Os pais leram à Beatriz o bonito livro que compraram para ela. A Beatriz levou o livro para a escola e as professoras leram a história para todos os meninos. “O Pássaro da Alma”. Um livro de gavetas, onde o Pássaro enfiava não papelada ou talheres ou peúgas, mas as disposições de espírito dos meninos e meninas: A gaveta das alegrias, das tristezas, da amizade, das zangas...
A Beatriz estava a brincar com o pai, que a atirava ao ar ruidosamente. Mas ia começar o jogo do Benfica com um clube alemão, o pai parou de brincar:
- O Papá agora quer ver o jogo do Benfica, vê tu o canal Panda, no teu quarto.
A Beatriz suplicou, o Pai foi irredutível. A Beatriz apareceu tragicamente na sala:
- Mamã, Papá, estou triste.
Os Pais olharam-na admirados, riram-se, mas continuaram nas suas lides respectivas. A dada altura, notando o silêncio e a ausência da Beatriz, o Pai foi ao seu quarto. A Beatriz estava encostada à cama, com ar amarfanhado:
- O que foi, filha?
- O Pássaro da Alma abriu a minha gaveta da tristeza.
A Beatriz reconquistou a sua gaveta da alegria, com a desistência momentânea do Pai de continuar a ver um Benfica também mergulhado nalguma gaveta de inércia, pois terminaria desastrosamente empatado. Voltaram as brincadeiras, a felicidade iluminou novamente a vida da Beatriz, instalada na gaveta respectiva.
Os Pais riram muito, o Pai telefonou à Avó – Eu – contou a história, admirou a finura da filha, a sua saída repentista, subentendendo uma espontânea adaptação da história das gavetas ao seu próprio estado de alma, com a escolha da gaveta própria. Eu também admirei a percepção dos quase quatro anos e meio da Beatriz, na sua pronta reacção, colaborei nos elogios à minha neta e aos pais que lêem histórias à filha, além das que ela própria ouve na escola e nos canais ou CDs do seu usufruto televisivo monopolizador, embora já tenha televisão própria, porque acha “injusto” ser excluída do convívio com os Pais, à hora do noticiário.
A gaveta da tristeza! Criança sofre!
Um dia, a Beatriz terá outras gavetas. As das suas lutas, dos seus sacrifícios, das suas incompreensões do mundo. Que o Pássaro não deixará de abrir para ela.
Gostaríamos que não fossem gavetas como as do nosso viver quotidiano, recheadas dos receios desse viver fragilizado pelo absurdo.
E, embora o nosso presente não inspire tanta confiança assim, talvez o Pássaro da Alma traga à Beatriz, como a todos os nossos meninos, no seu futuro, gavetas repletas de harmonia.
Há sempre uma gaveta de esperança, mesmo numa Avalom de bruma.
A Beatriz estava a brincar com o pai, que a atirava ao ar ruidosamente. Mas ia começar o jogo do Benfica com um clube alemão, o pai parou de brincar:
- O Papá agora quer ver o jogo do Benfica, vê tu o canal Panda, no teu quarto.
A Beatriz suplicou, o Pai foi irredutível. A Beatriz apareceu tragicamente na sala:
- Mamã, Papá, estou triste.
Os Pais olharam-na admirados, riram-se, mas continuaram nas suas lides respectivas. A dada altura, notando o silêncio e a ausência da Beatriz, o Pai foi ao seu quarto. A Beatriz estava encostada à cama, com ar amarfanhado:
- O que foi, filha?
- O Pássaro da Alma abriu a minha gaveta da tristeza.
A Beatriz reconquistou a sua gaveta da alegria, com a desistência momentânea do Pai de continuar a ver um Benfica também mergulhado nalguma gaveta de inércia, pois terminaria desastrosamente empatado. Voltaram as brincadeiras, a felicidade iluminou novamente a vida da Beatriz, instalada na gaveta respectiva.
Os Pais riram muito, o Pai telefonou à Avó – Eu – contou a história, admirou a finura da filha, a sua saída repentista, subentendendo uma espontânea adaptação da história das gavetas ao seu próprio estado de alma, com a escolha da gaveta própria. Eu também admirei a percepção dos quase quatro anos e meio da Beatriz, na sua pronta reacção, colaborei nos elogios à minha neta e aos pais que lêem histórias à filha, além das que ela própria ouve na escola e nos canais ou CDs do seu usufruto televisivo monopolizador, embora já tenha televisão própria, porque acha “injusto” ser excluída do convívio com os Pais, à hora do noticiário.
A gaveta da tristeza! Criança sofre!
Um dia, a Beatriz terá outras gavetas. As das suas lutas, dos seus sacrifícios, das suas incompreensões do mundo. Que o Pássaro não deixará de abrir para ela.
Gostaríamos que não fossem gavetas como as do nosso viver quotidiano, recheadas dos receios desse viver fragilizado pelo absurdo.
E, embora o nosso presente não inspire tanta confiança assim, talvez o Pássaro da Alma traga à Beatriz, como a todos os nossos meninos, no seu futuro, gavetas repletas de harmonia.
Há sempre uma gaveta de esperança, mesmo numa Avalom de bruma.
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