É tempo de reler o “Auto da Alma”, a "Alma" que, na encruzilhada da sua vida, sentindo-se débil e sujeita às terreais tentações, porque “a sereia canta bela” para todos os pescadores da “Barca Bela”, afinal, e não só para o de Garrett, resolve suplicar a ajuda do “Anjo”, que lhe responde assim:
“Para isso sou, e a isso vim;
Mas, enfim,
Cumpre-vos de me ajudar
A resistir.
Não vos ocupem vaidades,
riquezas, nem seus debates.
Olhai por vós:
Que pompas, honras, herdades
E vaidades
São embates e combates
Para vós.
Vosso livre alvedrio,
Isento, forro, poderoso,
Vos é dado
Pelo divinal poderio
E senhorio,
Que possais fazer glorioso
Vosso estado.
Deu-vos livre entendimento
E vontade libertada
E a memória,
Que tenhais em vosso tento
Fundamento
Que sois por Ele criada
Para a glória....”
É tempo de reler o “Auto da Alma”, não para nos imbuirmos da doutrina que temos possibilidade de seguir ou não, graças ao nosso “livre arbítrio” reconhecido pelo “Anjo” - segundo teoria de uma liberdade que alguns põem em causa, apóstolos da teoria da salvação pela graça que só Deus pode conceder – mas para, deliciando-nos com a simplicidade da argumentação vicentina, reflectirmos ainda no sentido da responsabilidade inerente a cada homem no seu comportamento, mesmo sem a graça de Deus.
Não se trata de viver livre sem os preceitos do justo e do injusto. O conceito de Justiça é fundamental, como princípio que preside à decência do comportamento do homem racional que o distingue do animal irracional o qual se gere por instintos.
Por isso, conceder livre arbítrio a seres que não atingiram uma maturidade indispensável, para decidirem com equilíbrio, qual seja o homem, na sua fase da infância física e cultural, é conduzi-los ao logro de uma falsa liberdade, e à sua manipulação por outros seres aparentemente mais desenvoltos, cujo poder será usado sem grandes escrúpulos, e sobretudo em proveito próprio. Por isso, o direito à emancipação deverá surgir no momento certo, atingida uma auto-determinação, como primeiro degrau, para que os tais povos se possam defender melhor, aquando da emancipação. Verdadeiro para o homem, como para os povos.
O porquê deste tema, talvez considerado por alguns ultrapassado, e sobretudo inócuo, no meio de outros de tanta gravidade que estamos a viver, num país onde o acto de governar nos sugere tenebroso brincar de um conhecido aprendiz, surge na sequência de um “malentendido”, sem importância para o mundo, é certo, mas injusto para mim - espero que não intencionalmente. Por isso, reitero o que escrevi em comentário de resposta, que transcrevo, sabendo de antemão que a minha posição só pode merecer, uma vez mais, o apodo de antiquada, desajustada, de Velho do Restelo no seu falazar inútil, 36 anos passados e jamais esquecidos:
“Eu nem chego a perceber como ando por aqui envolvida em ideias que não apliquei, em frases que não escrevi, e em referências pessoais que não fiz. Nunca falei sobre defesa do livre arbítrio nem reconheci tal direito de emancipação dos povos, nem sobre o facto de, sendo moçambicana, ter optado pela pátria dos meus progenitores, em respeito pelo sangue etc, etc... Tudo o que tenho escrito, de forma menos farfalhuda, tem sido o contrário do que sobre mim foi dito pelo sr. Gabriel Cipriano e que a minha amiga viscondessa repete ironicamente, comparando comportamentos ou formas de escrita. Mas a interpretação do sr. Cipriano serviu para aclarar o pensamento do sr. Casimiro Rodrigues, que eu não tinha percebido. Só posso afirmar aqui que, se amei “a minha terra” - Moçambique - foi como terra portuguesa, nunca me senti senão portuguesa. Quanto à tal teoria do livre arbítrio e do direito à emancipação dos povos, eu não discordo disso, desde que os povos sejam conscientes, e não só meia dúzia de indivíduos que, aproveitando-se da onda favorável a essas teorias, as utilizaram para favorecimento próprio e o resultado viu-se e vê-se. Nós abandonámos esses povos antes da emancipação, condenando-os a um sofrimento a que fugimos, naturalmente. Fomos como uns pais que abandonam os filhos - dantes, era na roda. Agora, por outros processos, entre os quais o contentor do lixo.”
