado numa fabricação batoteira consuetudinária. Plantámos os pinhais necessários para os embarques nas nossas “naus a haver”, no tempo do rei trovador, para assim obter, posteriormente, o “trigo do império”.
Tivemos lanifícios reconhecidamente qualificados, graças ao gado ovino da nossa pastorícia acompanhante da nossa agricultura, como esta, pois, desprovida dos “horizontes da mente e da memória”.
Mas a ambição das riquezas na época das naus descobridoras fez-nos desertificar os campos, e vir para Lisboa viver de estadão. Já Sá de Miranda o critica, na sua “Carta ao Senhor de Basto”, condenando os costumes de grandezas inusitadas:
«...Não me temo de Castela,
Donde inda guerra não soa,
Mas temo-me de Lisboa
Que, ao cheiro desta canela,
O Reino nos despovoa....
Ouves, Viriato, o estrago,
Que vai dos teus costumes?
Os leitos, mesas e os lumes,
Tudo cheira: eu óleos trago;
Vêm outros, trazem perfumes.
E ao bom trajo dos pastores
Com que saiste à peleja
Dos Romanos tão vencedores,
São mudados os louvores:
Não há quem te haja inveja.
Entrou, há dias, peçonha
Clara pelos nossos portos,
Sem que remédio se ponha:
Uns dormentes, outros mortos,
Alguém pelas ruas sonha.
Fez no começo a pobreza
Vencer os ventos e o mar,
Vencer quase a natureza:
Medo hei de novo à riqueza
Que nos venha a cativar.(…)
Direis, e eu não vo-lo nego,
Mas quereis também que diga?
Este mundo é armado em briga,
Não busqueis nele sossego,
Nem numa alta ermida antiga. .......»
Mas já antes dele, Duarte da Gama tinha escrito umas “Trovas às desordens que agora se costumam em Portugal”, contidas no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende que vêm em apoio dessa tese de desorganização geral, provocada pelas vaidades e ambições trazidas pelos Descobrimentos - trazidas agora pelo maná de dinheiros estrangeiros usados à tripa-forra, na facilidade do seu ganho:
“Não sei quem possa viver
Neste Reino já contente,
Pois a desordem na gente
Não quer deixar de crescer;
A qual vai tão sem medida
que se não pode sofrer:
não há aí quem possa ter
boa vida.
Uns vejo casas fazer
E falar por entre-solos (= a ocultas)
Que creio que têm mais dolos
Do que eu tenho de comer;
Outros guarda-roupa, quartos
Também vejo nomear,
Que já deviam de estar
Disso fartos. ......
Todas estas referências vêm a propósito das conversas com a minha amiga sobre o estado desordeiro da Nação, uma constante com intermitências, e foi provocada inicialmente pela constatação que, nesta “desordem” sem trovas, até o tomate é de importação. Como as uvas e os limões. Somos um povo de ex-agricultores, mas há muito o somos, afinal. Com intermitências, nos arremedos das boas governações, que não ajudaram nunca, contudo, à conscientização do homem de trabalho, sempre reduzido a alombar, para os senhores. Mas com ambições também.
Hoje foi-nos oferecido um jornal do PC. E logo a minha amiga:
- Toda a gente sabe como é que se salva o país. Todos têm as soluções todas. Olhe p’ra isto – (mostrou o jornal): - Soluções há-as aos molhinhos. Estão aqui todas. Não são eles que governam, é certo. Para a demonstração. Por isso explicam tudo direitinho, como deveria ser.
Falámos ainda em Paulo Portas, que daria um bom Primeiro Ministro, pois tem revelado capacidades de observação, com propostas de remediação que parecem sérias. Com Manuela Ferreira Leite para Presidente da República, para impor o rigor da hombridade. Utopias de uma ingenuidade a posteriori. A Nação os repele, interessada na desordem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário