Na sequência da nossa conversa murmurada não sobre o ocultismo, que é coisa que tem a ver com o sagrado que a gente respeita mas não compartilha, mas sobre a ocultação que a gente descobre que por cá se faz a respeito das contas, dos extravios, das justiças pouco fiáveis, das negociatas efectuadas em jantaradas, dos cambalachos igualmente lá tratados, bem como por via telefónica, etc, etc, eu criei o título acima e exclamei, feliz:
- É bonito!
Mas a minha amiga não é de meias medidas para me deitar abaixo o moral e impôs outro título segundo ela mais expressivo:
- A “face oculta” ainda fica melhor.
E ei-la largada a narrar das suas recentes audições televisivas, que muitas vezes ouço mas de costas voltadas, mergulhada que estou nos meus lavores escritos:
-“Só ouvi foi o nosso amigo Paulo Portas sobre aquilo que eu ainda há dias disse – e eu fui testemunha disso – “Acabem com as discussões, reunam-se para resolver os graves problemas nacionais”. Eu costumo dizer: Apareça uma Junta de Salvação Nacional, acabem com as discussões, juntem-se para fazer obras...
Mas eu pus em dúvida que a Junta conseguisse eficácia. Depende do povo e o povo está-se nas tintas para os problemas da Nação, vai desatar a fazer greves, e assim destruir mais um pedaço dela.
- De facto, está toda a gente a fazer manifestações. Já estão marcadas. Não viu a de ontem, dos carrocéis?
Não tinha visto mas ouvira de costas, na minha tarefa de obreira cumpridora, e a minha amiga logo me censurou a falta de curiosidade, que aquilo até fora imponente, com tanto camião e montes de autocarros, a impedir o trânsito...
- Ora! As manifestações são todas parecidas.
- Um dos camiões até dizia: “Salazar volta! Estás perdoado!”
- Coitado dele, se voltasse! Já não conseguia domar. A insubordinação é geral. E seria atropelado por esse mesmo camião que perdoa.
- Já viu as cruzes vermelhas sobre as autoestradas que estavam em projecto? Mas o TGV vai para a frente e o aeroporto também.
- Vai mesmo? Quem os pagará?
- Foi o que eu li. Mas a gente há muito tempo está a ver exactamente o contrário. Tanta gente despedida dos empregos! E vai haver mais! Isso é de um pavor! Outra coisa que todos dizem é que é preciso modificar a Justiça. Mas então ninguém pode fazer nada? A Justiça é a coisa principal. Um país economicamente em baixo é uma grande desgraça. Mas um país onde a Justiça não funciona é o quê? Não é país.
As ilações que a minha amiga faz! Fico esmorecida.
Mas de repente o rosto ilumina-se-lhe, radiante. Tratava-se de uma bolsa que a Gulbenkian pagou a um cientista americano que casou com uma cientista portuguesa e estão cá a trabalhar num projecto sobre o cérebro. A Fundação está apetrechada do melhor. É a Leonor Beleza que a dirige por indicação de Champalimaud, antes de morrer.
- Lembro-me disso.
- Champalimaud foi um homem fantástico! Deixou uma família rica e deixou uma Fundação com muito dinheiro. O tal cientista americano diz-se muito feliz. A bolsa dele é de 2,3 milhões de euros. É a bolsa mais avultada que deram até hoje.
A minha amiga não pode ocultar o seu fascínio pelas notas, já que o metal sonante foi escandalosamente desvalorizado há muito tempo. Também a mim me fascinam as notas, mas disfarço como a raposa a respeito das uvas altas na parreira.
Não nos sentimos, porém, solitárias na questão. Muita gente tratou desse assunto, até o nosso nobre e experiente Camões que, todavia, nos condenaria a pretexto de que o dinheiro “Faz traidores e falsos os amigos”. Eu cá por mim, mais actualizada, acho que bem pelo contrário, ele faz dos “amigos falsos e traidores” amigos sinceros e bons servidores.
Daí o meu título “À porta secreta”, ou também o da minha amiga “A Face Oculta”, concedo com amizade.
- É bonito!
Mas a minha amiga não é de meias medidas para me deitar abaixo o moral e impôs outro título segundo ela mais expressivo:
- A “face oculta” ainda fica melhor.
E ei-la largada a narrar das suas recentes audições televisivas, que muitas vezes ouço mas de costas voltadas, mergulhada que estou nos meus lavores escritos:
-“Só ouvi foi o nosso amigo Paulo Portas sobre aquilo que eu ainda há dias disse – e eu fui testemunha disso – “Acabem com as discussões, reunam-se para resolver os graves problemas nacionais”. Eu costumo dizer: Apareça uma Junta de Salvação Nacional, acabem com as discussões, juntem-se para fazer obras...
Mas eu pus em dúvida que a Junta conseguisse eficácia. Depende do povo e o povo está-se nas tintas para os problemas da Nação, vai desatar a fazer greves, e assim destruir mais um pedaço dela.
- De facto, está toda a gente a fazer manifestações. Já estão marcadas. Não viu a de ontem, dos carrocéis?
Não tinha visto mas ouvira de costas, na minha tarefa de obreira cumpridora, e a minha amiga logo me censurou a falta de curiosidade, que aquilo até fora imponente, com tanto camião e montes de autocarros, a impedir o trânsito...
- Ora! As manifestações são todas parecidas.
- Um dos camiões até dizia: “Salazar volta! Estás perdoado!”
- Coitado dele, se voltasse! Já não conseguia domar. A insubordinação é geral. E seria atropelado por esse mesmo camião que perdoa.
- Já viu as cruzes vermelhas sobre as autoestradas que estavam em projecto? Mas o TGV vai para a frente e o aeroporto também.
- Vai mesmo? Quem os pagará?
- Foi o que eu li. Mas a gente há muito tempo está a ver exactamente o contrário. Tanta gente despedida dos empregos! E vai haver mais! Isso é de um pavor! Outra coisa que todos dizem é que é preciso modificar a Justiça. Mas então ninguém pode fazer nada? A Justiça é a coisa principal. Um país economicamente em baixo é uma grande desgraça. Mas um país onde a Justiça não funciona é o quê? Não é país.
As ilações que a minha amiga faz! Fico esmorecida.
Mas de repente o rosto ilumina-se-lhe, radiante. Tratava-se de uma bolsa que a Gulbenkian pagou a um cientista americano que casou com uma cientista portuguesa e estão cá a trabalhar num projecto sobre o cérebro. A Fundação está apetrechada do melhor. É a Leonor Beleza que a dirige por indicação de Champalimaud, antes de morrer.
- Lembro-me disso.
- Champalimaud foi um homem fantástico! Deixou uma família rica e deixou uma Fundação com muito dinheiro. O tal cientista americano diz-se muito feliz. A bolsa dele é de 2,3 milhões de euros. É a bolsa mais avultada que deram até hoje.
A minha amiga não pode ocultar o seu fascínio pelas notas, já que o metal sonante foi escandalosamente desvalorizado há muito tempo. Também a mim me fascinam as notas, mas disfarço como a raposa a respeito das uvas altas na parreira.
Não nos sentimos, porém, solitárias na questão. Muita gente tratou desse assunto, até o nosso nobre e experiente Camões que, todavia, nos condenaria a pretexto de que o dinheiro “Faz traidores e falsos os amigos”. Eu cá por mim, mais actualizada, acho que bem pelo contrário, ele faz dos “amigos falsos e traidores” amigos sinceros e bons servidores.
Daí o meu título “À porta secreta”, ou também o da minha amiga “A Face Oculta”, concedo com amizade.
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