“Para isso sou, e a isso vim;
Mas, enfim,
Cumpre-vos de me ajudar
A resistir.
Não vos ocupem vaidades,
riquezas, nem seus debates.
Olhai por vós:
Que pompas, honras, herdades
E vaidades
São embates e combates
Para vós.
Vosso livre alvedrio,
Isento, forro, poderoso,
Vos é dado
Pelo divinal poderio
E senhorio,
Que possais fazer glorioso
Vosso estado.
Deu-vos livre entendimento
E vontade libertada
E a memória,
Que tenhais em vosso tento
Fundamento
Que sois por Ele criada
Para a glória....”
É tempo de reler o “Auto da Alma”, não para nos imbuirmos da doutrina que temos possibilidade de seguir ou não, graças ao nosso “livre arbítrio” reconhecido pelo “Anjo” - segundo teoria de uma liberdade que alguns põem em causa, apóstolos da teoria da salvação pela graça que só Deus pode conceder – mas para, deliciando-nos com a simplicidade da argumentação vicentina, reflectirmos ainda no sentido da responsabilidade inerente a cada homem no seu comportamento, mesmo sem a graça de Deus.
Não se trata de viver livre sem os preceitos do justo e do injusto. O conceito de Justiça é fundamental, como princípio que preside à decência do comportamento do homem racional que o distingue do animal irracional o qual se gere por instintos.
Por isso, conceder livre arbítrio a seres que não atingiram uma maturidade indispensável, para decidirem com equilíbrio, qual seja o homem, na sua fase da infância física e cultural, é conduzi-los ao logro de uma falsa liberdade, e à sua manipulação por outros seres aparentemente mais desenvoltos, cujo poder será usado sem grandes escrúpulos, e sobretudo em proveito próprio. Por isso, o direito à emancipação deverá surgir no momento certo, atingida uma auto-determinação, como primeiro degrau, para que os tais povos se possam defender melhor, aquando da emancipação. Verdadeiro para o homem, como para os povos.
O porquê deste tema, talvez considerado por alguns ultrapassado, e sobretudo inócuo, no meio de outros de tanta gravidade que estamos a viver, num país onde o acto de governar nos sugere tenebroso brincar de um conhecido aprendiz, surge na sequência de um “malentendido”, sem importância para o mundo, é certo, mas injusto para mim - espero que não intencionalmente. Por isso, reitero o que escrevi em comentário de resposta, que transcrevo, sabendo de antemão que a minha posição só pode merecer, uma vez mais, o apodo de antiquada, desajustada, de Velho do Restelo no seu falazar inútil, 36 anos passados e jamais esquecidos:
“Eu nem chego a perceber como ando por aqui envolvida em ideias que não apliquei, em frases que não escrevi, e em referências pessoais que não fiz. Nunca falei sobre defesa do livre arbítrio nem reconheci tal direito de emancipação dos povos, nem sobre o facto de, sendo moçambicana, ter optado pela pátria dos meus progenitores, em respeito pelo sangue etc, etc... Tudo o que tenho escrito, de forma menos farfalhuda, tem sido o contrário do que sobre mim foi dito pelo sr. Gabriel Cipriano e que a minha amiga viscondessa repete ironicamente, comparando comportamentos ou formas de escrita. Mas a interpretação do sr. Cipriano serviu para aclarar o pensamento do sr. Casimiro Rodrigues, que eu não tinha percebido. Só posso afirmar aqui que, se amei “a minha terra” - Moçambique - foi como terra portuguesa, nunca me senti senão portuguesa. Quanto à tal teoria do livre arbítrio e do direito à emancipação dos povos, eu não discordo disso, desde que os povos sejam conscientes, e não só meia dúzia de indivíduos que, aproveitando-se da onda favorável a essas teorias, as utilizaram para favorecimento próprio e o resultado viu-se e vê-se. Nós abandonámos esses povos antes da emancipação, condenando-os a um sofrimento a que fugimos, naturalmente. Fomos como uns pais que abandonam os filhos - dantes, era na roda. Agora, por outros processos, entre os quais o contentor do lixo.”
O certo é que nós abandonámos aqueles africanos que connosco conviviam e que eram nossos amigos, e nunca mais saberemos onde estão, o que lhes aconteceu, se foram felizes ou se foram tragados na violência da mudança. Também os atraiçoámos, tal como o fizemos com a nossa Pátria. E tenho saudades.
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