Texto do livro “Pedras de Sal”, de 1974, editado em 2ª edição em “Cravos Roxos – Croniquetas verde-rubras”, de 1981:
«E Portanto...»
«Eu acho que só progrediremos com Moçambique independente. E portanto só a Frelimo corresponde aos anseios da população. E portanto só seremos fortes e livres sob o domínio da Frelimo que tem estatuto.”
A maioria das pessoas interrogadas pelo jornal “Notícias” exprime-se assim. Matutaram longamente no caso, vê-se bem, e portanto fazem as suas deduções com lógica matuta.
O processo de politização encetado pelo jornal “Notícias” revela esmagadora maioria de adeptos da dedução. De cada quatro pessoas que respondem de cada vez, três, pelo menos, respondem do modo supracitado.
Isso obriga-nos a todos a ponderarmos a questão para, se formos nós os interrogados da próxima vez, também deduzirmos assim, pois é a resposta mais inteligente e essa inteligência vai transparecer na nossa fotografia.
Eu só tenho pena que não me tenham perguntado a mim sobre o referendo e a independência e tirado o retrato. Havia de dizer que não ao referendo – estávamos tão bem assim! – e havia de dizer que sim ao Samora Machel, por causa do bem-estar dele, que quando viaja para a Zâmbia para travar as conversações vai no avião particular do Kaunda e é recebido no palácio deste com o estatuto, enquanto o desprezado Mário Soares fica no hotel sem avião, coitado, por falta do estatuto.
E havia a minha resposta inteligente de transparecer no meu retrato, mas tudo isso não passa de sonho, que o “Notícias” não quer lá todas as fotografias e portanto não posso também deduzir.»
Vem o texto a propósito da conversa com a minha amiga, indignada com a despesa implícita na viagem dos governantes e C.ia a Moçambique, em avião a abarrotar de ansiosos de diversão por conta alheia.
- Estão a gozar até dizer chega. Viagem a Cahora Bassa, lautos repastos nos Polanas da terra...
- Mas vão oferecer também os seus préstimos, não acho que vão só gozar. Sócrates vai emprestar recursos que suponho não nos pertencem, e que servirão essencialmente para os governantes de lá poderem vir cá também gozar até dizer chega. Ou há moralidade...
- Agora é que o TGV vai ao ar. Devem gastar as últimas tarifas do empréstimo europeu...
- Sim, mas é uma boa vingança para Mário Soares, por conta do estatuto. O Samora Machel lá saberá, junto dos anjinhos, que também já temos estatuto, dilatado a uma comitiva de muito peso. A evolução é uma teoria que a prática entre nós justifica até dizer chega.
«E Portanto...»
«Eu acho que só progrediremos com Moçambique independente. E portanto só a Frelimo corresponde aos anseios da população. E portanto só seremos fortes e livres sob o domínio da Frelimo que tem estatuto.”
A maioria das pessoas interrogadas pelo jornal “Notícias” exprime-se assim. Matutaram longamente no caso, vê-se bem, e portanto fazem as suas deduções com lógica matuta.
O processo de politização encetado pelo jornal “Notícias” revela esmagadora maioria de adeptos da dedução. De cada quatro pessoas que respondem de cada vez, três, pelo menos, respondem do modo supracitado.
Isso obriga-nos a todos a ponderarmos a questão para, se formos nós os interrogados da próxima vez, também deduzirmos assim, pois é a resposta mais inteligente e essa inteligência vai transparecer na nossa fotografia.
Eu só tenho pena que não me tenham perguntado a mim sobre o referendo e a independência e tirado o retrato. Havia de dizer que não ao referendo – estávamos tão bem assim! – e havia de dizer que sim ao Samora Machel, por causa do bem-estar dele, que quando viaja para a Zâmbia para travar as conversações vai no avião particular do Kaunda e é recebido no palácio deste com o estatuto, enquanto o desprezado Mário Soares fica no hotel sem avião, coitado, por falta do estatuto.
E havia a minha resposta inteligente de transparecer no meu retrato, mas tudo isso não passa de sonho, que o “Notícias” não quer lá todas as fotografias e portanto não posso também deduzir.»
Vem o texto a propósito da conversa com a minha amiga, indignada com a despesa implícita na viagem dos governantes e C.ia a Moçambique, em avião a abarrotar de ansiosos de diversão por conta alheia.
- Estão a gozar até dizer chega. Viagem a Cahora Bassa, lautos repastos nos Polanas da terra...
- Mas vão oferecer também os seus préstimos, não acho que vão só gozar. Sócrates vai emprestar recursos que suponho não nos pertencem, e que servirão essencialmente para os governantes de lá poderem vir cá também gozar até dizer chega. Ou há moralidade...
- Agora é que o TGV vai ao ar. Devem gastar as últimas tarifas do empréstimo europeu...
- Sim, mas é uma boa vingança para Mário Soares, por conta do estatuto. O Samora Machel lá saberá, junto dos anjinhos, que também já temos estatuto, dilatado a uma comitiva de muito peso. A evolução é uma teoria que a prática entre nós justifica até dizer chega.
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