Estávamos à mesa do café quando apareceu a nossa amiga. A nossa amiga é uma pessoa que opina muito, e geralmente se aponta como modelo de conduta a seguir. Falámos – ou antes - eu sou mais de escutar - a minha amiga é que falou mais, com a nossa amiga, sobre uma amiga de ambas que pedira à nossa, também amiga dela, que não contasse determinado seu segredo que a nossa não nos transmitiu, nem a ninguém, de resto, presa ao seu juramento quase diria hipocrático, tão solene foi a declaração da nossa amiga sobre a não divulgação dele, nem de nenhum dos que lhe contam, como é habitual nela. Mas, escandalizada, declarou que, apesar de ela o ter calado criteriosamente, o segredo em pouco tempo já andava nas bocas do mundo, o que significava que a sua amiga contara a outras amigas que não se calaram como fez a nossa. E o segredo correu.
Então, eu lembrei que essa história era bem imagem do que se estava a passar connosco, portugueses faladores, que contam uns dos outros e pedem segredo a cada amigo a quem contam e esses contam a outros, pedindo igualmente segredo e a notícia vai-se espalhando, porque somos uns portugueses desocupados, embora de língua não, em coisas comezinhas. Por isso os nossos segredos correm. Como as enxurradas na Madeira.
A nossa amiga estava indignada também porque soubera que o segredo que julgava só dela, como privilégio especial de amizade, passara a outros ouvidos e chegara novamente a ela, e reforçou a ideia da sua honestidade nisto de não divulgação, contando que um dia, por não ter informado um familiar de uma pessoa que tivera um acidente, fora criticada por esse familiar quando este soube que ela soubera e não lhe contara.
Foi então que a minha amiga ponderou, no seu saber de experiências similares, que isso acontece frequentemente e exemplificou com a expressão do nosso quotidiano: “Sabias e não me disseste?” demonstrativo da sua frequência entre nós, que até gostamos de ser compinchas no falatório.
Daí eu ter reforçado a minha opinião sobre as nossas escutas de telemóvel que essas, sim, se expandiram depressa e a uma distância à escala global, envolvendo os segredos do nosso PM, sem lhe darem tempo para ele se aplicar a outras questões mais ponderosas – as da nossa sobrevivência como nação. Todavia, ele também não deve estar muito ralado com a sobrevivência, que isso é complicado - e a dele para todos os efeitos está garantida - porque se submeteu docilmente à solicitação de uma comissão parlamentar de ética, em que tem que se demonstrar se neste país de murmúrios e segredos a nossa liberdade de expressão está ameaçada.
E todos nós brincamos agora ao diz-que-disse, de cabeça perdida, com o avolumar da intriga, em entrevistas tribunícias soturnas e macaqueadoras inverosímeis, que a televisão nos impinge. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”
E afinal, o Catilina somos todos nós.
Então, eu lembrei que essa história era bem imagem do que se estava a passar connosco, portugueses faladores, que contam uns dos outros e pedem segredo a cada amigo a quem contam e esses contam a outros, pedindo igualmente segredo e a notícia vai-se espalhando, porque somos uns portugueses desocupados, embora de língua não, em coisas comezinhas. Por isso os nossos segredos correm. Como as enxurradas na Madeira.
A nossa amiga estava indignada também porque soubera que o segredo que julgava só dela, como privilégio especial de amizade, passara a outros ouvidos e chegara novamente a ela, e reforçou a ideia da sua honestidade nisto de não divulgação, contando que um dia, por não ter informado um familiar de uma pessoa que tivera um acidente, fora criticada por esse familiar quando este soube que ela soubera e não lhe contara.
Foi então que a minha amiga ponderou, no seu saber de experiências similares, que isso acontece frequentemente e exemplificou com a expressão do nosso quotidiano: “Sabias e não me disseste?” demonstrativo da sua frequência entre nós, que até gostamos de ser compinchas no falatório.
Daí eu ter reforçado a minha opinião sobre as nossas escutas de telemóvel que essas, sim, se expandiram depressa e a uma distância à escala global, envolvendo os segredos do nosso PM, sem lhe darem tempo para ele se aplicar a outras questões mais ponderosas – as da nossa sobrevivência como nação. Todavia, ele também não deve estar muito ralado com a sobrevivência, que isso é complicado - e a dele para todos os efeitos está garantida - porque se submeteu docilmente à solicitação de uma comissão parlamentar de ética, em que tem que se demonstrar se neste país de murmúrios e segredos a nossa liberdade de expressão está ameaçada.
E todos nós brincamos agora ao diz-que-disse, de cabeça perdida, com o avolumar da intriga, em entrevistas tribunícias soturnas e macaqueadoras inverosímeis, que a televisão nos impinge. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”
E afinal, o Catilina somos todos nós.
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